XIV - Prelúdio

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A varinha foi erguida, apontada para um espaço vazio no meio da floresta de coníferas. Sangue de Snape ensopava a manga do vestido - transformava o verde em vinho - e ainda gotejava, em intervalos mais espaçados, das pontas dos dedos que seguravam a varinha. Um sussurro, manifestado apenas por hábito, e um som estridente de vidro sendo arranhado dominou o ar, forçando alguns comensais a cobrirem seus ouvidos pelo incômodo; Dolohov batia os pulsos nas têmporas compulsivamente. A barreira magica era invisível, mas linhas reluzentes – também lembrando fendas de um vidro rachando – surgiam no ar, segundos foram o bastante para que tudo despedaçasse e desaparecesse, dando visão a todos da mansão imodesta de Tom Riddle.

Todos entraram com a cautela e o respeito com que uma pessoa cegada pela fé entraria em um templo, expectativa tomava alguns de que o Lorde das Trevas apareceria em carne e osso, como um messias, no topo das escadas a qualquer momento; outros temiam por isso, mas igualmente crédulos.

Sangue seco chamou a atenção dos olhos de Morgana no hall, as íris acompanharam a trilha castanha avermelhada no piso e nos degraus da escada.

─── Vasculhem.

Todos obedeceram e se espalharam de imediato. Morgana caminhou a passos calmos, por tentativa de sorte batia a bengala com mais força no piso na esperança de encontrar o verdadeiro medalhão escondido por ali, assim como encontrara o anel na casa dos Gaunt. Nada. Passando pelo corredor do hall, parou perto de uma pintura na parede para deslizar o indicador da mão limpa pela moldura e averiguar a poeira; uma semana, ela concluiu. Considerou que não os encontraria facilmente, já que descobrira apenas há algumas horas atrás que Snape havia enviado informações a Regulus Black, apenas não esperava que isso havia acontecido imediatamente após o ataque de Bellatrix. Snape deixou uma pista falsa, todos já haviam fugido daquela casa havia sete dias e estava perdendo seu tempo ali.

Para aumentar seu desgosto, ao virar o rosto viu o estado deplorável da sala de estar, intocada desde o colapso patético de Tom por sabe-se lá qual motivo. Ainda podia enxergar com nitidez a imagem dele sentado no chão, o cabelo bagunçado, lágrimas secas pelo rosto e olhos tão vermelhos quanto as íris; o rosto já mostrava deformidades pela quantidade de vezes que ele mutilara a própria alma. Lembrou-se de caminhar até ele sem ter ideia da imprudência que ele havia cometido de criar tantas horcruxes e o quão irritada já estava com Riddle por apresentar sinais de desobediência e infelicidade em cumprir suas ordens. Morgana havia olhado para Tom, na época, e indagado com desdém o que era toda aquela cena ridícula, destruindo toda a mobília como se fosse um moleque descontrolado e mimado, e a resposta que recebeu foi um olhar carregado de rancor e tristeza, sem satisfações além de um retruque petulante.

O talento inegável daquele rapaz com espírito de fedelho foi o que o manteve vivo depois de tantos desaforos, mas Morgana decidiu que nada faria para impedi-lo de cair na armadilha montada por Peter Pettigrew.

─── Esqueçam, eles já estão longe. Vamos embora ── não foi preciso elevar muito o tom de voz para que todos retornassem prontamente.

─── Minha Senhora... ── Bellatrix aproximou sem romper o limite de uma distância respeitável, curvada em uma meia reverência. ── Podemos procurá-los mais uma vez se for o seu desejo. Contatos ainda existem, servindo a nós, por todo o mundo.

─── Não precisa, eles virão até nós ── ela olhou para a própria mão banhada em sangue, tinha certeza de que Severus havia dito seu plano. ── Estejam prontos para um combate, Rodolphus e Rabastan são prova de que nosso inimigo não terá misericórdia. Eu não quero tolos que morram pela causa, quero que lutem por ela, não se entreguem, sejam atentos e não aceitem a morte sem que levem pelo menos um inimigo junto.

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