Ele acordou muito mal-humorado. Por mais que tentasse não conseguia deixar de pensar nas palavras ditas tão asperamente por Min Yoongi na noite anterior e isso o estava corroendo de dentro para fora. Ele vestiu sua fantasia de Papai Noel e então assumiu o seu lugar de sempre, na poltrona vermelha dentro da decoração natalina muito bem elaborada. Beber vodca as seis horas da manhã tinha sido uma péssima ideia, mas Taehyung nunca lidou bem com a rejeição. Todos os caras e garotas se jogavam aos seus pés desde sempre. Ele não estava acostumado a ser rejeitado assim descaradamente e isso feria muito o seu ego.
E ele ainda era obrigado a aturar o cretino do Yoongi durante o dia inteiro dentro do shopping.
Taehyung não era idiota e sabia muito bem porque o Min o detestava: tinha a ver com a festa temática do ensino fundamental quando sobrou os dois e Taehyung não apareceu no dia da festa, deixando o pobre Yoongi sozinho. Desde aquele dia, o Min fazia tudo o que podia para não ficar muito perto dele.
Não era o único motivo, mas sem sombra de dúvida era um dos principais motivos para justificar a intensa rivalidade entre eles.
Eles mal se falaram durante a primeira hora; focaram inteiramente nas crianças, as cumprimentando, com sorrisos e acenos. Em seguida tiravam fotos, e elas realizavam seus pedidos sendo dispensadas na sequência.
Durante uma hora e meia aproximadamente, os dois ficaram em um silêncio intimidador.
—Você está legal, Kim? Até agora não mandou tocar aquela música desgraçada do Glee. — Yoongi o fitou intrigado.
—É verdade. — Taehyung concordou pensativamente e então estalou os dedos. — Elfo, vá até o aparelho de som e coloque Jingle Bell Rocks para tocar.
Revirando os olhos completamente indignado, o Min marchou até o som e fez exatamente o que era pedido, embora quisesse profundamente bater a cara do Kim no equipamento de som, se conteve. Em seguida ele começou a realizar a dancinha ridícula que era obrigado a fazer, acenando para ninguém em especifico e girando desanimadamente balançando bem as mãos. Ele realmente detestava Kim Taehyung por obrgá-lo a trabalhar ali. Era um inferno.
Durante o horário de almoço, eles se encontraram em uma lanchonete especializada em frangos fritos apimentados. Os olhos escuros e gatunos de Yoongi o observaram com confusão, afinal desde que começou a trabalhar ali nunca vira o Kim pisar os pés no mesmo local que ele, o que significava que ele claramente o estava seguindo. Descaradamente.
—Perdeu alguma coisa aqui, Kim? Ou estava com saudade do meu rosto angelical?
Taehyung rolou os olhos, porém o seguiu até uma das mesas vazias e sentou-se de frente para ele. Os dois colocaram as bandejas com os baldes de frangos fritos e os refrigerantes sobre a mesa, encarando-se em um confronto silencioso.
—Yoongi, posso te fazer uma pergunta?
O outro arqueou a sobrancelha, desconfiado.
—Por que você não ficaria comigo?
—Puxa, você realmente não sabe lidar com uma rejeição né? Você deveria fazer terapia. — Ele começou a comer um pedaço de frango, encarando fixamente Taehyung que sustentava o olhar. — Você realmente não pode ser tão cretino a ponto de me perguntar isso, Kim, sério.
—Você não pode me odiar pelo o que aconteceu na quarta série, isso é ridículo e isso sim precisaria ser tratado em uma terapia. Deve ter outro motivo, e eu quero saber. — Dito isso, ele mergulhou um dos pedaços de frango frito dentro do molho caseiro e o levou até a boca. Ele não era muito chegado em comida apimentada, mas a daquele lugar estava uma delícia.
Yoongi terminou de mastigar seu frango e bebeu um gole do refrigerante, em seguida limpou a boca com a manga da camisa e mordendo a boca, encarou-o fixamente.
