Fim da Oito

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Acordo com a voz de Molly, vinda do corredor.

-Kriss, você tem um telefonema! -Diz de maneira afetada.

-Hum? -Respondo ainda com metade de meu cérebro adormecido. Essa é uma das minhas "más qualidades": dormir demasiadamente.

-Kriss, o Josh está no telefone. Ele disse que quer falar com você.

A pronúncia do nome dele, não sei de que maneira, me acorda completamente. Pulo da cama. O que ele está fazendo comigo? Josh deve ter feito algum tipo de simpatia ou mandinga. Não é possível! Estou agindo irracionalmente!

-Já estou indo! Só um segundo! -Grito.
Ouço uma risada abafada do outro lado da porta. Molly!

Abro a porta. Sorrio para a figura bondosa do outro lado do batente.

-Bom dia, Molly!

-Sei que o seu dia já está começando bem, mocinha.

Sorrio novamente, porém ruborizada. Desço as escadas e caminho até a sala. Vou diretamente à mesa do telefone.

-Alô! -Atendo.

-Bom dia, Krissin! -Ouço a voz de Josh do outro lado da linha. Ele parece diferente: mais forte, decidido e, por mais que eu não queira admitir, sedutor.

Solto uma risada expirada.

-Bom dia, Josh!

É bom estar novamente me sentindo calma ao falar com ele. Não sei o que houve comigo ontem. Eu nunca gaguejo!

-Como vai? -Indaga ele.

-Vou bem. Um pouco cansada, mas bem.

-Hm... Que bom. Gosto que se sinta bem.

-Eu... ãh... eu também... ãh... gosto que você se sinta bem. -Droga!

Gaguejar de novo não!
Ele ri maliciosamente.

-Já que você gosta de me ver bem... Eu ficaria muito melhor se você aceitasse sair comigo hoje à noite. Nada de mais, é só um aniversário de um dos meus primos, mas eu gostaria que você fosse. Me sinto melhor quando estou com você.

-Eu... ãh... claro! Eu vou! -Tento usar um tom de determinação.

-Ótimo! Passo para te buscar às sete.

-Combinado!

-Então ok! Até mais, Krissin!

-Até, Josh!

-Ah e, Kriss... À propósito: sua voz fica linda quando você acaba de acordar.

-Ãh... -Sorrio sem graça. -Obrigada.
Josh sorri satisfeito.

-Tchau! -Se despede e desliga o telefone.

Coloco o telefone em sua base. Olho para as minhas mãos. Estou tremendo?! Oh, era só o que me faltava!

Tenho que agir normalmente, afinal não está acontecendo nada de mais. Ah, não devo me enganar! É claro que está acontecendo algo!

Ando calmamente até a sala de jantar e então caminho até me sentar à mesa.

-Bom dia, florzinha. -Cumprimenta-me meu pai, levantando os olhos de seu jornal.

-Bom dia, pai. Onde está a mamãe?

-Fez questão de hoje fazer uma receita nova de rosquinhas que aprendeu. Está na cozinha. Até agora nenhuma parte da casa explodiu. -Brinca.
Dou uma olhada desconfiada em direção à cozinha e, quando volto a olhar para o meu pai, me deparo com uma grande manchete na primeira página do jornal: "Fim da Oito", e logo abaixo "Rei Maxon decreta o fim da Casta Oito - Leia mais na página 15." Minha boca se abre em um grande "O". O fim de uma casta? Não posso acreditar! É muito bom para ser verdade. Conseguimos o que lutamos por anos!

-Com licença, pai. -Digo, já retirando o jornal de suas mãos. Ele está aberto justamente na página quinze. Então era isso que o meu pai lia tão absortamente. Leio engolindo cada palavra.

"O Rei Maxon decreta, nesta manhã de terça-feira, o fim da Casta Oito. A fim de manter estável a econômia do país, o rei conclui a construção de trezentos e vinte edíficios habitacionais, voltados exclusivamente para abrigar os pertencentes da casta em questão. Vagas de trabalho estão sendo oferecidas em departamentos públicos e grandes empresas privadas.

-É inaceitável que cidadãos illéanos vivam em condições tão precárias! A eliminação da Casta Oito visa o bem estar de toda a sociedade, e restabelecer o direito dos moradores de rua como cidadãos de Illéa. -Declarou o rei.

-Todos os illéanos tem direito a alimentação e moradia digna. São necessidades básicas que não podem ser negadas a nenhum deles. Somos pela igualdade social, independentemente da casta de nascimento. -Completou a Rainha America.

Cremos que mais mudanças estão por vir. Esse novo casal traz revoluções importantes para o nosso país."

Rainha America. "Esse novo casal". Acho que o suco não me caiu bem. Sinto ânsia de vômito. Levanto-me da mesa. Pretendo correr até o lavabo, porém não tenho tempo. Regurgito no chão.

-Kriss?! -Ouço a voz desesperada de meu pai.

Sinto-me zonza. Perco os sentidos.

A FinalistaWhere stories live. Discover now