Tentando ignorar o frio e o fato de estar sentada a pouquíssimos metros de uma queda totalmente fatal, eu estava completa e incrivelmente extasiada com a vista da Golden Gate.
Eram tantos arranha-céus iluminados que pareciam uma representação gigantesca de centenas de árvores de natal. Mesmo as duas da madrugada, ainda havia um certo fluxo de automóveis sobre a ponte, fazendo meu coração bater rápido toda vez que um carro passava ao nosso lado.
Goku estava feliz deixando sua marca em praticamente todos os postes daquele perímetro e, quando chegou próximo à nós, grudei em seu pescoço e não o larguei. Estava fazendo frio e eu não era obrigada a congelar só porque Apolo não se deu ao trabalho de avisar-me para pegar uma blusa de frio ou algo do tipo.
— Eles estão certos, Whitford – levei um susto quando Apolo falou e virei o pescoço para observá-lo. — Você foi ótima hoje, mesmo tendo sido raptada por imbecis. Desculpe por isso.
Eu fiz uma careta. Por que diabos ele estava me pedindo desculpas se quem me sequestrou foi o pessoal de outra escola? Que culpa que ele tinha?
— Se você pedir desculpas de novo, eu juro que te jogo daqui e digo que você estava bêbado quando pulou – falei séria.
Ele riu, tipo, riu de verdade. Expondo as ruguinhas das maçãs do seu rosto, espremendo os olhos com as bochechas e tudo mais. Como uma pessoa normal.
— Boa sorte com isso – falou. — Eu não bebo.
— Sério? – perguntei e Apolo assentiu. — Por que não?
— Minha avó morreu por conta de um motorista bêbado que invadiu a pista – respondeu, impassível. — Eu estava no carro e nunca mais bebi.
— Eu não sei o que dizer – encolhi os ombros. — Mas sinto muito, muito mesmo.
— Tudo bem – Apolo deu um meio sorriso. — Obrigado.
O Maddox ficou mudo e eu fiz o mesmo, voltando a analisar o mar sob nós e alguns helicópteros que vez ou outra passavam sobre nossas cabeças.
Disfarçadamente, comecei a analisa-lo. Ele estava com as costas apoiadas em uma das inúmeras barras da ponte e encarava o nada pensativo. Respirei fundo antes de começar a falar, não porque eu me sentia obrigada a isso, mas porque o momento era propício e eu sentia um laço de confiança sendo construído entre mim e ele.
— Eles não sabem ao certo quando começou, mas provavelmente foi a partir dos seis anos – Maddox tirou sua atenção da própria cabeça e voltou-se para mim, no compasso em que eu desviei o olhar para qualquer lugar que não fosse seus olhos. — Eu não me lembro se houve penetração, mas o meu psiquiatra disse que é normal não me lembrar dos detalhes, porque meu cérebro havia engolido todas essas lembranças tenebrosas para meu próprio bem – uma balsa cheia de lixo estava passando sob a ponte, por sorte o odor não estava tão intenso devido a diferença de altura entre nós, mas mesmo assim fiquei encarando-a, tentando manter a linha de raciocínio. — Minha mãe casou com Edgar quando eu tinha quase cinco anos, meu avô não me disse, mas eu sei que eu costumava adora-lo. Enquanto ele ainda namorava minha mãe, eu ganhava presentes quase todas as vezes que ele nos visitava e eu acabei me apegando a ele como qualquer criança carente de amor paternal faria.
'Tanto que meu avô só começou a desconfiar de que algo estava errado quando eu tinha quase oito anos, e isso só porque eu sempre enrolava a ir para casa quando eu estava em seu lar. Com oito comecei a ser agressiva e a ter hematomas no abdômen e na virilha, foi aí que vovô decidiu aparecer de surpresa na minha casa. Quando ele chegou, Edgar estava se masturbando enquanto eu estava nua na cama. – fechei os olhos tentando controlar a respiração. Aquele era um assunto delicado para mim e eu não costumava sair falando por aí. — É irônico o fato da pior noite da minha vida ter sido a que me libertou de tudo. Meu avô pulou em cima de Edgar e os dois começaram a brigar, Art tratou de me cobrir e levar para longe. Ele me disse que tudo ia ficar bem e ligou para a polícia, o que aconteceu depois são só lembranças borradas de quartos de hospital.'
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Por trás do gelo [Em revisão]
Ficção AdolescentePLÁGIO É CRIME! Independentemente da sua idade, é um ato totalmente desprezível e ilegal. Dê orgulho a si mesmo e tenha criatividade! É de conhecimento universal que eu odeio mudanças. No entanto, aparentemente tal conhecimento não estendia-se até...