V - Sem piedade aos traidores

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ALGUM LUGAR NO MISSISSIPI

Ele está vindo! Ele está vindo!

Tudo o que passava em sua cabeça eram essas palavras. Começaram com um sussurro, um aviso amigo sobre o ombro para cada segundo que fazia qualquer coisa que não envolvesse sua fuga, ao deitar para dormir, ao sentar para comer, vinha o lembrete sussurrante.

"Não seja estúpido", Avery disse dois dias atrás, "não tem como ele achar qualquer um de nós. Escapamos do Olho-Tonto!"

Mas Avery estava errado, errado, errado, errado, ERRADO!

Sobre sua cama estava o jornal americano anunciando a morte de Avery, o corpo foi encontrado naquela manhã, mas tudo indicava ter sido executado dois dias atrás. Ele não só os encontrou, estava perto.

Coloque tudo na mala, jogue tudo! Ele está vindo!

Agora as palavras eram gritos. Merlin... era como estar novamente ouvindo o Lorde das Trevas gritando consigo dentro da mente, a agonia de estar ouvindo berros sibilantes sem ter como amenizar o som; bater a cabeça na parede até que o sangue sujasse a tinta, cobrir os ouvidos até quase esmagar suas têmporas, gritar até que sua garganta trouxesse um sabor metálico à boca, nada adiantava. Estava passando por isso de novo e agora era pior, oh Merlin! Pior! O Lorde das Trevas não estava vivo para proteger-lhe e esse garoto... não, esse homem, tinha muitos motivos para tornar sua morte ainda pior.

Um corvo pousou em sua janela, grasnou alto, fez seu corpo espasmar e pular.

─── Saia daqui! Saia! ── chispou a ave com um abano desesperado, odiava corvos e naquela fazenda maldita estava cheio. Corvos lembravam outra pessoa que dava graças aos céus por estar morta.

Tudo estava pronto, na mala haviam pilhas e pilhas de papéis, diários, fotos e frascos cheios com seu suor, suas lágrimas. Eles poderiam ter tudo o que quisessem, estava tudo ali para garantir sua segurança. Sentiu uma presença nas suas costas, algo passou, ao virar para trás sua varinha apontou para outro corvo que entrou por outra janela e estava sobre a cômoda. Grasnou alto o suficiente para seus ouvidos arderem.

E se...

NÃO! ELE MORREU! TODOS MORRERAM! AGORA ACELERE OU VOCÊ MORRERÁ TAMBÉM!

Fechou a mala com mais desespero ainda quando percebeu que o zíper não queria colaborar. Saiu correndo sem olhar para trás, a porta de tela balançava com o vento seco daquele lugar, corvos grasnavam sem parar pelos céus, giravam sobre sua cabeça lá de cima e acompanhavam seu passo. Tinha que correr alguns metros para chegar à saída. Aqueles corvos estavam estranhos, um deles puxou o restante para que descessem na sua direção, todos vinham corvejando alto, violentos, se lhe alcançassem seria seu fim.

─── NÃO! ── usava feitiços para tentar acertar o bando, mas desviavam, dispersavam, e em menos de dois segundos reuniam na sua direção. Agarrou a mala com força e continuou correndo, os berros das aves ficavam cada vez mais altos e todos chamavam seu nome!

RABICHO! RABICHO!

Peter gritou tal como um porco assustado guincharia diante de seu carrasco, finalmente alcançou o lugar certo, apontou a varinha para a parede do celeiro, uma porta de madeira surgiu no lugar dos tijolos, ele correu mais rápido do que suas pernas queriam permitir, sentiu uma bicada em sua nuca e então cruzou a porta enfim!

Lá fora, a porta voltou a ser meramente uma parede de tijolos e os corvos que assumiam a frente daquele ataque estouraram na superfície, criando uma chuva de penas negras. Lá dentro, um único corvo era pisoteado cruelmente por Peter até que este tivesse certeza de que a ave estava morta. Permitiu a si mesmo um minuto para recuperar o fôlego e seguiu caminho pela passagem secreta que levaria até um ponto seguro para desaparatar.

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