Capítulo 78

592 60 1
                                    

No dia seguinte Wednesday acordou primeiro que Enid. Ficaram acordadas até tarde no dia anterior e nem viram a hora que adormeceram. A loira dormia de bruços tinha uma expressão tranquila. Wednesday alisou seus cabelos e sorriu. Resolveu levantar e preparar o café da manhã, sabia que pela hora Esther já deveria estar acordada. Desceu as escadas e encontrou com ela saindo da cozinha.

- Bom dia!

- Ei menina, acordada primeiro que Enid?

- Ta vendo como ela é dorminhoca?! – riu.

- O café está pronto e pela sua cara vai querer levar pra ela no quarto não é?

- Na verdade eu tive outra idéia. – Wednesday riu se divertindo.

Mudou de roupa e colocou um vestidinho bem fresquinho, botou um chapéu de papai Noel e arrumou a mesa com detalhes natalinos. Aguardou que Enid acordasse, mas ela estava demorando então Esther foi chamar.

- Enid, acorda minha filha! Daqui a pouco é hora do almoço e você aí dormindo ainda. – abriu as cortinas clareando todo o quarto.

Ela abriu os olhos com relutância e fez uma careta.

- Nossa mãe que delicadeza em me acordar. – virou para o lado e passou a mão pelo colchão da cama – Cadê Wednesday?

- Ela saiu.

- Saiu? Pra onde?! – se levantou.

- Ela disse que ia na rua ver umas coisinhas.

- Coisinhas? Mãe hoje é feriado não tem quase nada funcionando.

- Não sei Enid, Wednesday saiu e pronto ué.

Enid se levantou irritada, acordou assustada, não viu Wednesday e sua mãe ainda não colaborava. Entrou para o banho e bateu a porta. Esther começou a rir, saiu do quarto e foi falar com Wednesday.

- Ela ta uma fera. Levantou até bufando e foi tomar banho.

Quando ouviram o barulho dela descendo as escadas pararam de conversar. Enid entrou na cozinha meio distraída.

- Bom dia! – Wednesday falou para que ela olhasse.

- Ué? – fez uma cara confusa. – Mamãe disse que você tinha saído...

- Ela te enganou. – Wednesday riu. – Arrumei a mesa no estilo natalino.

- To vendo. – riu – Tem até uma mamãe Noel. – se aproximou e a beijou na boca. – Está linda! – beijou de novo. – E a senhora me enganou. – virou-se para a mãe.

- Morri de rir da sua cara enfezada.

- Vem amor, vamos tomar café, meu estômago está gritando. – Wednesday reclamou e puxou a cadeira para se sentar.

- Tem que se alimentar bem daqui pra frente viu mocinha, come por dois agora. – Esther falou.

- Ela já comia por dois, ela e o estômago. Agora vou ter que trabalhar dobrado porque a conta do supermercado vai aumentar consideravelmente. – Enid implicou com Wednesday.

- Hum. – ela fez bico. – Eu acordo cedo, preparo uma mesa linda dessa e ela ainda implica comigo.

- Oh lindinha desculpa. Está tudo muito bonito. – lhe deu um beijo e sentou ao seu lado.

Esther já tinha tomado café, então resolveu deixar as duas sozinhas.

- Vou descer pra comprar uma revista e já volto.

Assim que ela saiu Enid puxou Wednesday e deu um beijo demorado.

- Isso é pra você saber que te amo.

- Também te amo. – sorriu. – Quer suco ou leite?

- Suco, comi tanto ontem que nem to com tanta fome assim. – pegou uma torrada.

- Eu to. Antes de você descer eu tava beliscando aqui. – deu um sorriso sapeca. – Não aguentei te esperar.

- Depois reclama que te chamo de gulosa.

- Você é chata! – fez bico. – Fica pegando no meu pé.

- Sou a chata que você mais ama.

- Amo!

Ficaram de conversa na cozinha até Esther subir.

- Vocês estão aí ainda? Eu achei um povo perdido lá embaixo.

- Bom dia!

Era Yoko e Tyler.

- Oi! Cadê Sarah? – Wednesday perguntou.

- Não veio, foi passar o dia na casa de uma amiga. Ainda estão tomando café?

- É que Enid acordou agora.

- Tem waffles! – Tyler cresceu o olho. – Vou comer um.

- Você disse que tava de dieta. – Yoko o repreendeu.

- Que isso Yo, desde quando se faz dieta no natal? Deixa ele. – Wednesday falava e passava requeijão no waffles. – Senta e come também que eu sei que você adora.

- Lembra quando a gente fazia em São Paulo? Era rodízio de waffles. – Yoko falou. – Tinha de tudo, com patê, requeijão, presunto, camarão e depois vinha de sorvete, chocolate, mel, geleia.

