Incomparável

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Marília:

Novamente, saio em busca de algum lugar. Pergunto e me ofereço. Nada. Cansada daquilo, me sento no meio fio sentindo a droga da chuva cair e molhar meus cabelos. Brinco com a areia molhada me lembrando de quanto tudo era tão fácil pra mim. Hoje me encontro no papel da minha mãe, fazendo de tudo para sustentá-la enquanto ela apenas vive sua vidinha.

Eu não vou desistir de nós, assim como ela não desistiu de mim!

Pego meu celular e disco o número de meu irmão, ele demora a atender.

Ligação On:

- Diga, Marília?

- João... Eu sei que não quer mais saber de nós, mas eu preciso da sua ajuda.

- Pra mim pouco importa. - Diz, tomado pela frieza.

- João, nossa mãe está no hospital, prestes a morrer. Eu não tenho um real no bolso e fui demitida. João, me ajuda. - Imploro, novamente, deixando a vergonha e o orgulho de lado.

- Eu disse não! Ela me jogou nas costas do papai e saiu por aí. Agora vocês que se virem.

- É mentira! Você sabe que isso é mentira! Ela só não tinha dinheiro para bancar nós dois. O papai tinha mais condições e ela preferiu deixar você com ele.

- Eu lhe disse pra estudar, maninha. Eu disse que viesse morar com o nosso pai e pensasse em você. Do meu dinheiro vocês não virão nem a cor.

- João, por favor... - Ele desliga.

Ligação Off.

Assim fui levando... Tinha dias que saia com dez homens diferentes. O quadro da minha mãe só piorava. Eu não tinha muito tempo. Tinha apenas cinco mil em mãos e mesmo assim precisava tirar para pagar os medicamentos e as contas. Não tava adiantando de nada.

Mais uma noite fria e eu aqui escorada nessa parede podre e com roupas vulgares. Meus olhos imploravam por pelo menos três dias de sono sem trégua... A dias não como nem durmo.

Reconheço a range rover que vem vindo lentamente, mas penso ser coisa da minha cabeça. Arrumo meu vestido e o subo ainda mais. Me sinto uma vadia. O carro para e eu me direciono até ele, me exibindo, como sempre.

Mas me deparo com a mulher que amo. Aquela que, apesar de não querer lembrar mais dela, domina a cada minuto meus pensamentos. A olhei nos olhos, me perguntando o motivo da sua vinda. Era meio óbvio.

Os meninos vieram e se escoraram na outra janela dando em cima dela. Ela me pareceu já conhecê-los. Tinha intimidade com eles e eles diziam das suas intimidades. Ela me olhava.

- Cem reais. - Digo, cansada de vê-la ali.

Ela me olhou... Olhou... Olhou e olhou. Espero por sua resposta por um tempo, mas não obtenho a mesma. Me destancio e volto a me encostar naquele poste ainda tendo seu olhar em mim e em meu corpo. Buzinou e eu a olhei.

- Entra. - Disse.

Me direciono até ela novamente e deixo claro minhas exigências. Me olha incrédula e irritada.

- Eu não sou o tipo de cliente que você...

- Pra mim você não passa de uma cliente qualquer. Esta aqui a procura da mesma coisa que todos os outros e, se pra você és tão especial desta maneira, para mim não. Estou aqui a trabalho e me recuso a abrir exceções a uma mulher que acha que poder ter o que os outros não tem. - Digo curta e grossa.

- Marília! - Me repreende. - O que deu em você? Você nunca gostou de usar esse tipo de roupa e...

- Não estou aqui porque quero, e sim porque preciso. Cada um dá aquilo que tem. Eu tenho apenas meu corpo e cá estou. Com licença.- Me retiro, indo até o carro ao lado.

Um Louco | Mailila Onde histórias criam vida. Descubra agora