Marília:
Há dias procuro algum lugar para trabalhar. Não tenho nem mais um tostão - O dinheiro que me deram das obras já se esgotou. Minha mãe estava internada, precisando de uma cirurgia o mais urgente possível, mas o hospital público não conseguia realizar o procedimento.
Já fui em restaurantes, empresas, lojinhas de esquina, divulguei meu trabalho em todos os lugares. Mas não obtive nenhuma resposta.
Hoje era sexta-feira, e estou tentando minha última opção: vesti o vestido mais curto e chamativo que encontrei no meu guarda-roupa, peguei emprestado um salto alto, maquiagem pesada e cabelos soltos. Não me olhei no espelho. Me recusei.
Vejo seu retrato na parede, sorridente e inocente como um recém nascido.
- Perdoe-me, mamãe... Eu estou fazendo isso por você. Eu jurei que cuidaria de ti até que minhas forças se esgotassem, e irei cumprir, até seu último suspiro.
Abaixo minha cabeça e saio em busca de uma esquina movimentada; logo encontro.
Mulheres de um lado, homens do outro. Todos me olham com curiosidade e, por saberem que estou na mesma condição que eles, me cumprimentam. Me encosto em um dos postes pichados dali, ajeito o decote, deixando mais a mostra meus seios e escondo meu rosto com os fios loiros. Me sinto nojenta.
Me mantenho em uma posição chamativa: exibo minhas coxas e seios.
Carros passam lentamente. Meninas se oferecem em troca de miséria. Faço o mesmo. Sem vergonha, sem dignidade alguma.
Me escoro em uma das janelas do carro preto, empinando minha bunda para que os que vem atrás olhassem. Exibo meus seios e então, com a minha voz mais sexy, digo:
- O que deseja, gato? Algo aqui lhe interessa?
O homem mais velho, sorri de canto e faz um movimento com o indicador, entendo e dou uma voltinha para que ele tenha um 360° do meu corpo. Ele me pareceu gostar do que viu. Ficou babando em minha bunda e seios.
Nojo.
- Quando cobra, querida? - Ele diz.
Paro e penso. Mordo o canto do lábio tingido de vermelho e o olho por inteiro.
- Cem por hora! - Afirmo.
Ele destrava a porta e eu entro. Ele da partida e sinto suas mãos asquerosas tocarem minha coxa nua. Mantenho a postura de uma menininha experiente, vendo ele seguir o caminho do primeiro Motel da avenida.
Após chegarmos no quarto, antes que ele pudesse me tocar, lhe paro e lhe dou as ordens:
- Minha exceção é: eu não aceito beijos e lambidas. Usufrua do meu corpo como quiser diante disso.
O homem afirma e me deixa no controle. Tiro nossas roupas e, já nua, diante de seus olhos, abro o preservativo e ponho em seu membro já duro. Logo me encaixo e começo os movimentos.
Ele chupa meus seios e me dá tapas. Gemo, mas apenas para estímulo dele e para acabar logo com aquilo. Doía. Mas ignorei. Nunca me deitei com um homem, ou contrário: só havia me deitado com uma mulher na vida. A mulher que amo e que me humilhou.
Não que eu fosse uma mocinha virgem que nunca viu um pênis na vida, mas eu também nunca tinha sentido dentro de mim. Ela tirou minha virgindade, e agora, com um homem, é completamente estranho e invasivo.
Aquilo acabou, recebo meu pagamento, me limpo e ele me deixa no mesmo local onde me pegou. Ali passo a noite, fiz 800 reais. Sim, oito programas em uma noite. O dia amanheceu e eu fui ao banco, tento fazer um empréstimo para a cirurgia da minha criança, mas meu pedido é recusado por não ter renda para pagar. Implorei de todas as formas, conto minha situação, e mesmo assim não consigo.
Saio dali destroçada. Ainda com a roupa da noite anterior, vejo todos me olharem com desprezo e cobiça. Vou para casa, tomo um banho para tirar o cheiro dos perfumes que se misturaram em meu corpo, me visto e, virada de uma noite cansativa, me direciono até o hospital.
Me identifico na portaria e vou até seu quarto. Minha criança via tv, ainda ligada a vários aparelhos.
- Oi, meu amor... - Vou até ela.
- Oi, mamãe... - Disse alegre.
Suspiro e dou um beijo em sua testa, pegando sua mão.
- Eu cheguei, viu? Eu nem demorei.
Ela fez bico. Havia brigado comigo na noite passada quando eu disse que precisava ir em casa, não queria ficar só. Disse a ela que não demoraria. Precisei colocá-la para dormir para poder sair.
- Mamãe, eu não gosto disso. - Se refere ao acesso.
- Eu sei, minha criança, mas você precisa. Eu vou dar um jeito, ok? Vamos acabar com isso já já.
Ela sorriu feliz. Me deitei ali com ela após muita manha da mesma. Ela se deitou em meu peito e eu faço carinho em seus cabelos.
Acabei dormindo com ela. Meu corpo estava todo dolorido.
O horário de visita havia acabado, e eu precisava pensar em algo. Me despedi da minha criança com muita luta, saí do hospital rumo a qualquer lugar que esteja à procura de alguém. Não encontro. Passo em frente a empresa Zor. E então, já não tendo nem mais dignidade, muito menos vergonha na cara, entrei. Me direcionei até a sala dela, batendo na porta e esperando que me atenda.
Quando enfim consigo entrar, me deparo com o casal. Respirei fundo e comecei:
- Mai... Maiara, eu preciso conversar com você. - A olho desesperada.
Zor fecha a porta e senta-se quieto ali. Maiara pede para que eu prossiga e, mantendo minha postura e continuando no mesmo lugar, começo:
- Perdão vir pedir isso, mas... Eu preciso de um empréstimo. - Ouço Zor rir, ignoro e prossigo: - Eu prometo te pagar, mas eu preciso. É urgente.
- Mendonça, infelizmente eu não... - Eu a corto.
- Maiara, minha mãe está a ponto de morrer numa cama de hospital e eu preciso de trinta mil pra droga daquela cirurgia. Eu mal tenho dinheiro pra comprar um arroz. Pelo amor de Deus, me ajuda. - Entro em desespero. - Eu vou te pagando aos poucos, trabalho pra você de graça o quanto quiser. Me cobre como quiser, mas por favor, me ajude. - Começo a chorar.
- Perdão, Mendonça. Mas os seus probleminhas familiares não nos interessam. Suma daqui antes que eu chame os seguranças. - Diz Zor.
Me aproximei de Maiara, olhando-a nos olhos.
- Você me conhece, Maiara. Sabe que eu nunca faltei com a minha palavra. Eu tô te implorando. Não é por mim, é pela minha mãe...
- A D. Ruth está...
- Chega, Marília! Fora! - Zor me puxa dali.
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Um Louco | Mailila
RomanceTem um louco prezo dentro de mim Bate tanto chega a me machucar Calado, covarde, bandido Na jaula um bicho ferido...