- Passávamos o dia todo sem comer praticamente, só pra aguentar a comilança de noite.

Enid achava graça quando Yoko e Wednesday falavam sobre a rotina delas em São Paulo, dava para notar que a empresaria tinha uma vida simples e muito tranquila. O papo rendeu tanto na cozinha que a hora passou e ninguém viu. Quando perceberam já passava do horário do almoço. Resolveram não almoçar e passar a tarde beliscando o que haviam comido na noite anterior. Aquele foi o natal mais feliz que Enid já tivera. Estava em família, entre amigos e com a mulher que amava. Sabia que para Wednesday aquele Natal seria diferente, pois passaria longe da mãe e da sobrinha, mas fazia de tudo para agradá-la e pra que não sentisse a falta da família.



Após o Natal veio a semana antes do ano novo, Wednesday somente cumpriu alguns compromissos no estúdio e aproveitou para marcar uma consulta com Demetria; começava agora o pré-natal. No escritório de Enid as coisas estavam mais tranquilas, então ela resolveu dar andamento na sua dispensa do caso de Fabio Medina. Liberou todo mundo e desejou a eles uma boa passagem de ano. Parisa e Niall passariam a virada em Arraial do Cabo, sugestão de Enid.

No dia da virada ela resolveu ligar para alguns conhecidos, mas não teve sucesso. Estava desistindo quando achou o telefone de um antigo professor e que há pouco tinha se mudado para o Rio de novo. Seu nome era Alcino e ele tinha lhe dado aula nos dois últimos períodos da faculdade, depois sempre o encontrava nos tribunais de Curitiba, pois era juiz. Quando se aposentou ele voltou para o Rio de Janeiro. Enid pegou o telefone e ligou, pensou até que ele estivesse viajando, mas graças a Deus não estava.

- Alcino, sou eu, Enid. Tudo jóia?

- Enid como vai? Feliz natal, atrasado! – riu. – E já desejo feliz ano novo!

- Pra você também. Passou o feriado aqui no Rio?

- Sim, minha esposa quis ficar, pois a mãe dela está doente e precisando de cuidados.

- Que pena, espero que melhore.

- Preferi ficar aqui também, viajar nessa época é sempre tumultuado.

- Verdade.

- O que você manda? Pra me ligar numa semana entre Natal e réveillon não é coisa à toa. – sorriu.

Enid gostava da franqueza de Alcino, por isso se deu bem com ele na faculdade, era sua melhor aluna.

- Preciso de um favor, se puder me ajudar eu agradeço.

- Venha até minha casa, conversamos aqui.

Imediatamente ela foi até a casa dele e lá conversaram melhor. Enid contou tudo sobre o caso de Fabio, mas Alcino já estava a par. E depois falou do seu envolvimento com Mia. Ele já sabia que Enid era gay e Mia também, sempre respeitou as decisões dela e nunca tiveram atrito por isso. Não eram amigos íntimos, mas se respeitavam no trabalho e se davam bem.

- Mia é tinhosa. Está te colocando nesse caso somente por implicância.

- Eu sei, mas não quero me meter nisso. Não só por trabalhar com ela, nem é isso que me incomoda. – olhou para o juiz. – Alcino, pela primeira vez na minha vida estou com medo de pegar um julgamento. Sabe que nunca me esquivei de nada e encarei tudo quanto é tipo de processo, mas agora... – pausou.

- Agora?

- Estou casada, tenho uma mãe que precisa de mim e minha esposa está grávida.

- Enid... que beleza! – falou um tanto assustado.

A loira percebeu a falta de jeito do juiz, mas relevou.

- Descobrimos há poucos dias. – sorriu. – Minha vida está acomodada e não quero me enfiar numa situação onde tenho certeza que o fim não será só justiça, sabe que mexer com um mafioso do porte de Fabio é perigosíssimo e só Mia parece não entender isso.

- Ela quer o status de ser a juíza do julgamento dele. Quer sentenciar a condenação dele.

- Está sentenciando a própria morte. – Enid foi enfática.

Alcino concordou com ela e resolveu ajudar.

- Vou dar uma sondada e entrar em contato com alguns amigos. Sabe se tem alguém interessado neste caso?

- Se tiver, deve ser algum doido que nem Mia.

- Eu saberei, te ligo após o ano novo, hoje mesmo já começo a ver isso.

- Muito obrigada Alcino. – Enid segurou a mão dele.

- Sabe que tenho um carinho muito grande por você, tive poucos alunos que foram tão interessados em direito sob o ponto de vista da justiça. A maioria hoje em dia visa o dinheiro e você não era assim. Tenho orgulho de ter sido seu professor, conto isso pra muita gente. – sorriu. – Vou te ajudar menina, pode ficar tranquila.

- Agradeço mais uma vez e feliz ano novo!

- Pra você também querida.

Enid saiu aliviada da casa de Alcino e esperando uma resposta positiva. Passou no mercado e comprou umas bebidas para a passagem do ano. Estava lotado quase desanimou, mas se manteve firme e teve paciência. A virada seria como no natal, ficariam em casa mesmo na companhia de Yoko e Tyler. Enquanto aguardava na fila do caixa ficou pensando sobre o ano que estava acabando. Começou como todos os anos anteriores, desanimada, sem rumo e de repente a vida lhe deu uma volta quase milagrosa.

“Deus, não sei mais como agradecer o presente que o senhor me deu.”

Saiu do mercado e foi direto pra casa, quando a porta do elevador se abriu ela ouviu o som do piano, Wednesday estava tocando. Entrou e parou atrás dela para admirá-la. No final da música Wednesday falou sem olhar para trás:

- Vai ficar parada aí?

- Como sabe que estou aqui? Eu nem fiz barulho.

- Eu tenho olhos de águia. – brincou e virou no banco. – Na verdade dá pra ver o reflexo no piano. – riu.

- Espertinha. – Enid se aproximou para beijá-la.

- Demorou amor, ficou presa no escritório?

Enid logo pensou na conversa com Alcino.

- Não. – beijou-a. – Fiquei presa no mercado. Juro que se não fossemos receber visitas eu teria desistido de comprar, a fila estava enorme. – fez um gesto engraçado. – Mas continue tocando bebê. Vou colocar as bebidas no freezer. – beijou de novo.

- Vou te ajudar, eu estava só desenferrujando os dedos. – a acompanhou até a cozinha. – Às vezes eu fico com preguiça de tocar no teclado lá no estúdio e pego sempre o violão que é mais fácil. – ia pegando as garrafas e entregando à Enid. Parecia meio chateada e a loira pensou ser por conta da família dela.

- Falou com sua mãe depois do natal?

- Eu liguei lá pra casa, mas não atendeu. Depois mandei um e-mail para Perrie, ela me respondeu hoje. Disse que foram para o sítio e voltaram ontem à noite para passar o réveillon na cidade. Mandou fotos de Sofia, ela ta tão bonitinha. – sorriu. – Está cobrando a mãe uma vinda pra cá. Passou o aniversário dela e eu nem pude ligar. Mandei um presente, depositei um dinheiro na conta da mãe dela e pedi que comprasse algo que estava precisando.

- Fez bem. E por que ela não vem?

- Com quem amor? Perrie não pode vir por causa do trabalho, por ela mandaria Sofia com alguém, mas minha mãe pelo visto não vem mais. – respondeu chateada.

- E se fossemos buscá-la?

- Acho que perderíamos a viagem.

- Hum. – Enid ficou pensando. – Converse com sua cunhada, se ela topar nós pegamos Sofia e viajamos com ela. – falou empolgada.

- Deixa virar o ano, hoje não quero pensar nisso.

- Ta bom.

A tarde ficou por conta de uma arrumação no apartamento, já à noite estavam as três animadas com a virada do ano. Wednesday vestiu uma saia longa e uma blusa justa os dois brancos com detalhes em prata. Enid preferiu um macacão que fez jus a seu corpo. Logo à noite Yoko e Tyler chegaram numa agitação danada e Sarah repreendendo a mãe que estava bastante efusiva.

- Mãe, quer parar com as gracinhas?

- Gente! Tem mais de cinco anos que não passo o réveillon ao lado de alguém. Tem noção disso? – Yoko falava sorrindo.

- Salvei sua virada de ano hein? – Tyler a abraçou.

- Eu salvei a sua também viu, não tire tanta onda. – deu um beijo nele.

- Se eu olhasse esses dois separadamente não diria que combinavam tanto.

Conversa vai conversa vem Esther se lembrou de Jackie que havia ficado em Mauá.

- Bobeira dela não vir ficar com a gente. – Enid falou.

- Ela quis passar o ano quieta no canto dela, respeitei isso.

- O nosso amigo, como está? – Tyler se referiu a Ajax.

- Ele liga e fala que está bem. – Esther quem respondeu. – Está estudando e focado na carreira. Torço para que se dê bem.

- Também espero que sim. – Tyler comentou numa boa.

Enid se manteve calada, não tinha mais interesse em Ajax e não queria parecer falsa perguntando sobre ele, realmente não queria saber. Wednesday também ficou quieta ainda mais por não ter falado nada sobre a conversa que tiveram, aquele assunto pra ela já era passado. O assunto sobre Ajax não se estendeu muito, logo mudaram o rumo da conversa. A música tava boa, o papo agradável e quando deu perto de meia-noite foram para o terceiro andar, onde moravam não dava para ver os fogos de Copacabana, mas foram lá pra fora comemorar assim mesmo. Na contagem regressiva Esther deu a mão a Sarah que pegou a de Yoko e assim por diante todos deram as mãos e fizeram a contagem falando juntos.

- 10, 9, 8, 7, 6 ,5 ,4 ,3 ,2 ,1 Feliz ano novo! – sorriram com a virada.

Cada um desejou felicidade e sorte ao outro entre sorrisos e um abraço gigante. Yoko deu um beijo em Tyler e Esther abraçou Sarah. Enid puxou Wednesday e a abraçou, depois se olharam com carinho e o beijo foi inevitável. As línguas se buscavam mutuamente, normalmente elas não se beijavam assim na frente de outras pessoas, mas era ano novo e mereciam.

- Uhu! Ano novo galera! – Yoko gritava animada. – Aí amor, você nem me dá um beijo assim. – reclamou com Tyler.

- Ah meu Deus, que carência, vem cá. – puxou Yoko e a beijou também.

- É Sarah, ficamos só nós. – Esther olhou para os casais sorrindo.

- Que coisa mais pegajosa, aff. – a menina revirou os olhos.

- Feliz ano novo meu amor. – Enid falou com os lábios colados nos de Wednesday.

- Pra você também querida. – Wednesday sorriu.

Ao se separarem as duas sorriram uma para a outra como que enfeitiçadas. Yoko que as tirou do transe.

- Galera vamo beber pra animar! – já vinha pulando com a garrafa de champanhe na mão.

Esther esticou uma taça para que ela enchesse e Tyler também.

- Não vai beber figura? – Falou com Enid.

- Hoje não, vou acompanhar minha esposa que não está bebendo também.

- Isso aí, grávida não pode beber. Tem que acompanhar mesmo, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, no champanhe ou no suco! – riu e levantou a taça. – Um brinde a nós!

Todos brindaram sorrindo, mais um ano vindo e cheio de novidades boas.



Passados os dias de festas e feriados a rotina foi voltando ao normal. Esther foi embora para Mauá e Enid e Wednesday retomaram o trabalho. Haviam combinado umas férias, mas somente quando a promotora terminasse um trabalho já com data para julgamento. Wednesday precisou contratar mais dois músicos e não conseguiu. Por conta das férias, teve dificuldade de achar aluno na faculdade. Então Simon a ajudou e ficou sabendo da gravidez.

- Não acredito que vou ser avô! – falou sorrindo.

- Viu como são as coisas, me conheceu menininha e agora já serei mãe.

- To vendo é que to ficando velho. – fez uma cara feia e depois sorriu. – Meus parabéns querida! Desejo muita saúde e felicidades ao bebê e a sua família.

- Se Deus quiser. – sorriu desanimada. – Família não é uma constante na minha vida agora, mas ainda bem que tenho amigos verdadeiros como você. São minha família de coração.

Simon entendia a situação de Wednesday e tentou consolar.

- Deus não tira sem nos dar alguma coisa boa em troca. Se não está bom agora, é porque ainda não acabou. Porque no final tudo acaba bem, não é?

- É verdade. – falou mais animada.

- Agora, vamos ao trabalho. Na falta de aluno, vai o professor mesmo.

- Quer melhor? – riu. – Preciso gravar uma chamada para uma séria que será transmitida por uma emissora. Pensei em você no piano, Diogo no violão e eu fico na percussão.

- De jeito nenhum! E eu vou deixar de ter o privilégio de ver você tocando? Há quanto tempo não me dá essa graça!? – riu. – Você no piano, por gentileza.

Os dois riram e entraram para o estúdio. Só saíram quando a gravação estava impecavelmente terminada.

No quarto as duas conversavam após o banho.

- Depois do julgamento posso tirar uns dias amor. Que tal se fossemos buscar Sofia e levá-la para passear?

- Primeiro tenho que conversar com Perrie, depois ver uma data melhor no estúdio e...

- E quem sabe ver se tem hora pra sua esposa. – falou fingindo mágoa.

- Ô que pecado, não estou lhe dando atenção? – Wednesday largou o vidro de hidratante e foi abraçar Enid. – Vem aqui bichinho que eu dou um jeito nesse bico. – mordeu a boca dela.

- Bichinho? Faz tempo que não me chama assim. – sorriu.

- Você sempre foi e sempre será meu bichinho. – Wednesday a beijava com doçura.

Ficaram de chamego até dormirem.

Melodia | Wenclair (REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora