Fui me deitar com a cabeça fervilhando. Eu tinha estragado tudo e agora agia como uma mocinha ultrajada, que não sabia como lidar com a própria vida.
Eu sempre me achei tão forte, tão lógica, tão confiante que, quando me deparei com problemas reais não soube como agir.
Minha vida era simples, normal. Eu tinha duas amigas maravilhosas, um apartamento, um cachorro... Quando foi que tudo começou a ir por água abaixo? Quando foi que percebi que eu precisava de alguém? Quando me permiti fazer algo tão errado e fora da minha rotina que, inevitavelmente, se tornou a atitude mais correta que tomei? Vincent...
Ele apareceu, abalou todas as minhas estruturas e eu, inexperiente e idiota, não soube como agir. Os momentos que passei ao lado dele foram os momentos mais completos da minha vida. Ninguém me proporcionava o que ele era capaz de me proporcionar... Os arrepios, o nervosismo, a alegria. Eu conseguia me fazer esquecer de tudo quando estávamos juntos, conseguia me desligar, me deixar mais leve... Mas bastava um segundo para eu encontrar uma forma de nos separar novamente. Eu corria dele, querendo me livrar do problema ao invés de conversar, de resolver, de lutar pelo que eu queria...
Eu me sentia tão estúpida. Tão imatura!
Como eu iria me aproximar deles novamente?
Como pedir perdão para Vivian e também perdoa-la?
Como eu poderia enfrentar aquilo?
Queria que tudo voltasse a ser como antes...
Melhor! Eu queria que tudo se resolvesse e melhorasse. Queria Vincent ao meu lado. Eu queria a amizade de Vivian de volta. Queria ter um relacionamento normal com o homem que eu amava. Queria poder brigar de vez em quando, me divertir, abraçar... Queria poder chorar e rir e demonstrar fraqueza de vez em quando...
Aquela situação toda era tão estúpida!
Meu quarto estava completamente escuro e o silencio me atormentava. Eram mais de duas da manhã. Eu estava me sentindo mais sozinha do que nunca e o pior era perceber que eu causei isso.
- Sua burra! – exclamei, jogando as cobertas para o lado e me levantando – Vamos Budy!
Num salto, Budy pulou da cama e me seguiu até a sala, sem saber o que ia acontecer. Eu também não sabia exatamente o que ia acontecer, mas eu estava disposta a arriscar e agir. Já estava na hora.
Um frio estranho penetrou meu estomago e me fez sorrir enquanto eu pegava a chave do carro e calçava um tênis.
No elevador, olhei para minha imagem no espelho e fiz uma careta ao ver o cabelo bagunçado e o pijama desbotado.
- Eu devia ter me trocado.
Budy, aos meus pés, me observava curioso.
- Eu estou horrível, não estou? – perguntei arrumando rapidamente o cabelo em um coque alto – Mas tudo bem... Eu acho.
As ruas estavam vazias àquela hora. Poucos carros, pouco movimento... Fazia tempo que eu não via a cidade a noite.
Dirigi durante vinte minutos tentando pensar em algo para falar e, quando estacionei em frente ao prédio de Maya, sai do carro ainda sem um discurso pronto. Talvez eu não precisasse de um discurso.
- Vamos Budy...
Meu estomago parecia um enorme cubo de gelo quando a porta do elevador se abriu no andar de Maya e eu saí para o corredor contorcendo as mãos uma na outra. Não podia ser tão difícil pedir desculpas...
Bati na porta três vezes ao invés de usar minha chave. Na quarta vez pensei que ela pudesse estar dormindo e na quinta achei que ela não estava em casa... Era melhor eu ir embora.