—Se você não se lembra, não espere que eu refresque a sua memória. — Disse tranquilamente, continuando a comer seu frango, encarando Taehyung intensamente.
O Kim fez uma careta, evidentemente confuso, continuando a encarar o outro. Ele realmente não fazia ideia do que poderia ter feito de tão terrível assim a ponto de ganhar a antipatia eterna do Min. Tentou buscar no seu cérebro algum vestígio do que poderia ter feito no passado mas frustrou-se ao perceber que não havia nada, nem uma única pista.
(...)
Quando Yoongi chegou em casa naquela tarde, encontrou o irmão mais novo chorando desesperadamente sentado no chão da sala. Ele fez uma careta e largou sua mochila sobre a poltrona, sentando-se no chão e abraçando o caçula.
— O que foi que aconteceu, Ji? Por que você está chorando?
—A mamãe foi embora. Ela foi morar no exterior. Ela nos abandonou, Yoongi!
O mais velho abriu e fechou a boca sem saber como reagir diante daquela informação, afinal, sabia perfeitamente como Jimin era apegado a matriarca. Ele apenas inspirou fundo e abraçou o caçula fortemente, deixando que ele chorasse completamente à vontade em seus braços.
Eles ficaram assim por algum tempo, minutos ou horas sem saber distinguir o que era fictício e o que era realidade. O céu começava a escurecer quando finalmente o mais velho conseguiu convencer Jimin a ir deitar na cama em seu próprio quarto.
Yoongi enviou uma mensagem a Namjoon explicando a razão de não ir trabalhar naquela noite e em seguida desligou o celular. Felizmente eles já eram adultos e não adolescentes, mesmo assim o abandono materno o feriu em um nível profundo demais para explicar. Tudo o que ele conseguiu desejar naquele momento era um maço de cigarro e um isqueiro para se acalmar.
Ele deixou a residência e foi até uma loja perto, comprando alguns maços de cigarro e um isqueiro, já que o seu ele aparentemente tinha perdido por aí. Em seguida ele se sentou na calçada e acendeu o cigarro, dando um demorado trago no mesmo. Yoongi continuou fumando despreocupadamente, sentado no meio fio da calçada observando os carros e as motos passarem.
—Não deveria estar no Sunshine, a essas horas, Min?
Ele revirou os olhos.
—Eu fico impressionado como você me persegue.
Taehyung abriu um sorriso mínimo e sem esperar por qualquer convite, sentou-se no meio fio, ao lado do vizinho. Percebendo isso, Yoongi estreitou os olhos.
—Kim, eu não estou com paciência para aturar você, então por favor me deixa em paz.
—Eu não estou aqui porque eu quero. Meus pais pediram para que eu viesse ver como você está.
Ah, então eles já sabiam, pensou o barman desanimadamente.
—Eu estou muitíssimo bem, como você pode ver, então pode ir embora agora e me deixar em paz.
O Kim assentiu impacientemente e se aproximou ainda mais do vizinho esquentadinho, puxando-o para si, em um abraço inesperado. Yoongi arregalou os olhos sem saber como reagir diante daquela atitude.
—Você não precisa fingir ser forte o tempo todo, Yoongi. Eu não estou aqui para te julgar e nem para implicar com você. Pode chorar se quiser.
Aquelas palavras surtiram efeito mais rápido do que o Min esperava e, de repente, viu-se chorando desesperadamente, esquecendo o cigarro e o isqueiro na calçada enquanto abraçava fortemente Taehyung e soluçava fortemente, sem compreender o porquê de sua mãe ter ido embora daquela maneira abrupta. Ele chorou e chorou desesperadamente, soluçando como nunca imaginou que fosse ser capaz de fazer e Taehyung o abraçou com força, o prensando a si, e deixando que ele chorasse descontroladamente.
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Illicit Affairs
Hayran KurguCréditos da capa: marooned (DesireDesigns) Ao ser desafiado pelo irmão mais novo a sentar no colo do papai Noel do shopping, Min Yoongi não hesita em cumprir o desafio e provar que pode ser tão atrevido quanto o caçula. É claro que se ele soubesse q...