O relógio despertou escandaloso e irritante àquela maldita hora da manhã. Abri os olhos, percebendo que não, eu não me livraria da ressaca que cobria todo meu corpo e me fazia querer se arrastar por cima das meninas e jogar minha cabeça contra a parede quantas vezes fosse necessário para ela parar de doer.
- Merda! – exclamei baixo, ouvindo um zunido estranho nos ouvidos.
Maya gemeu ao meu lado e eu a empurrei com os pés.
- Que dia é hoje? – me perguntei confusa – Que dia é hoje?
- Desligue a merda desse seu celular, Audrey! É sábado, pelo amor de Deus! – exclamou Vivian sem abrir os olhos, jogando o travesseiro sobre a cabeça e tapando os ouvidos.
Estávamos todas deitadas sobre a cama de casal de Vivian, que mais parecia um ninho horrendo de galinha.
Olhei para o teto e massageei as têmporas. Sábado... Era sábado.
- Meu Deus! – me sentei rapidamente, vendo o quarto rodar como aqueles brinquedos infernais de um parque de diversão, que nos faz vomitar loucamente após uma volta.
- O que foi agora?! – perguntou Vivian me olhando com o rosto inchado e os olhos pequenos de sono e bebedeira. Ressaca múltipla – Quando vai desligar essa droga de música e voltar a deitar e me deixar em paz?!
Me levantei sem prestar muita atenção no que ela disse e corri até o celular. Meu cabelo grudava medonho contra meu rosto amassado, minha camisa estava com quatro botões abertos e um deles havia sumido. Resmunguei, lembrando do preço que eu havia pago para ter aquele pedaço de pano. A saia estava amassada ao extremo, como se houvesse acabado de sair da maquina de lavar.
Desliguei o despertador e olhei as horas.
- Onze horas... onze horas! – exclamei.
- Que merda Audrey! Pare de querer controlar até as horas! Se não vai dormir, nos deixe dormir! Nem todo mundo se recupera tão fácil de uma bebedeira – Maya se sentou, aparentemente irritada e me fuzilou com o olhar – Eu-quero-dormir!
- Eu tenho que ir embora – murmurei mais do que irritada com aquela situação que saia do meu controle – tenho que estar em meu apartamento ao meio dia.
- Porque? – perguntou Vivian num resmungo.
- Uma entrega – bati na cabeça, querendo que a dor passasse.
- Que entrega? – perguntou Maya se jogando novamente no colchão.
- Um cachorro – abri a cortina e senti o sol arder contra os olhos. Xinguei alto. A maldita dor de cabeça aumentou.
- Um cachorro?
Silencio.
- É. Um cachorro – confirmei – uma mulher no meu departamento estava desesperada para se livrar dos filhotes de cachorro que...
- Não precisa contar toda a história – interrompeu Vivian se sentando com uma careta – Porque você quer um cachorro?
- Eu não quero. Só estou fazendo uma boa ação – respondi procurando minha bolsa e meus sapatos.
- Isso parece coisa de tiazona. Você já é virgem, Audrey, não precisa de um cachorro para ajudar em seu status de solteirona.
- Eu tenho que ir embora – voltei a dizer, calmamente, me ajoelhando para olhar embaixo da cama – Cadê meus sapatos?
- Eu vou junto – Vivian se levantou um pouco tonta e franziu o cenho, tapando os olhos da luz entrava pela janeira.
- Não precisa... – me levantei e arrumei a saia secretária – É só um...