Capítulo 34

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Enid estava no escritório pedindo um almoço e esbravejando com a demora do pedido.

- Mas que diabo! Será que é tão difícil entregar um almoço? E olha que vocês estão a metros do meu escritório!

Ajax estava entrando na sala e viu a cena de olhos arregalados.

- Ok, não quero mais, muito obrigada... Não quero saber se já está pronto. Se estivesse, a comida estaria aqui na minha frente.

Enid bateu o telefone e bufou de raiva.

- Ei, trouxe um lanche pra mim, vamos dividir. - falou calmo.

- Quero almoço Ajax, não lanche.

- É comida japonesa, você gosta.

Enid olhou para ele, ainda de cara feia, depois suspirou.

- Ta bom, traz aqui. E obrigada.

Ele foi até a sala dele e voltou trazendo a barquinha de sushis, sashimis e etc.

Sentados comendo, ele resolveu perguntar:

- Enid, hoje você está mais nervosa, que houve?

- Trabalho, muito trabalho.

- Você já trabalhou muito outras vezes e não se estressou tanto.

- Ai Ajax, não amola. - se irritou novamente.

Ele não disse nada, então ela ponderou e falou calmamente.

- É falta de sexo, não vejo Wednesday direito faz semanas e quando vejo ela está cansada e confesso, eu também.

- Sexo? Cadê aquele papo de fazer amor?

Enid somente revirou os olhos e novamente se irritou. Tomou um pouco de suco e continuou.

- Tenho uma audiência amanhã. Aquele outro caso de pedofilia.

Ajax apenas assentiu com a cabeça.

- Adivinha qual juiz está no caso?

O rapaz fez sinal de que não sabia.

- Ou melhor, juíza. É Mia.

- Ih, mas que inconha.

- Nem me fale, isso vai me render uma aporrinhação.

- Faça seu trabalho e saia de lá.

Enid ficou olhando para o copo de suco como se olhasse uma bola de cristal. Ajax não quis esticar a conversa, pois conhecia bem a prima e principalmente a chefe.

À noite, ela chegou em casa e ligou para Wednesday.

- Onde está?

- Estou na faculdade, tendo aula com Simon.

- Você veio aqui hoje? Estou em casa.

- Fui pra pegar umas partituras e estudar um pouco.

- Vai voltar?

- Não, vou sair tarde daqui. Vou amanhã, pode ser?

- Eu te pego, vem aqui hoje.

- Ai amor, vou sair tarde e é longe. Amanhã tenho aula cedo, show à noite. Prometo sair da aula e ir direto para seu escritório.

- Amanhã tenho audiência, não vou ao escritório.

- Te encontro a noite no apartamento antes do show então.

- Ta bom Wednesday. Boa aula.

Wednesday sentiu a chateação na voz da namorada.

- Desculpa, prometo que amanhã nos encontramos. - tentou argumentar.

- Tudo bem.

- Te amo viu?

- Eu também.

Desligaram, mas Wednesday não se deu por satisfeita. Infelizmente não podia fazer muito e não iria se sacrificar, Enid teria de entender. A promotora por sua vez ficou chateada, queria ficar com Wednesday, principalmente antes de encontrar com Mia. Não sabia ao certo por que, mas era importante para ela.


No dia seguinte a promotora acordou cedo, se arrumou e foi direto para o fórum. Encontrou com Ajax chegando também.

- Pronta?

- Pronta.

- Amem! Vamos lá!

Assim que a audiência começou e Enid pisou no tribunal, sentiu os olhos de Mia pousarem sobre ela. Começou primeiro o advogado de defesa, falando por um longo tempo. Seguido dele Enid falou com a imponência de sempre e a segurança de quem não estava ali disposto a ser derrotado. Mia a devorava com os olhos e de certa forma isso incentivou ainda mais o seu discurso. Houve um recesso e nesse tempo Enid aproveitou para almoçar, correu dali com Ajax e nem viu a cara de Mia. Horas depois, quando voltaram o advogado de defesa a cumprimentou e sentou-se para falar sobre o caso.

- É Enid, hoje você não ta me dando trégua. Já lhe peguei em outros casos, mas confesso que esse é o mais difícil.

- Marcos, você sabe bem que as chances do seu cliente são mínimas, o que você vai fazer é atenuar a pena, mas isso se eu deixar.

- Cá entre nós, a juíza parece estar mais do seu lado que do meu.

- Não existe isso. - Enid desconversou.

- Ok e quando você fala os olhos dela brilham. Hoje você se superou.

- Obrigada, aceito o elogio. - sorriu.

Quando Mia entrou, os dois se separaram e voltaram ao trabalho. Passava das seis da tarde quando a juíza deu seu veredicto.

- Em virtude dos fatos aqui apresentados e por abranger a lei onde já é crime o abuso sexual, quão grandemente é criminoso o distúrbio de conduta sexual, onde o indivíduo adulto sente desejo compulsivo por crianças. Crime este absurdamente irracional, repugnante e mórbido. Pela promotoria apresentar provas contundentes deste caso e brilhantemente defender a honra dos inocentes e indefesos. Declaro o réu Jurandir Cardoso de Souza culpado! A cumprir pena em regime fechado por trinta e cinco anos, sem direito a fiança. - bateu o martelo.

O réu abaixou a cabeça e os guardas o levaram. Enid olhava para Mia e depois do veredito, se recolheu e entrou na sala reservada aos promotores, estava pegando sua pasta quando Mia entrou.

- Sua atuação foi brilhante e merece meu elogio. - a voz era grave.

- Obrigada. - Enid se virou. - Sabe que em casos como esse eu faço o que for preciso para a condenação.

- Sei sim e a admiro por isso.

Para estranheza e alívio de Enid, Mia não deu em cima dela e não foi inconveniente como de costume.

- Preciso ir. - a loira falou pegando sua pasta e saindo. - A propósito, suas palavras no final fecharam com a dignidade devida.

- Obrigada, fico lisonjeada vindo de você.

Sorriram mutuamente e Enid se foi.

Dentro do carro voltando para casa ela se manteve séria e parecendo pensativa. Ajax não quis comentar sobre nada. Desceu em sua casa e de lá Enid seguiu para a sua.

Melodia | Wenclair (REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora