''Lembre de mim
Hoje eu tenho que partir...'' - Lembre de mim, Leandro Luna
Talvez ter Spencer só para mim não seja tão ruim assim, agora sempre que acordo às cinco e meia da manhã está ele lá, no meio da minha sala se aquecendo para corrida matinal. Ele também aparenta ter se adaptado a minha rotina monótona, então parece apenas ter se acostumado às poucas palavras que digo ao acordar e me mantenho assim até tomar café, que é quando tagarelamos sobre algo aleatório. Ele também deve estar curtindo, de vez em quando, passear por aí e me atualizar quando nos encontramos. Jamais pensei que virar um fantasma seria libertador para ele e nos aproximaria, que conheceria as diferentes vertentes do doutor Spencer. Nunca pensei que ele me permitiria fazer parte do seu dia, ou melhor, ele fazer parte ativamente do meu.
— Você precisa rever suas roupas atléticas, rapaz — digo, o vendo novamente com seu moletom cinza, duas vezes maior que ele e uma calça de abrigo. Estralo o pescoço, observando alongar as pernas — Sabe, você não deveria parecer menos saudável? — cerro os olhos, olhando sua feição corada.
— Acredito que fique da forma como entrei no coma — enruga a testa e alonga o braço direito. Franzo o cenho e coço a testa.
— Se você diz...— arregalo os olhos e começo a caminhar para a porta.
— Corrida até o parque? — pergunta animado, caminhando mais atrás de mim. Balanço a cabeça em negativa.
— Você flutua, você tem pernas mais longas que as minhas e você não têm peitos — pontuo, abrindo a porta. Olho de lado, vendo piscar os olhos rapidamente ao ouvir meu último argumento.
—...e você tem medo de perder — exclama. Nas últimas duas semanas, Spencer tem se tornado uma espécie de assombração maquiavélica que adora testar meu limite. Não que ele já não fizesse isso como ser humano, mas os limites que ele testava estavam mais relacionados a querer enchê-lo de beijos e não de tapa na cara. Se bem, que ele tem carinha de quem curte tapinha.
— Você está sorrindo — Reid constata, molho os lábios e sorrio mais lasciva ainda.
— Você não sabe o que faz, Spencer — rio nasal, tento parecer desafiadora e não deixar vazar o que pensava dele, fecho a porta após sua saída. A tranco e me coloco em posição de corrida, o vendo fazer o mesmo. Eu sei que vou perder, mas faço tudo para manter minha atuação — Um, dois e já...— falo alto, correndo quintal afora, percebendo aos poucos Spencer passar a minha frente e deixar apenas sua silhueta mais a frente. Tento manter os passos rápidos, não deixando de reparar o jeito estranho que Reid corre/flutua, não é novidade que ele corra meio estranho. Na verdade, sempre achei engraçadinho seu jeito de correr, principalmente em campo e armado, mas é fofo perceber que é o jeito dele natural de se movimentar. Pode ser que seja por suas pernas serem longas e ele deixar elas bem juntas, mas continua sendo fofo. Sorrio e bocejo, enquanto perco ele de vista.
...
— Vamos, são apenas seis horas e você já está sentada — pronuncia ele, fazendo corrida parada na minha frente. Lhe lanço meu melhor olhar desaprovador e nego com a cabeça.
— Talvez seja porque um palhaço me fez correr de casa até aqui? — pergunto retórica, me jogo no encosto do banco e solto uma lufada de ar, sinto o suor escorrer pelo meu dorso.
— Fantasma — corrige minha fala, erguendo o dedo e franze a testa. Rio nasal e fecho os olhos. Nunca mais mantenho meus pensamentos ocultos, apenas lhe direi que ele tem cara de quem quer tapa.
— Sabe, Spencer...— digo, recuperando o ar dos meus pulmões. Sento de forma correta sobre o banco e o encaro séria.
— Diga — presta atenção, parando seu movimento com os pés. Estalo os dedos e respiro fundo.
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Sam To Molly • Criminal Minds
Hayran KurguE se, de repente, você tivesse a capacidade de enxergar coisas que não deveria? Não coisas exatamente, mas pessoas! Pessoas que não deveriam estar onde elas estavam no exato momento que você decidiu olhar para elas, entretanto no meu caso não são pe...