Capítulo 2

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Niu pensou que poderia voar. Enquanto corria de dois valentões — os filhos de Gueto Salamona —, não conseguia parar de rezar para Deus, implorando por alguma misericórdia. Por que fizera aquilo? Não saberia dizer. Mas corria, amedrontado, e tudo porque decidira que um deles poderia estar interessado em tomar seus lábios. Não demorou muito para que Peti, um rapaz musculoso e que começava a criar barba no rosto, chamar o irmão para espancá-lo. Agora, encontrava-se quase beirando um precipício. Não sabia para onde aquilo poderia levá-lo, mas tinha certeza de duas coisas: se desse meia-volta, morreria. Se pulasse e fosse muito alto, teria o mesmo destino. Por isso, orava para ser uma falésia de baixa altitude, em que pudesse nadar para bem longe daqueles dois. Considerava-se um excelente nadador.

O problema foi que Peti também era. Quando Niu chegou perto suficiente da borda e notou o rio, respirou, aliviado, e saltou. A água lascou contra sua pele, como a velha cinta do seu pai fizera tantas vezes. Graças a experiência, pôde aguentar sem choramingar, e deslizou com as mãos para a superfície, avançando a nado até a ribanceira. Olhou para trás, vendo que o irmão de Peti, Quinco, não tivera coragem de saltar. E, no entanto, lá estava Peti, flutuando em sua direção, os músculos servindo praticamente de remos.

"Não vai fugir, não, veadinho!"

Filha da puta.

"Pega ele, Peti!"

"E você é outra bicha, não?" disse Peti, virando o rosto para o irmão covarde. "Tem medo que os peixes chupem seu pau ou o quê?"

"Não sei nadar, seu merda."

A pequena discussão foi como a distração de um leão. Niu aproveitou o momento para dar o fora, nadando como um tubarão atrás da presa. Em pouco tempo chegou a margem. Viu que Peti ainda estava distante dele e, enchido de bolas, Niu elevou seus dois dedos do meio na direção do rapaz que tantas noites fizera parte de suas fantasias.

Espero realmente que um girino entre em seu pau.

As árvores, entretanto, não eram como as marés. Niu abandonou os dois irmãos e seguiu pela mata, correndo a fim de se livrar daqueles dois de vez. Quando se sentiu protegido, sentou-se na grama seca e deitou o rosto em um casco de árvore. Após tanto respirar de alívio, começou a temer que tivesse se perdido. E se não fosse capaz de voltar para casa? Não sabia nem se o sol nascia no sol ou no leste, então como diabos conseguiria sair daquele lugar? Ele olhou para um lado, para o outro, e tudo que viu foram árvores e mais árvores.

"Que se foda", disse. Se eu for para casa, apanharei.

Caiu em reflexões da vida de um aventureiro. Imaginaram-se como antigos, matando animais selvagens, atravessando cavernas, fazendo fogueiras. Como seria sua vida assim? Bem, era bobagem pensar nisso. Não tinha condições de não conseguir retornar para casa. Ao menos, era o que pensava.

Irá morrer de fome.

E ele começou a sentir a desnutrição. Era um tambor em seu estômago, que quanto mais o tempo passava, mais doíam. Haviam frutas pelo bosque, porém ele não confiava nelas. Já ouvira histórias de pessoas que engoliram algo errado, venenoso, e morreram. Se fosse uma maçã, uma banana, poderia confiar, mas aquelas eram frutas amarelas, rosas, azuis, quais não conhecia nenhuma.

"Senhor, dê-me algo."

Enquanto andava pelo arvoredo, não deixava de pensar no que seu pai lhe faria quando chegasse em casa. Talvez fosse pior. Os filhos de Salamona poderiam lhe dizer o que ele mais tinha medo que o pai descobrisse. Se fosse o caso, não poderia pensar em voltar para casa. Mas como poderia descobrir? Era impossível. E, pensando melhor, aqueles moleques não iriam tão longe, eram preguiçosos e nem sabiam onde ele morava. A única coisa que Niu poderia temer no momento era o fato de ter se atrasado ao almoço e possivelmente para a janta.

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⏰ Última atualização: Jun 30, 2023 ⏰

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