Capítulo 17

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Terminaram o café e tomaram um banho para sair. Enid se arrumou primeiro e deixou Wednesday terminando de se arrumar no quarto. Foi atrás de Esther.
 
- Bom dia mãe.
 
- Bom dia minha filha. Chegaram ontem que eu nem vi.
 
- Não chegamos tarde. Tive aquele pesadelo essa noite.
 
- De novo filha? Está se sentindo bem?
 
Enid fez que sim com a cabeça e depois sorriu.
 
- Não estava sozinha quando acordei.
 
Ela sempre tinha pesadelos e todos eles com a ex namorada, sempre sobre o episódio do dia em que a garota terminou o namoro. Acordava chorando e assustada toda vez.
 
- Mãe, vamos pra Penedo, a senhora vem conosco né?
 
- Não minha filha, vai curtir seu passeio.
 
- Eu quero que a senhora venha, não vim aqui só para trazer Wednesday. A senhora adora Penedo que eu sei e adora aqueles chocolates de lá.
 
- Ta bom, vou me arrumar.
 
Wednesday apareceu no alto da escada quando Esther ia subindo.
 
- Olha que linda que ela está!
 
Usava uma calça grossa de lã preta e uma blusa branca também de lã, as botas até o joelho e os cabelos lavados e soltos.
 
- Vai fazer sucesso em Penedo. - Esther brincou.
 
- Hei, que isso. Essa aí já tem dona. - Enid revidou.
 
- Isso tudo aqui é obra da sua filha, que fica comprando as coisas pra mim. Se estou bonita é culpa dela.
 
- Mas é bonita pra mim e não para os outros.
 
- Deixa eu me arrumar, senão atrasa. - Esther subiu as escadas e foi para seu quarto.
 
Wednesday se aproximou lentamente de Enid que já a olhava com cobiça. Enlaçou seu pescoço com os braços e a beijou.
 
- Hum... está cheirosa. - a loira falou.
 
- Gostou?
 
- Adorei. Vai me dar trabalho hoje. Vou ter que ficar de olho.
 
- Então verá que só tenho olhos para você, sua boba.
 
Ficaram de namoro na sala até Esther voltar. Dessa vez foram só as três, pois os garotos passariam o dia com Jackie.
 
Chegando em Penedo, deixaram o carro no centro e passearam por ali. A cidade era conhecida como a Finlândia Brasileira, suas casas e lojas eram em estilo colonial. E assim como Mauá também era rica em paisagens e cachoeiras. Visitaram algumas lojas, foram ao museu e depois almoçaram. Antes de irem embora foram comprar chocolates. A loja era imensa e Wednesday não sabia pra onde olhar.
 
- Vou levar uns chocolates para casa. Minha mãe adora!
 
- E esses daqui são muito gostosos. - Esther falou.
 
Wednesday comprou algumas barras e bombons. Levou também um licor para seu pai.
 
- Hum, esse licor ta com uma cara ótima. Vou levar um também. - Enid se animou.
 
Após as compras as três ainda andaram mais um pouco por Penedo, depois deram uma volta de carro e tentaram ir à Itatiaia para visitar o parque, mas estava fechado por conta do mal tempo.
 
- Pena estar fechado, você ia gostar.
 
- Não tem problema, da próxima vez nós vamos.
 
- Gostou do passeio Wednesday? - perguntou Esther.
 
- Adorei! Mauá é muito bonita e Penedo também.
 
- Então pode vir quantas vezes quiser.
 
- Agradeço o convite.
 
Quando chegaram em Mauá deixaram as compras no quarto e foram a casa de Jackie. Ajax e Tyler tinham saído e as duas ficaram conversando. Jackie quis saber das aulas de Wednesday e confessou que sempre teve vontade de estudar música. Falou que tinha vergonha e por isso não quis aprender. Wednesday a encorajou e disse que ainda estava em tempo. Perto de anoitecer os garotos voltaram e todos lancharam na casa de Jackie mesmo.
 
Já no quarto, Wednesday arrumava suas coisas para viajarem no dia seguinte.
 
- Pra que a pressa? Vamos sair amanhã depois do almoço.
 
- É? Eu não sabia, achei que fosse de manhã cedo.
 
- Não amor, agendei meus compromissos no escritório para a tarde e você também não tem aula, não é?
 
- Sim.
 
- Devia ter te falado antes, desculpa.
 
- Não tem problema. Eu até gostei, o bom é que não preciso acordar cedo. Ou preciso?
 
Enid achou graça.
 
- Não linda. Dormiremos até mais tarde.
 
- Eu gosto de dormir.
 
- Sei disso.
 
- Você acha ruim? - Wednesday parecia insegura.
 
- Não. Eu durmo pouco porque tenho pouco sono mesmo. Deve ser porque sou tensa como você falou.
 
