XI - Túmulo de Lembranças

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JUNHO DE 1995

Enquanto Amos Diggory chorava sobre o cadáver do filho e Harry reproduzia um escandaloso luto como se não fosse o responsável pela catástrofe, o corpo de Elara ganhava os primeiros vestígios de alguma cor que indicasse vida. Um novo favorito foi escolhido, um novo sacrifício foi feito depois de anos. A magia voltou a fluir pelo mausoléu, enfim, as linhas douradas voltaram a brilhar com mais força, a flora mágica se mexia, tudo estava renascendo e, com isso, os tijolos velhos da parede mágica começaram a esfarelar para que os novos, mais fortes que os anteriores, ganhassem espaço. O velho se vai, para o novo surgir, a sentença mágica que movia aquele lugar acabou por mostrar uma brecha. Morgana jamais cogitaria a possibilidade de alguém sobreviver ao veneno por tanto tempo assim, mas se tivesse se atentado para as inúmeras vezes que Tom reprimiu um sorriso ao dizer que Regulus não era alguém fácil de matar - quando o garoto surpreendia a todos ao retornar de missões de alto risco, sempre de queixo erguido, tão arrogante quanto quando partia para elas -, talvez tivesse reavaliado a eficácia da sua prisão mágica.

Regulus – que não envelhecera um dia sequer ali dentro – despencou para fora da parede assim que a fenda se tornou minimamente transitável, o primeiro impulso que seu corpo teve foi cair sobre os joelhos e expulsar do estômago o bezoar que havia conseguido sustentar uma resistência tão longa ao veneno de Greengrass. Antes que pudesse digerir o fato de que estava livre, os ramos rastejantes vindo em sua direção serviram como um lembrete de que dessa vez tinha que ser mais inteligente e escapar dali o quanto antes, ou não teria sorte numa próxima vez dentro da parede. Regulus assumiu sua forma animago e voou para fora dali antes que o resto do jardim despertasse completamente e agisse com força total.

Estava livre, enfim, e voltaria para Tom!

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Mas dezesseis anos haviam passado. Catorze desde que Peter Pettigrew, covarde maldito, recebera uma carta feita em um papel especial, com um selo ainda mais especial do Ministério da Magia, que fazia-lhe uma proposta cuja recompensa tinha tantos zeros que nunca mais teria que mover sua bunda suja novamente até morrer. Foi por essa esmola que traiu a Ordem ao dar a localização dos Potter e traiu Voldemort ao dar ao pequeno Harry uma pelúcia encantada que não deveria protegê-lo da Maldição da Morte, mas ricochetearia uma parte contra quem a lançou.

E após essa atrocidade, precisou de apenas um dedo cortado para virar um mártir!

Sirius estava preso.

Voldemort estava morto.

Regulus custou a acreditar nessa história, se não estivesse tão desesperado pelo antídoto, teria rido com desaforo do absurdo que saía da boca de Severus. Voldemort morto? Por Peter Pettigrew? Há!

Precisou ser levado até Little Hangleton para ver com seus próprios olhos o nome na lápide. O garoto caiu de joelhos na terra, seu grito desesperado, o pranto, pôde ser ouvido pelos moradores do vilarejo. Regulus fincava os dedos no próprio peito como se pudesse tirar o antídoto através do próprio sangue, mas já era tarde demais para que o veneno pudesse voltar a agir no seu corpo, teria de seguir em frente e lidar com aquele fato;

Tom estava morto.

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AGORA

Como em todas as vezes em que acordava, naqueles onze anos, sentiu o cheiro dele e sorriu. Também como em todas as vezes naqueles onze anos, a consciência vinha em uma velocidade cruel para relembrá-lo que o perfume estava no travesseiro apenas. O rapaz apertou o medalhão que sempre estava ao redor do seu pescoço e sustentou um olhar opaco por um longo tempo antes de levantar da cama; não sabia dizer quando foi que os episódios de choro se tornaram apenas longos minutos silenciosos encarando o vazio.

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