IX - A Cantiga de um Velho Pássaro

52 7 9
                                    

Antes que o corpo de Malfoy chocasse o chão, foi envolvido de maneira desajeitada por Regulus e repousado com mais cuidado para que uma avaliação rápida fosse feita do estrago. Black ergueu uma pálpebra de cada vez, buscou sinais de envenenamento que, por sorte, não existiam. Ao redor das perfurações dos espinhos haviam marcas da toxina, mas regrediam. Draco estava pálido e gelado, entretanto, podia ouvir o estômago dele anunciando estar vazio havia tempo demais.

─── É mais parecido com a sua mãe do que imaginei ── tudo sempre a ferro e fogo quando se tratava de um interesse próprio ou alguém valioso aos seus olhos.

Voltou a ficar em pé, colocando um braço de Draco ao redor dos ombros para dar algum apoio a ele, o segurou firme e no ato arrancou um ruído de dor do rapaz, ele parecia lutar para recobrar a consciência, era mais resiliente do que Regulus esperava.

─── Relaxe, vai piorar ── Black disse com tom de divertimento ── espere até o antídoto começar a expulsar o veneno.

Tapinhas cínicos foram dados na cintura de Malfoy e então ambos desapareceram da ilha.

✧࿓☾

A brisa da desaparatação dos rapazes mal havia desaparecido quando o ruído distorcido da chegada de mais um visitante quebrou o silêncio naquelas ruínas. Diferente de qualquer outro bruxo curioso, não havia enigma algum a resolver para que o portal iluminasse dentro do arco quase com reverência, o farfalhar da pesada capa verde e o familiar estalo da bengala pareciam ser o suficiente.

Descendo as escadas, retirou a máscara que ocultava seu rosto e o capuz que mantinha sua cascata de tranças oculta. Ao chegar no jardim subterrâneo, pendurou a capa em uma escultura e caminhou até o corpo de Elara; a impecabilidade era sempre restaurada, sem rastros, sem sequelas, quase independente de quaisquer danos. A pele daquele corpo já não estava mais fragilizada, seus dedos não precisavam tocar tão suavemente ao ponto de mal poder desfrutar da textura ou matar a saudade de fazer aquele gesto, agora as bochechas têm cor, há algo próximo de um calor vivo fluindo.

Tantos anos de espera, presas dentro de um objeto, não podendo sentir nada, a agonia de estar dentro de um mesmo espaço que ela e nunca a ver ou ouvir.

─── Estamos quase ── sussurrou com ternura, curvando o corpo até que sua testa tocasse a dela.

─── Morgana! ── o fantasma de Greengrass anunciou com uma empolgação cautelosa. Morgana as educou, as ouviu e amparou como suas filhas, suas irmãs de sangue; claro que sabia quando algo estava errado com um simples tom de voz seguido.

─── Vocês costumam ficar ansiosas para contar quando alguma coisa acontece por aqui ── seus olhos desceram para o próprio pé, onde a vibração de uma pequena lasca de pedra era sentida. Erguendo-o, deixou que a lasca voasse de volta ao seu devido lugar e somente então, acompanhando o trajeto daquela coisinha minúscula, foi que finalmente virou para trás e encarou as bruxas. ── Tivemos visita?

─── Um rapaz ── uma delas, ancestral de uma família que Morgana já havia extinguido, disse. ── Loiro, alto, sangue-puro com toda certeza... olhos cinzas.

─── O Malfoy ── Le Fay concluiu movendo os olhos para um ponto vazio do jardim, intrigada. Mal faziam doze horas que se encontraram e ele já havia chegado ao mausoléu, era mais astuto do que pensara. Seus olhos moveram para onde sua manga tinha um rasgo e abaixo dele um corte cauterizado, onde o feitiço ricocheteado por ele lhe acertou.

─── Foi atingida? ── Cornelia veio na sua direção.

─── Apenas um pouco enferrujada para duelos, ele teve sorte.

Blood & FeathersOnde histórias criam vida. Descubra agora