Almoço no Porto

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Estamos andando pela rua do porto. Para mim esse lugar tem uma beleza singular, com seus grandes prédios, que se misturam com pequenos bistrôs, como o Roger's, e sua calçada de paralelepípedos. É simplesmente linda. Já ouvi, nas aulas de história, que nossa cidade, Roses, um dia já foi muito importante para o antigo país, os Estados Unidos, mas naquele tempo Roses se chamava New York, e era um dos centros financeiros mais importantes do país. Ouvi dizer também, que ali, na entrada do porto, em um lugar que se chamava Liberty Island, havia uma grande estátua, a qual chamavam de Estátua da Liberdade, e foi um presente dos franceses. Essa estátua foi destruída ainda na Terceira Guerra Mundial. Queria a ter conhecido antes, acredito que fosse bonita.

Josh me olha com um sorriso intrigado.

-No que você está pensando assim, tão distante? -Me pergunta ele.

-Estava pensando no antigo país. Acho que era bom viver naquela época. Eles tinham tantas coisas que não temos hoje.

-O quê, por exemplo? -Josh me parece interessado. Gosto quando ele me dá atenção assim.

-Uma sociedade sem castas. Cada um podia escolher a sua profissão, e se dar bem nela. Eles votavam para escolher os seus governantes, que eles chamavam de presidentes, e cada um deles só podia governar por, no máximo, oito anos, e depois tinham que ser substituídos por outro. Acho muito justo esse tipo de democracia.

-É verdade. Eu também acho justo.

Eu sorrio. Josh sorri em resposta.

-Chegamos, senhorita. -Josh diz, quando paramos bem em frente ao Roger's.

Parece que Roger, o dono do estabelecimento, andou fazendo algumas reformas por aqui. As paredes ganharam um tom mais creme, e os estofados das cadeiras estão em um tom mais amendoado. Ficou bonito e mais sofisticado do que era antes.

-Vamos sentar aqui? Gosto desse lugar, perto das janelas. -Sugiro.

-Vamos, claro. Também gosto dessa mesa. -Josh concorda, enquanto sentamos.- E então, o que vai pedir?

-Quero aquela salada grega. É tão boa!
-Não sei como alguém pode gostar dessa salada: alface, palmito e umas azeitonas sem graça em palitos de dente.

Começo a rir.

-Não sei como alguém pode comer tanto como você e não virar um elefante: três pedaços de lasanha à bolonhesa, dois kibes, um medalhão com queijo mussarela e ainda dois copos de refrigerante para acompanhar. É muito para uma só pessoa, em um só almoço!

-Ah! Eu estava faminto no dia em que comi tudo isso!

-Então não vai comer tanto hoje?
-Pensando bem, acho que vou. Você até me disse exatamente o que pedir. Não poderei resistir.

-Josh!

Caímos em gargalhadas.
O almoço logo chega e comemos tudo, entre piadas sobre o garçom e a senhora com jeito esnobe, na mesa ao lado.

Depois do almoço caminhamos até a grade do porto, que separa a calçada do rio. Josh me olha com interesse.

-Kriss, como se sente hoje. Melhor do que ontem?

-Sim, estou melhor. Ainda me sinto destruída e rejeitada, mas acho que estou conseguindo ser forte. -Ainda me surpreendo com a maneira com que consigo ser tão sincera com Josh.

-E como se sente em relação ao rei Maxon?

Sinto meus olhos se umedecerem.

-Essa ferida ainda demorará para começar a cicatrizar. Temo nunca conseguir esquecê-lo. Creio que nunca conseguirei.

Algo parecido com medo passa pelo rosto de Josh. Mas medo de quê?

-É bom que comece a tentar recomeçar a sua vida. Não pode ficar presa a seleção para sempre.

-Eu sei disso. Mas é muito difícil. Eu ainda o amo. Muito.

-Tente esquecê-lo.

Não consigo mais conter as lágrimas.

-Me ajude, por favor.

Josh me olha intensamente. Seu rosto se aproxima do meu. Posso ver cada desenho de sua íris. Parece com o movimento que Maxon fazia para me beijar. Ele levanta as mãos e as coloca em meu rosto, e então, com o os dedos indicadores, limpa duas lágrimas que escorriam. Tira as suas mãos e se afasta.

-Eu ajudarei. -Diz, com a voz rouca.

Me assustei com o que aconteceu.

-Vamos, Krissin. Vou levá-la para sua casa.

Desta vez eu não sorrio com a pronúncia de meu apelido. Estou muito aturdida para isso.

O caminho até a minha casa é tranquilo, e conversamos sobre coisas sem importância, ainda assim, o clima daquele momento no porto paira entre nós. Aquilo foi estranho.

Chegamos e Josh se despede de mim. Entro, cumprimento meus pais e logo subo para o meu quarto. Tento me concentrar em preencher a inscrição para a faculdade de jornalismo, porém minha mente é constantemente levada para aquele momento entre eu e Josh, no porto. O que foi aquilo? Tento me distrair com a leitura de um livro, mas meu cérebro lateja os olhos de Josh, me fitando intensamente.

Tomo um banho e me preparo para o jantar. Desço as escadas, me sento à mesa e como, conversando com meu pais sobre a faculdade que pretendo cursar. Eles me apoiam na escolha.

Após o jantar, subo as escadas de volta para o meu quarto, e novamente viajo para o porto. O que aconteceu ali? Será que...? Não! Josh é somente meu amigo, e ele sabe disso.
Deito-me e logo adormeço.

A FinalistaWhere stories live. Discover now