Ainda existe nós

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Na manhã seguinte, fiz toda a minha rotina. Arrumei minha mãezinha e dei seu café. Logo meu tio chegou e eu saí. Quando cheguei na sua empresa, ela já estava andando de um lado para o outro, impaciente com alguém no celular. Me olhou. Eu sorrio. Ela não. Inquieta e ansiosa para lhe dar o que comprei no meio do caminho, vou até sua sala e, junto a um bilhete, deixo os bombons ali. Não assinei e espero que ela saiba que fui eu.

Saio, troco de roupa e começo meu trabalho.

- Ei? O que a chata queria ontem? - Murilo me cutuca.

A observo entrando em seu escritório e sorri.

- Sobre a obra. Ela só pediu que não fizéssemos muita...

- MARÍLIA! - A ouço gritar, cortando minha fala.

- Uh! Alguém se fodeu. - Murilo ri de mim.

Dou um tapa nele e, como um cachorrinho medroso, vou até sua sala com "os rabinhos entre as pernas". Entrei e a vi furiosa. Seus olhos saiam faíscas. A olhei, vendo os bombons em sua mão e o bilhete em outro.

- Minha Moranguinho, apenas um doce para adoçar sua manhã. Escrevo apenas para lembrá-la do meu amor por ti. Jamais se esqueça de que me tem em suas mãos. Eu te amo, minha pequenina! - Lê em voz alta meu bilhete.

- É... Achei que não saberia quem era. - Coço a nuca rindo nervosa. - Mas que bom que sabe que eu te amo pra decifrar quem enviou tão rápido.

Eu rio. Ela não. Me aproximei, mas por estar suja, não a encostei. Ela estava extremamente linda com sua calça jeans e sua blusa social. Ela estava irritada.

- Enfim, você gostou dos... - Antes que eu pudesse terminar minha frase, ela amassou o doce em suas mãos e, com extrema raiva,  jogou os restos no chão. - Mai...

Ela, olhando em meus olhos, rasgou meu bilhete e junto os restos do meu coração. Me senti horrível, enquanto em seus lábios se moldava um sorriso maldoso.

- Por que faz isso comigo, Maiara? - Digo com a voz tomada pelo choro.

- É tão difícil pra você entender, Marília?

Suspirei, negando com a cabeça. Cai de joelhos no chão escondendo meu rosto em minhas mãos, não ligando se me sujaria. Chorei e chorei. Aquilo doía tanto...

- Por gentileza, se retirei. - Ela disse fria.

- Um dia dividimos o mesmo colchão, uma vida e um só coração. Você seguiu em frente, e o meu coração ficou para trás...

A olhei. Ela estava inquieta de costas olhando pela janela. Me levantei e fui até ela. Toquei sua cintura, entrando com meu nariz por seus cabelos e sentindo seu cheiro. Ela se manteve quieta.

- Somos um ciclo já encerrado... Entenda... - Ela começou, com a voz trêmula.

- Não, não somos... Me dá mais uma chance. Só mais uma... - Digo em desespero.

- Eu não quero, Marília. Não quero voltar ao passado. Você me abandonou.

- Não... Jamais! Meu amor, eu apenas precisei tentar a vida. Infelizmente não seguimos o mesmo caminho. Me entenda, me dê uma chance de te mostrar que, mesmo sem muito a oferecer, eu lhe darei todo o meu amor.

Ela nada respondeu. Sem me conter, me dei a liberdade de descer minhas mãos para seus quadris, encaixando ela em mim perfeitamente. Vi pelo reflexo do vidro, ela fechar seus olhos.

- Não... - Disse.

- Eu sei que ainda sente. - Beijo seu pescoço. - Se entrega a mim, amor.

- Marília... - Deitou sua cabeça em meu ombro.

Um Louco | Mailila Onde histórias criam vida. Descubra agora