Capítulo 1 - Despedidas nunca são fáceis

4.3K 284 26
                                    

Três meses depois.

Faltavam apenas duas horas para meu voo à São Francisco e eu ainda estava servindo mesas, tirando gordura do fogão e lavando pratos. Se nos próximos quinze minutos o movimento da lanchonete não diminuísse, eu provavelmente o perderia. E, mesmo sendo o que eu queria, não adiantava de nada, uma vez que meu pai me buscaria ele mesmo.

— A mesa sete está reclamando a demora, Whitford! – Sarah gritou, fazendo-me desconectar de meus pensamentos e voltar para a realidade, onde eu era apenas uma garçonete servindo mesas.

— Eu já estou indo, Sarah! – suspirei e saí da cozinha para ir servir à mesa.

Os benefícios de ter um metro e cinquenta e sete centímetros de altura incluíam facilidade de ultrapassar ambientes lotados, como aquela massa de clientes esfomeados, por exemplo.

— Aqui, desculpe a demora – entreguei o lanche e voltei à cozinha. — Eu gostaria de saber o porquê dessa lanchonete ser praticamente um deserto quando não tenho compromisso algum e se parecer bastante com a Times Square no ano novo quando eu preciso muito ir embora cedo – reclamei para Sally, que, além de melhor amiga, era minha colega de trabalho.

— Do que você está reclamando? Foi você quem falou que iria trabalhar hoje, eu avisei para não vir, mas você nunca me escuta!– respondeu, desviando sua atenção dos pratos e olhando para mim, de modo que pude perceber, mais uma vez, o quanto ela era linda.

Sally era a personificação das modelos europeias: um e setenta e cinco de altura, cabelos longos e ruivos, um corpo sem gordura alguma e um par de olhos verdes brilhantes. Com aquela aparência e carisma ela merecia sair daquela lanchonete e ir direto para os outdoors mundiais.

— Eu não imaginei que iria estar tão lotado assim, por Zeus! Esse lugar é praticamente um deserto na maior parte do tempo – falei e ela sabia que era verdade.

Ela voltou a prestar atenção à louça e me respondeu de costas.

— Vai ver eles só estão querendo te ver uma última vez – murmurou tão baixo que imaginei estar ouvindo coisas. — Metade dessa cidade te conhece, e não é só porque você trabalhava em uns três lugares diferentes, mas porque você também é o motivo de reconhecimento daqui.

— Não viaja, eles nem sabem quem eu sou – bufei, revirando os olhos. — Além do quê, eu só disse para algumas pessoas que eu estava indo embora.

— Claro que sabem! Ou existe outra Brise Whitford, campeã regional e estadual de patinação artística no gelo que eu não saiba? – perguntou retoricamente — Você é a celebridade dessa cidade, uma moradora local que ao ganhar uma medalha, gerou um destaque para uma cidadezinha pacata do interior do Alasca. — concluiu seu monólogo.

— Por favor, não venha com isso de novo.

Sally não disse nada, mas eu tinha quase certeza que ela estava resmungando em francês.

Servi mais algumas mesas e quando o movimento havia diminuído consideravelmente, voltei para a cozinha deixando Sarah sozinha. Ao abrir a porta que dava para a cozinha, deparei-me com Sr. Mitchell, Sally e Ted me esperando sentados nos bancos de acrílico da cozinha. Meu chefe se levantou e teve seu ato reproduzido pelos meus dois colegas de trabalho que estavam presentes.

— Você já pode ir, Brise – meu agora antigo chefe falou, colocando uma de suas mãos no meu ombro.

Mordi os lábios e me proibi chorar na frente deles. Assenti com a cabeça, mas não pude conter minhas emoções e pulei no pescoço do Sr. Mitchell, dando-lhe um abraço apertado.

Por trás do gelo [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora