X - O Que Se Deseja

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No início, estava confortavelmente envolvido pela escuridão, sequer tinha consciência daquele vazio até o momento. A voz de Harry rompeu o silêncio violentamente, uma lembrança fresca revivida:

"VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO! ELE ERA MEU! MEU! VOCÊ SEMPRE SOUBE DISSO E TIROU DE MIM A CHANCE DE FAZER A ÚNICA COISA QUE EU QUERIA MAIS DO QUE..."

Você.

O eco daquela palavra trouxe formas e cores ao breu ao seu redor, Draco se viu na sala de aula de poções, outra lembrança sendo revivida - essa era mais distante, mas tão fresca quanto uma cena do presente. Revisava o conteúdo da próxima prova, Slughorn era mais rigoroso e exigente do que Snape, pela altíssima estima que tinha pelos alunos sonserinos - o menor erro teria uma penalidade maior.

Ouviu a porta atrás de si fechar, os passos não tão cautelosos assim e não demorou muito para que um par de mãos – muito previsíveis – rodearem sua cabeça para cobrirem seus olhos.

─── O que você quer, Potter?

As mãos pararam assim que ultrapassaram o limite da sua visão periférica e recuaram, o bufar veio quase no mesmo instante e logo Harry já estava escorando na mesa com toda a falta de cautela de sempre, grosso como sempre, porque não tinha qualquer apreço pelos seus frascos de cristal, ou o quão difícil foi achar um punhado de pelo de abraxano daquela qualidade; no começo acreditava ser apenas petulância dele, convivendo viu que era apenas um idiota com sequelas da ignorância trouxa ainda.

─── Um punhado de pelos é que não quero ── ele estava de bom-humor, muito bom-humor. Draco também tinha sua dose de ignorância na época, nunca sequer cogitaria um episódio de mania, era apenas o "Harry bem-humorado".

─── Estou ocupado, estudando. Coisa que você também deveria estar fazendo ── sua atenção continuava no conteúdo borbulhante dentro do caldeirão, movimentava a varinha no padrão mais perfeito possível, queria repetir até que seus músculos memorizassem o gesto para fazê-lo naturalmente.

─── Está falando como a Hermione ── ele retrucou com um revirar de olhos.

Draco desviou a atenção para Harry no mesmo instante.

─── Ela está estudando? Como está o desempenho?

Harry abaixou a cabeça, cruzando os braços, e soltou um riso contido. Draco se recusava a perder para Hermione nas notas em poções, era inadmissível! Todas as matérias que dividiam tinham médias acirradas, os melhores da turma sempre, mas em poções não aceitava ser menos do que o melhor. Para Harry, a competição dos dois era puro entretenimento, obviamente.

Impaciência e orgulho fizeram com que se distraísse demais para perceber o desastre acontecendo dentro do caldeirão, as bolhas começaram a estourar mais rápido, o metal chacoalhava mais forte progressivamente; a explosão, consequente de seu descuido, veio tão rápido que Draco apenas percebeu o que havia acontecido quando Harry já o tinha contra o corpo e um escudo mágico os protegia.

Num primeiro momento, trocaram olhares. Era impossível não se perder quando estavam próximos, Potter tinha detalhes impecáveis no rosto e sequer fazia ideia disso, ele sempre ria quando o lembrava desse fato. Os olhos... havia um motivo para falarem tanto deles por aí, Draco nunca havia visto nada igual e nem mesmo aqueles óculos ridículos ofuscavam o quão fascinante era aquele tom de verde, sólido e vivo, com finas pestanas mais claras, um contorno escuro que parecia impedir qualquer pessoa de olhar para qualquer outro ponto que não fossem as íris a partir do momento que caísse na armadilha da beleza delas.

Harry inclinou o rosto para lhe beijar e foi então que Draco saiu do transe para agarrá-lo pela mandíbula, afundando os dedos nas bochechas e interrompendo a investida dele.

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