Capítulo 27 - Dando o sangue

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A partir do momento em que comecei a conviver com minha madrasta, percebi que ela não era normal.

Sua alma era de uma jovem de dezoito anos com a sabedoria de uma de trinta. Isso se estendia até ao meu pai, que toda vez em que estava ao seu lado, parecia que estava descobrindo o amor pela primeira vez.

Enquanto ela fazia panquecas de manhã e contava como o tribunal iria estar um caos, eu sentia um desconforto enorme no estômago por tê-la julgado como a madrasta da Cinderela.

No fundo, eu queria acreditar nisso, já que seria mais uma coisa a acrescentar à minha lista de razões pelas quais meu pai estragou a minha vida ao me trazer até à Califórnia. Ter uma madrasta má e as meias irmãs vacas.

Pelo modo que Sol me olhava enquanto comia suas próprias panquecas, era nítido que ela queria me perguntar alguma coisa, então, depois que eu a mandei ir em frente, todo o café que eu bebia saiu pela minha boca.

- Brise e Apolo na piscina, - Ela começou a cantarolar. - trocando carícias de amor.

Me limpei com papel toalha antes de encara-la, pasma e chocada. Eu deveria estar vermelha também, uma vez que me sentia extremamente quente.

- Como você sabe? - O brilho de excitação nos seus olhos me fez perceber o que eu acabara de dizer. - Digo, não sei de onde você tira essas coisas. Era um jogo, fazia parte dele.

Ah, certo, eu não conseguia convencer nem a mim mesma, quem dirá uma juíza de sucesso.

- Já ouviu dizer que os olhos são a janela para a alma? - Sol sorriu. - E a janela da cozinha é de vidro, eu conseguia vê-los na piscina daqui.

Enterrei minha cabeça nas mãos. Céus, já não me bastava Vovô, agora minha madrasta também?

- Você sabia que seu pai conta tudo para mim e eu a ele? - Sua mudança brusca de assunto me fez levantar a cabeça para encara-la. - Quando ele me disse que fizera os meus meninos prometerem que não se envolveriam com você, eu ri da cara dele e disse que quando duas almas estão conectadas, não há promessa que sobreviva. Sabe o que ele respondeu?

De repente, tudo começou a fazer sentido. O jeito desconfortável de Valentim sempre que tocávamos no nosso beijo ou como Apolo ficava sempre que estava na minha presença e na do meu pai.

As razões para que ele não tenha me beijado no Ernandes me afiguram como uma bola de neve na cara. O motivo pelo qual Apolo sempre parecia receoso em me beijar era porque meu pai era um grande protetor pé no saco!

Inacreditável, ele passa a minha vida inteira ausente e quer simplesmente marcar território? Era dessa forma que ele pretendia reconquistar o meu afeto?

- Ele me disse: mas ela é a minha filhota! - Meus pensamentos foram quebrados assim que Sol voltou a falar. - Sabe, querida, quando vocês nascem, nós não recebemos um manual para lidar com nossos filhos. Agimos por instinto, não erramos por mal, erramos por amarmos e acharmos estar fazendo o melhor. O seu pai te ama mais do que tudo na vida, Brise, ele só não sabe como demonstrar isso de uma forma que você não o repila.

- Demonstrar amor por meio de opressão não é amor. - Resmunguei.

Minha madrasta me olhou com ternura.

- Ele só estava se certificando que você não iria se machucar. A culpa pesa, e ele já carrega muita dentro de si.

Imediatamente entendi o que ela quis dizer. No entanto, eu não fazia ideia de como reagir, já que nunca me passou pela cabeça que meu pai se sentisse culpado pelos abusos que sofri na infância.

Por trás do gelo [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora