Capítulo 12 - (Pov' Spencer Reid) Para um bom observador...!

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"...Deixe-me ir preciso andar

Vou por aí a procurar

Sorrir pra não chorar..." - Preciso Me Encontrar, Cartola


Jamais imaginaria encontrar uma agente do FBI tão impaciente e irritadiça como Marie Red, devo confessar me diverte vê-la brava, afinal após alguns anos trabalhando ao seu lado, pude perceber que por trás da sua organização metódica e postura profissional, existe uma mulher extrema, nenhum um pouco sútil e até rude às vezes. Na verdade, até pouco tempo antes de ser inconveniente (talvez seja essa a palavra) e entrar casualmente em seu quarto, me deparando com momentos pessoais dela, ainda acreditava que ela não tinha muito apreço por mim e que minha presença estava sendo invasiva. Entretanto, após o episódio no quarto e casualmente ouvir atrás da porta na agência uma conversa dela com a Tara, compreendi que ela tentava através dos detalhes demonstrar que gostava de mim. Detalhes mínimos, que apenas um bom observador seria capaz de perceber.

— Eu não vou comer isso, nem que você me pague, Reid — ela faz careta e cobre o nariz com a mão, entupido provavelmente causando uma maior nasalidade em sua voz. Sento na ponta da cama, deixando a sopa na mesa de cabeceira e lhe encaro. Respiro fundo, preparando minha melhor explicação do porque cada ingrediente na sopa a ajudaria a melhorar do resfriado, que ela insistia em chamar de gripe, mas na verdade são raras as viroses que são gripes, principalmente ocasionadas devido a diferença de temperatura que foi o motivo do qual ela adoeceu, o que não teria acontecido se ela tivesse ouvido a minha instrução no último caso, mas Marie costuma ser teimosa com algumas coisas, me acostumei! — Meu estômago está embrulhado — ela manha e pisca os olhos rápido, algumas vezes ela realmente parece um filhotinho de cachorro, não consigo entender porque essa comparação parece tão ruim em sua mente.

Ergo a mão e coloco sobre sua testa, percebendo que sua temperatura estava mais alta do que deveria. Seu rosto que costuma ser lustroso, carrega um tom empalidecido, assim como algumas olheiras abaixo de seus olhos negros. Aperto os lábios e caminho em direção ao seu banheiro, buscando por algum antitérmico em seu kit de primeiros socorros. Depois de passar um mês nessa casa, conhecia com a palma da minha mão cada cômodo e gaveta. Não que eu espie as gavetas ou algo desse gênero, mas é fácil saber onde estão todas as coisas, afinal Red parecia um pouco organizada demais em deixar tudo no mesmo lugar, não apenas no mesmo lugar mas no lugar que ela determinou como o lugar daquilo. Se eu não tivesse passado um tempo juntos, diria que existem alguns traços maníaco-compulsivos nela.

— Toma isso, para você não piorar — lhe estendo o copo de água, já a algum tempo sobre o móvel ao lado da cama e dou o comprimido do remédio a ela. Sua expressão mantém-se com um leve levantar no lábio, quase imperceptível. Marie costuma carregar essa expressão de nojo muito costumeiramente, na maioria das vezes é por esse arquejo que percebo quando alguma coisa no trabalho a atingiu mais do que deveria. Foi através dessa expressão que descobri sua fraqueza aos casos que apareciam crianças, mais especificamente meninos. Com a nossa aproximação inesperada, percebi a irmã zelosa que ela é, entendendo o porquê do lado esquerdo do rosto ficar mais acentuado nesses momentos. O que não impede que essa se acentue em outros momentos, por exemplo quando ela sorri. Ela deveria sorrir mais.

— Eu prefiro morrer do que perder mais cinco minutos deitada nessa cama sem meu nariz funcionando — engole o comprimido e bebe água, tossindo em seguida.

Morrer me pareceu algo distante por alguns momentos, mesmo já tendo estado tão próximo a mim, muitas e muitas vezes. Sempre achei que terminaria minha vida, esquecendo dela aos poucos e nem minha memória eidética me faria recordar dos meus momentos vividos, assim como minha mãe. Por muitas vezes, desejei que fosse assim, que esquecesse tudo e todos à minha volta, todos aqueles momentos horríveis desaparecessem e nenhum rosto ou imagem fosse capaz de ser remontada pelo meu cérebro destruído pelo tempo. Entretanto, esse momento nunca chegou, mesmo com as dores de cabeça do passado, mesmo com os traumas que carreguei, nenhuma memória se apagou e por muito tempo elas me assombraram, apareceram escondidas de sonho enquanto dormia, em casos que trabalhava, em mim. Depois de tanto contato com a morte, depois de todos os prováveis adeus, tenho gostado ultimamente de aproveitar -mesmo que seja um pouco- a vida.

Sam To Molly • Criminal MindsOnde histórias criam vida. Descubra agora