Capitulo 5 - Amiga, você tá estranha!

329 36 6
                                    


''...Onde anda você

Onde andam os seus olhos...'' — Onde anda você, Vinicius de Moraes & Toquinho


Pé esquerdo, pés direito. Contrai o abdômen, mas não esquece de respirar também. Observo Roxy correr bravamente ao meu lado, como se não significasse nada para ela os passos que já tínhamos dado. Puxo o ar com tudo, pelo jeito preciso de mais concentração para não esquecer de respirar entre uma pernada e outra.

— Vamos descansar, você está cansadinha — digo para Roxy, diminuindo os passos e me jogo sentada de qualquer jeito na grama úmida, molhada pela garoa fina da manhã. Busco encher meus pulmões novamente, enquanto a praguinha encara como se julgasse o que havia dito — Tá bom, eu tô cansada — murmuro, termino de deitar o do corpo na grama. Sinto a mesma se deitar ao meu lado e pousar seu rostinho na minha barriga, levo a mão até seus pêlos e afago. Concentro em estabilizar a respiração, aproveito para observar a luz que lentamente começa a surgir no céu sobre nossas cabeças. Eu, genuinamente, preciso ter uma rotina menos saudável ou menos tóxica, acho que acordar às cinco da manhã para correr é desumano. Quase seis horas e ainda não amanheceu, o inverno está batendo na porta — Será que quando voltarmos ele já vai estar em casa, garota? — pergunto a cachorra, apenas tendo um grunhido fino em resposta. Onde será que aquele fantasma do araque tinha se enfiado? Tudo bem que eu recomendei ele a ir e viver, aproveitar seu momento de invisibilidade/espiritualidade, mas ele podia avisar que não ia voltar? Será que ele não voltou, porque já acordou do coma?

Ergo meu tronco rapidamente do chão, Roxy também fica atenta a minha movimentação, solto a coleira dela e tateo os bolsos em busca do celular. Desfoco a atenção para o aparelho, onde está o número do hospital nessa desgraça?

Sinto uma brisa passar ao meu lado onde Roxy está, vendo apenas uma sombra da sua figura correr desesperada parque adentro. Eu amo Luke, mas essa cadela me odeia, só pode. Pulo rapidamente do chão e corro na direção em que vi o último reflexo de sua pelagem marrom. Aumento meus passos e chamo seu nome, ao passo que me vejo cada vez mais fora da trilha do parque e cada vez mais dentro do mato. Desvio de alguns galhos e paro no meio do caminho para ver se escuto alguma movimentação de passos entre as árvores. Ouço alguns barulhos de folhas sendo pisadas à esquerda e corro em direção. Só o que me faltava perder Roxy e ter que contar para Luke que sumi com sua filha, eu vou colocar um rastreador na coleira que ela usa!

Franzo o cenho ao ver que as árvores estão sumindo e dão espaço a um campo aberto, diminuo ainda mais os passos ao ver Roxy abanando o rabo para alguém no meio desse. Respiro fundo e dou passos temerosos em direção a eles.

— Roxy — chamo alto e acabo por receber a atenção da figura ao seu lado. Ela lentamente se vira, o que me faz respirar aliviada ao ver Spencer. Menos mal, é o fantasma que conheço. Caminho ligeira para eles e faço careta para ele perceber minha confusão, não esperava que o lugar divertido que ele iria seria um campo aberto no meio da mata.

— Você vê? — Spencer pergunta e aponta com a cabeça para frente. Lhe olho com ainda mais confusão, nego com a cabeça

— Vejo o quê?— pergunto de volta, abaixo e pego a guia de Roxy de volta. Sem fuga, praguinha.

— Tem uma moça, uns 20/25 anos, morena, cabelos longos, branca, mais alta que você...— diz, com o olhar fixado em frente. Dou um passo para trás e encaro Reid.

— Que? — aperto a guia com força. Que medo, cala a boca garota. Sai.

— Ela disse...ela disse que está enterrada aqui e que tem outras...— murmura e me olha pela primeira vez. Vejo um olhar assustado em sua face, mordo os lábios e olho em volta, sinto um desconforto estranho atingir meu peito ao encontrar esse estranho campo aberto dentro do parque. Aponto em direção ao chão, questionadora, recebo uma confirmação de cabeça dele após uma breve olhada de Spencer para o lugar vazio que ele encarava antes. Agacho e começo a cavar com as mãos a grama molhada, sujando-as com barro. Pela brisa que havia caído, consigo com facilidade, aos poucos, criar um buraco com as mãos sobre o chão e conto com a ajuda de Roxy no processo.

Sam To Molly • Criminal MindsOnde histórias criam vida. Descubra agora