XV - Finale

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Não era um bom plano, sabia disso. Ela poderia mudar o local do ataque, poderia adiar, ou repensar a estratégia para ter vantagem sobre o grupo. Estavam dependendo puramente do ego de Morgana para que mantivesse o plano original, crédula de que os venceria de qualquer forma – e poderia mesmo.

Havia uma chance maior de vitória, contando com a ajuda de um bruxo genuinamente talentoso e sem escrúpulo algum, assim como ela. Regulus olhava para a lápide que não havia sido engolida pelo lodo graças ao seu cuidado para que o nome continuasse legível, ao seu lado, o cadáver de Pyrites se encontrava contorcido ao ponto de a única evidência de haver algum osso em seu corpo estar nas fraturas expostas; o cúmplice de Pettigrew, aquele que foi até a casa dos Potter na noite de Halloween para fomentar a paranoia de Tom e empurrá-lo para a armadilha. Regulus acariciou com o polegar o medalhão original uma última vez antes de arrancá-lo do seu pescoço. Esperava que aquele pedaço de Tom pudesse ouvir seus sussurros pedindo que não demorasse a sair daquela cova, que ajudasse.

Sussurros macabros serpenteavam o ar ao seu redor, arrastando a essência da vida que roubara de Pyrites para dentro da horcrux, para não muito depois cessarem. A energia que a joia exalava tornou-se mais densa. Black tirou do bolso a varinha que pertencia a Tom, enrolou a corrente ao redor e fez os dois objetos afundarem na terra de uma só vez, para que caíssem direto no cadáver que repousava ao fundo da cova.

─── Eu volto logo ── tocou o gramado com cuidado, esperando que fosse o bastante. Precisava ser.

Regulus jogou as moedas sem valor na mão de Pyrites, colocou o medalhão falso ao redor do próprio pescoço e desaparatou.

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As últimas três noites foram diferentes naquele esconderijo: quando Scorpius caía no sono, Draco esgueirava para fora do quarto, mas não passava a madrugada sozinho. A insônia infelizmente ainda era sua parceira, entretanto.

Junto com Harry, vasculhavam livros de feitiços, debatiam estratégias para que tivessem vantagens em ataques conjuntos contra os inimigos que encarariam e eventualmente se distraíam um com o outro. Fantástico era o quão rápido poderiam esquecer o frio doloroso daquele lugar quando as roupas caíam ao chão e como o otimismo surgia quando caíam sobre os travesseiros, suados e sorrindo como se voltassem a ser dois garotos escondidos em um depósito na escola.

Naquela manhã acordaram mais cedo, ouvindo o barulho da porta da igreja fechar lá embaixo. Entre gemidos sincronizados de desgosto pelo despertar brusco, começaram a movimentar para que se arrastassem para fora dos cobertores. Draco envolvia Harry por trás, o rosto estava afundado no ombro dele, e os braços apertaram ainda mais o corpo antes que afrouxassem de fez para dar liberdade.

─── Costumava ser mais fácil quando éramos mais jovens ── perder mais da metade de uma noite de sono para se emaranharem em uma pilha de cortinas velhas e almofadas sem que isso estragasse o dia deles. De fato, era mais fácil aos dezesseis.

─── Sirius faz parecer ser fácil quando se fica mais velho ── Draco murmurou distribuindo beijos pelo ombro de Potter até que ele virasse de frente para si. Os dedos deslizaram pela lateral do rosto dele, a delicada carícia se estendeu para o cabelo não muito depois, tudo era retribuído não tão delicadamente assim por Harry, mas já estava habituado com o tato terrível dele. Gostava de ver o esforço que ele fazia para não entregar como era afoito para essas coisas, como se fosse acabar sozinho de repente e precisasse aproveitar até o último segundo.

─── Prometa que vai ter cuidado ── Harry disse assim que a sobriedade dominou seu semblante. Era o dia. Dali algumas horas poderiam morrer ou vencer uma guerra silenciosa sem haver qualquer tipo de ajuda externa - talvez dos aurores, mas Morgana foi metódica quanto ao horário do ataque: faria entre a troca de turnos.

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