Capítulo 18 - Por um bem maior

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Nos filmes românticos recheados de clichê que são produzidos em massa desde a invenção das fitas cassetes, quando a mocinha estava em perigo e o seu par romântico – aquele que ela odiava até a metade do filme – aparecia por mágica no clímax da cena e a salvava, já sabemos que o filme está em seus minutos finais. E, como toda obra hollywoodiana, acabaria com beijos quentes e promessas de amor eterno.

Não foi isso que me aconteceu.

Quero dizer, não que eu estivesse esperando um beijo do meu quase meio irmão, não, eca! Mas eu era praticamente a mocinha da minha própria vida e isso era um saco.

A verdade foi que no primeiro segundo após Apolo fechar a porta de madeira escura do apartamento do décimo andar, eu caí no choro e fiquei com o nariz entupido e vermelho.

Os vinte minutos que se seguiram foram preenchidos por uma pequena crise da minha parte, o que levou Apolo a intervir – por empatia ou pena. Cuidadosamente, ele sugeriu que eu tomasse banho, oferecendo ainda suas roupas para mim. Eu não queria aceitar, juro, mas olhar para aquela roupa que eu usava, era sentir as mãos nojentas do barmen sobre mim. Por fim, eu entrei no chuveiro.

Devo dizer que não foi uma decisão muito sustentável, uma vez que passei quase uma hora debaixo da água. Só saí do meu casulo quente e reconfortante depois de ter sido atingida pela minha consciência ambiental. Que tipo de pessoa eu seria se apesar dos milhares de compartilhamentos do Greenpeace no Facebook, eu continuava a tomar banhos que utilizavam milhares de litros de água?

Com a toalha enrolada no corpo, fiquei penteando meu cabelo. Ele estava cheirando ao cabelo de Apolo e não tinha reclamação alguma quanto a isso – o cabelo dele era realmente muito cheiroso. As roupas que Maddox trouxe para mim ficaram enormes no meu corpo, mesmo que ele tenha pagado as menores que tinha. Fui obrigada a amarrar a barra da camiseta e a enrolar um cadarço em volta da cintura, para que dessa forma a calça não fosse parar no chão enquanto eu andava.

Assim que me dei por satisfeita, saí do banheiro rumo ao dono do mesmo.

Passei por três portas ao longo do corredor até encontrar a sala, onde meu anfitrião estava sentado de cócoras assistindo à tv. De onde eu estava, eu tinha a visão perfeita de suas costas desnudas.

Se o paraíso existia mesmo, olhar para o Maddox daquela forma e daquele ângulo era o caminho mais fácil de chegar até ele. Era tudo em seu lugar, musculoso na medida certa e finalizado com uma tatuagem enorme. Aparentemente tratava-se de um dragão, onde de uma ponta à outra de seu corpo, logo abaixo, ficava uma frase. Infelizmente, dali, eu não saberia dizer o que significava.

Dei a volta no sofá o mais silenciosamente possível, o que significava que de alguma forma, eu tropecei, caindo no chão e chamando atenção.

O Maddox abaixou o volume da televisão e dobrou o tronco para conversar melhor comigo.

— Eu pedi pizza e tem suco na geladeira, pega lá – ele disse tão leve e tão natural que fiquei pensando se ele não se lembrava dos acontecimentos mais recentes.

De volta à sala, sentei no chão ao seu lado. Abri a caixa e senti o delicioso aroma da pizza vegetariana e de marguerita, tive que controlar o impulso de atacar a caixa toda eu mesma. Observei que Apolo teve a delicadeza de não pedir nenhum sabor derivado da carne e, internamente, me senti péssima por desconfiar dele por alguns segundos.

Fiquei comendo e olhando vagamente para a televisão por dez minutos, até que Apolo limpou as mãos na sua calça de moletom e falou comigo.

— Como você está?

Era meio óbvia, mas achei atencioso demais da sua parte para responder com sarcasmo ou ironia.

— Melhor, obrigada – eu tinha certeza que teria pesadelos à noite, mas para isso havia uma solução: remédios para dormir. — Por tudo, não só por me trazer até aqui, mas por respeitar a minha vontade de não falar para os outros.

Por trás do gelo [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora