Um dia antes do meu Aniversário

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Eu estava adormecida em meu quarto quando os gritos de meus pais me arrancaram do sono profundo. Os ecos estridentes e cheios de entusiasmo de suas vozes preenchiam o ambiente.

— Feliz aniversário! — exclamaram em uníssono.

Ainda sonolenta, abri os olhos e me deparei com a imagem de minha mãe parada à beira da cama. Ela era uma mulher magra e ruiva, com longos cabelos que caíam em cascata sobre os ombros e uma pele pálida. Vestia um vestido amarelo com bolinhas amarelas, sandálias brancas nos pés e segurava um bolo adornado com o número dezessete.

Ao lado dela, meu pai irradiava alegria com um largo sorriso em seu rosto. Diferente de minha mãe, ele era gordo, de cabelos pretos e um bigode preto e pardo. Usava uma simples blusa azul, jeans e sapatos pretos.

— Mas, mãe, pai, meu aniversário é apenas amanhã — disse, afastando os fios de cabelo castanho que cobriam meu rosto e olhando para eles.

— Querida, quando você for aprovada para iniciar os treinamentos e se tornar uma elementalista amanhã, não teremos tempo para comemorar seu aniversário — disse minha mãe, sua voz suave carregando um toque de preocupação.

— Nem tenho certeza se vão me convocar — disse.

— Não se preocupe, Ária. Seu irmão foi convocado, tenho certeza de que você também será — disse meu pai, com um sorriso que logo desvaneceu ao perceber o que havia dito. — Mas não se preocupe, você não será um desgosto para esta família, assim como seu irmão.

Um leve aperto em meu coração acompanhou a menção de meu irmão. Ele havia nos deixado há muito tempo, e sua ausência ainda era uma ferida aberta em nossas vidas. Tentei afastar essas lembranças.

— Obrigada, pai — respondi, tentando deixar de lado a lembrança dolorosa do meu irmão. — Podemos mudar de assunto?

— Sim, vamos mudar — concordou minha mãe. — Vou cortar o bolo enquanto você se veste. Depois, teremos algumas surpresas reservadas para você.

Assim que meus pais deixaram o quarto, levantei-me da cama e espreguicei. Optei por uma roupa simples: uma blusa preta larga, uma calça jeans cinza e tênis pretos e brancos. No espelho em frente à minha cama, observei meu reflexo. Meu longo cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo alto. Diferente da silhueta esbelta de minha mãe, eu possuía curvas suaves que me conferiam uma aparência mais robusta, embora não o suficiente para assemelhar-me ao meu pai.

Saí do meu quarto e segui pelo corredor, que não era muito extenso. No final, encontrava-se o quarto dos meus pais. Ao lado dele, o quarto do meu irmão permanecia trancado, intocado desde o dia em que ele nos abandonou.

Caminhei em direção a uma parede onde uma foto da família estava pendurada. Minha mãe estava atrás do meu irmão, ao lado do meu pai. Eu estava ao lado do meu irmão, cujo rosto havia sido riscado com uma caneta preta. Evitar olhar para aquela foto riscada tornara-se um mecanismo de defesa para escapar da dor que a lembrança trazia. Mal conseguia me lembrar do rosto dele. Respirei fundo e desci as escadas.

Meu pai e minha mãe estavam sentados à mesa, com dois pedaços de bolo à sua frente. Um prato adicional com bolo estava colocado na cabeceira da mesa. Sorri para eles e me sentei na cadeira vazia.

— O que faremos hoje? — perguntei, ansiosa para descobrir o que nos aguardava durante o dia.

— Primeiro, iremos ao festival. Depois, faremos uma refeição especial em um restaurante. Em seguida, terei que ir trabalhar, e você passará o resto da noite com sua mãe — explicou meu pai, enquanto aproveitava pequenas pausas entre as mordidas do bolo.

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