Capítulo 2 - Fantasminha camarada

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''Minha garganta estranha 

Quando não te vejo 

Me vem um desejo 

Doido de gritar...'' — Garganta, Ana Carolina


Franzo a testa e faço careta ao sentir a enfermeira limpar o pequeno machucado que havia feito ao bater o carro, mas dor nenhuma se comparava ao continuar vendo a estranha figura de Spencer no canto do quarto como uma assombração. Uma assombração muito charmosa, mas ainda sim uma assombração.

— Certo, você precisa ficar mais uma horinha de observação e já pode ir embora, querida. Se sentir dor me avise, ok? — fala a enfermeira, apenas aceno com a cabeça, com o olhar ainda fixo lá.

— Você tem sorte de ter sido apenas uma escoriação, Marie, inúmeros acidentes são causados pela falta de cinto de segurança em vias pouco movimentadas — fala aquele que minha mente criou. Fecho os olhos, os abrindo rápido e ainda está ali.

— Você fique bem quietinho, não passa de uma projeção da minha mente — aponto o dedo irritada, falando mais alto que deveria. Tapo a boca rapidamente, ninguém pode saber que estou vendo coisas.

— Eu não sou uma projeção da sua mente, você só precisa pensar em todas os distúrbios psíquicos que são capazes de produzir alucinações tão fortes e vai perceber que nenhuma é capaz de me reproduzir na sua mente — argumenta, chegando mais próximo. Cruzo os braços e penso.

— O PID talvez — murmuro. Eu não estou argumentando comigo mesma, estou?

— Transtorno de personalidade múltipla não causa alucinações e me ver convulsionar não foi um trauma tão grande para você — murmura de volta, analisando minha expressão e a escoriação na cabeça.

— Agora o doutorzinho consegue medir os meus traumas? — ergo as sobrancelhas e me afasto um pouco, constrangida com a sua atenção direcionada ao meu rosto. Vejo sua mão se erguer e tocar próximo a testa, mas sinto apenas cócegas. Franzo ainda mais o cenho e faço careta, me afastando.

— Desculpe, eu precisava testar se...— se afasta, desculpando-se. A porta de vidro se abre. Assustada, tento disfarçar que estava falando sozinha, enquanto Tara entra pela porta.

— Você está bem? — questiona ela e caminha em minha direção. Seus olhos analisam meu rosto com desconfiança — Você está pálida, não deveria ter pego o carro, Red — nega e depois me dá um sorriso carinhoso.

— Você já viu algo que não existia, Tara? — pergunto, receosa em contar que estava vendo Reid no quarto. Spencer caminha e para ao lado de Tara, parece ansioso sobre o assunto.

— Você bateu a cabeça, pode acabar vendo ou ouvindo algum zunido estranho ou algo assim — devolve prática e acaricia meu braço — Mas se for algo mais preocupante, você precisa falar para os médicos — continua. Entorto a boca, ela não estava entrando no roteiro.

— Você já teve alguma experiência espiritual ou algo assim? — avanço no seco, balanço o pé ansiosa, Tara faz careta e se afasta, cruzando os braços.

— Marie Red, você está bem? Onde está minha amiga fiel a ciência e religião não existe? — pergunta retórica, achando estranha minha investida. Reviro os olhos, bufo e me ergo da cama. Olho rapidinho para Spencer, antes de continuar.

— Eu nunca disse que religião não existe, eu disse que não acreditava em nenhum deus ou deuses — rebato, alinhando o lençol em que estava deitada — O que custa você me dizer se já viu um vulto? Ou sei lá, fez um acordo em troca da sua alma com belzebu — arrumo o cabelo estressada de ter outra pessoa ouvindo nossa conversa amigável.

Sam To Molly • Criminal MindsOnde histórias criam vida. Descubra agora