Wednesday sentiu certo incômodo na frase da namorada. Aproximou-se de Enid, que estava sentada na bay window, e segurou suas mãos.
 
- Quando disse que você era tensa não foi uma crítica. Só pensei que talvez pudesse ficar mais tranquila, acho até que a sua profissão exige um pouco de tensão mesmo. Exige que você seja mais articulada, mas nos momentos de folga pode relaxar.
 
- Às vezes não consigo relaxar.
 
- Por que não?
 
- Não sei. Falta de prática talvez, a gente se acostuma a ser de uma forma que fica difícil mudar depois.
 
- Você gostou mesmo da massagem?
 
- Gostei.
 
- Então vou fazer sempre que quiser.
 
- Todo dia!
 
- Amor, todo dia não dá. - Wednesday sorriu.
 
Ficaram conversando e namorando no quarto. Mais a noite foram para a sala fazer companhia a Esther, que assistia TV. Wednesday se recostou no sofá e esticou os braços para dar colo à namorada.
 
- Colinho bom esse. - Enid a abraçou.
 
- Vou fingir que nem ouvi, porque até então o colinho bom era o meu. - Esther falou fingindo indignação.
 
- Ah mãe, os dois colos são bons, tenho o seu aqui e o dela no Rio.
 
- Sei...
 
- Ciumenta.
 
- Eu não.
 
Wednesday se divertia com as duas, era impressionante a cumplicidade que tinham.
 
- Colo de mãe não tem igual, a minha não é de dar colo, mas só de sentir ela perto de mim eu gosto. Mãe tem esse dom de passar calma para os filhos.
 
- É verdade, quando mamãe está perto eu não tenho medo de nada.
 
- Quem tem medo sou eu. - Esther brincou. - Enid já fez cada coisa que foi de arrepiar os cabelos.
 
- Como assim? - Wednesday ficou curiosa.
 
- Ela já fez esses troços de descer da corda, de nadar num bote no meio da correnteza, já voou num paraquedas maluco.
 
- Esportes radicais então hein mocinha?
 
- Eu fazia, até que enjoei. Agora to sossegada.
 
- Graças a Deus! - Esther levantou as mãos para o alto como que agradecendo e fazendo as duas rirem.
 
Wednesday e Enid ainda ficaram assistindo TV um tempo, até que resolveram ir para o quarto. Como havia prometido, a pianista fez outra massagem em Enid, mas dessa vez ela não dormiu. Esperou a namorada para dormirem juntas. No meio da noite a loira acordou e ficou olhando Wednesday dormir, sua cabeça deitada em seu peito e o rosto virado para ela. Acariciou-o e depois seus cabelos, fazendo ela se mexer um pouco. De repente lhe deu uma vontade louca de beijá-la e assim fez. Abaixou um pouco e beijou seus lábios, mordeu de leve, depois passou a língua. Wednesday sentiu aquele toque e acordou. Lentamente os beijos deram lugar a gemidos e toques provocantes, fizeram amor no meio da madrugada e adormeceram novamente.
 
A claridade do quarto foi quem acordou as duas. Enid primeiro, pois não gostava de claridade. Olhou para o relógio e viu que estava quase na hora de partirem. Levantou-se, tomou um banho e ajeitou suas coisas. Depois acordou Wednesday.
 
- Amor... - Beijou-lhe os lábios. - Lindinha, vamos levantar? A gente toma café e parte.
 
Wednesday abriu os olhos e sorriu com doçura.
 
- Acordar esses dias todos com esse sorriso compensou todo o passeio. - Enid sorriu e a beijou.
 
- Estamos atrasadas?
 
- Ainda não, mas tem que se levantar e se arrumar.
 
- Ta bom. - Ela se espreguiçou como uma gata.
 
Enid passou a mão na sua barriga fazendo cócegas e Wednesday se encolheu.
 
- Vou descer e ficar com mamãe lá embaixo.
 
- Ta bom, já desço.
 
Wednesday se levantou e foi para o banho.
 
Na cozinha Enid conversava com a mãe que ajeitava a mesa para tomarem café.
 
- Já comeu mãe?
 
- Sim, acordei cedo, dormi cedo também. Que horas vocês vão?
 
- Depois do café um pouco, não quero correr e chegar no Rio em cima da hora. Wednesday tem aula logo após o almoço.
 
- Ela gostou da viagem?
 
- Adorou.
 
- É tão fácil agradá-la.
 
- Sim. - Enid sorriu.
 
- E então? Está tudo bem aí nesse coração?
 
Enid suspirou e pensou para responder.
 
- Está sim mãe. Eu gosto dela, Wednesday é extremamente carinhosa e faz isso sem precedentes, espera de mim o que ninguém espera.
 
- É porque você estava acostumada com relacionamentos por interesse. Com ela não, noto que é diferente.
 
- Sim, mas eu às vezes ainda a trato como uma menininha, que é o que ela me parece ainda.
 
- Ela vai amadurecer, dê tempo ao tempo. Garanto que se tornará uma pessoa madura e sensata. Ela tem princípios.
 
Enid contou sobre o celular, as roupas que havia comprado e o comportamento de Wednesday. Esther deu razão à pianista, dizendo que a filha não poderia proporcionar essas regalias sempre.
 
- Às vezes isso irrita Enid. Ela quer ser independente e você está tornando-a dependente de você.
 
- Vou maneirar, mas eu gosto de vê-la feliz.
 
- E sabe que pra isso precisa fazer muito menos.
 
Nesse instante Wednesday apareceu na cozinha.
 
- Bom dia.
 
- Bom dia menina. - Esther falou. - O café está esperando.
 
- Estou com fome mesmo.
 
Sentaram-se para comer e Esther acabou as acompanhando.
 
Após comerem e conversarem um pouco, as duas se despediram de Esther e foram chamar Ajax e Tyler. Saíram todos na calçada.
 
- Wednesday, adorei te conhecer. Volte mais vezes! - Jackie falou.
 
- Obrigada dona Jackie. Voltarei sim.
 
- Que isso de Dona Jackie. Só Jackie ta bom. - sorriu.
 
- Mãe fique com Deus, eu ligo quando chegar. - Enid falou para Esther.
 
- Vê se faz o mesmo desnaturado! - Jackie chamou a atenção de Ajax.
 
- Sim senhora.
 
- Obrigado pela estadia Jackie. - Tyler agradeceu.
 
- De nada meu filho, volte sempre que quiser também.
 
Todos se despediram e os quatro saíram. Já dentro do carro Enid conversou com os garotos.
 
- Gostaria de pedir um favor a vocês. Wednesday e eu estamos meio pé atrás com Bianca, não sabemos se ela desconfia, se sabe da gente e se concorda com o relacionamento. Por um tempo, podiam nos dar uma ajuda, nos acobertando.
 
- É, Bianca ainda é uma incógnita pra mim. - disse a pianista.
 
- Como seria isso? - Ajax perguntou.
 
- Quando Wednesday for lá para casa, podia dizer que ela está na casa de Tyler, em viagens que fizermos foram vocês que convidaram. Essas coisas.
 
- Por mim sem problema. - Tyler falou.
 
- Cobro taxa extra. - Ajax brincou.
 
- Sabia. Você tem décimo terceiro, décimo quarto salário, benefícios e ainda quer taxa extra? - a loira sorriu.
 
- Décimo quarto salário? - Wednesday arregalou os olhos.
 
- É, meu bem. Seria uma participação nos lucros.
 
- Poxa, vou largar a vida de músico e virar advogada. - desabafou.
 
- E não é Wednesday? Ser músico ta dureza. - Tyler brincou.
 
- Se ta. - disse ainda surpresa, fazendo todos rirem.
 
Chegando ao Rio, Enid deixou os garotos na casa de Ajax e saiu com Wednesday. Ainda dentro do carro perguntou:
 
- Almoça comigo?
 
- Hum... - parou pra pensar. - Almoço! - disse beijando-a.
 
- Onde quer ir?
 
- Não sei, pode ser na sua casa?
 
- Lá em casa? Por quê?
 
- Porque lá é mais tranquilo e eu posso namorar mais um pouco.
 
- Gostei da ideia.
 
Foram para o apartamento e Enid pediu o almoço. Sentaram no sofá para esperar a refeição e ficaram namorando. Depois ela deixou Wednesday na porta da faculdade.
 
- Vejo você hoje ainda? - ela perguntou.
 
- Não sei amor, que horas você sai do escritório?
 
- Mais tarde, como não trabalhei de manhã, deve ter muita coisa pra fazer agora.
 
- Talvez quando sair, já estarei em casa.
 
- Eu te ligo então, pode ser?
 
- Pode.
 
Beijaram-se e se despediram.
 
Quando Wednesday saiu do carro alguns alunos a olharam novamente e assim que pisou na faculdade deu de cara com Bianca.
 
- Wed! Como foi de viagem?
 
- Nossa, foi ótima. Lá é lindo e eu trouxe um presente pra você. - Tirou da mochila uma pequena caixa com chocolates e lhe deu.
 
- Chocolate! Vou comer agora!
 
- De jeito nenhum! - Chegou seu professor. - Vai comer chocolate e fazer aula? Quer babar essa gosma na flauta menina?
 
- Ah, só um!
 
- Só se me der um também. - ele brincou.
 
- Wed, vou pra aula e depois quero os detalhes.
 
- Ta bom.
 
Wednesday foi assistir a suas aulas e depois aproveitou o horário vago para estudar. Vez ou outra Enid mandava uma mensagem carinhosa no celular.

Melodia | Wenclair (REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora