o prólogo

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"Amor, você não é bom para mim
(...) Mas, amor, eu quero você"

...

23h. Sexta-feira.

O começo desta história é semelhante ao de muitas outras. Um romance proibido, porém ardente que reprime o bom senso e a consciência de seus protagonistas. Com o decorrer dos acontecimentos, haverá chances de causar angústia e repulsa a quem escutá-los. Em seu fim, a moral será clara: nem todos os crimes, não importa quão imorais sejam, são punidos pela justiça dos homens.

***

Era apenas o começo de um fim de semana. Depois de sua longa jornada de trabalho em uma das universidades mais antigas da Inglaterra, um homem de sobretudo entrou em um bar afastado do centro da cidade. O barman olhou-o de cima a baixo por um breve momento e voltou a preparar um drink sem muita atenção.

Porém... não se conteve e retomou o olhar em direção ao homem de sobretudo escuro, como se, de repente, algo nele o fizesse chamar mais atenção que o necessário. Devia ter por volta de 55 anos. Quando tirou o celular do bolso, a luz do aparelho iluminou as finas rugas ao redor dos olhos verdes. O cabelo louro escuro com poucos fios brancos estava bagunçado para frente, caindo sobre a testa. Não parecia um cliente aduaneiro, principalmente porque esbanjava um ar elegante, nada condizente com o estado daquela espelunca.

O barman aproximou-se dele.

– Boa noite. O senhor deseja algo para beber?

O homem passou a mão pelo rosto. Respirando profundamente, respondeu:

– Uma garrafa do seu melhor vinho tinto, por favor, e duas taças.

Voltando para perto da estante de bebidas, o barman analisava, vez ou outra, o homem de atmosfera sombria com quem acabara de conversar. Não sabia se o melhor vinho de seu estoque cairia no gosto de tão superior indivíduo, visto que, em sua mala de trabalho, havia o símbolo da mais prestigiada universidade do país, então esperava que seu acompanhante pudesse recompensá-lo com uma gorjeta pelo bom atendimento.

Após servi-lo um pouco de vinho, o barman ouviu um barulho de passos acima dos ombros, indicando que mais alguém acabara de entrar no estabelecimento. Antes que tivesse chance de se virar, o homem lhe chamou a atenção:

– Não olhe para ela. Se fizer isso, eu te mato.

O corpo do barman enrijeceu. Ficou imóvel, o olhar duramente fixado na parede acima da mesa do cliente. Engolindo em seco, a voz doce de uma garota soou atrás dele:

– Senhor...?

– Shh.

O professor colocou a mão sobre os lábios. Em seguida, sinalizou para que o barman retornasse em silêncio ao seu posto atrás do balcão. Ainda assustado, o pobre trabalhador assentiu e voltou a preparar alguns drinks para os clientes que deveriam chegar em breve.

A voz dela é linda, reparou.

A mulher bebericou o vinho colocado em sua taça, no rosto surgindo uma expressão tanto de medo quanto de receio. Felizmente não presenciara a ameaça que o parceiro fizera há apenas alguns segundos.

– O senhor esperou muito?

– Não se preocupe. Eu entendo, você teve outros compromissos.

Rindo baixo, a jovem direcionou sua atenção ao barman, que continuava de costas à espera de clientes que talvez nunca chegassem. Pela primeira vez, no entanto, notou que o corpo dele parecia tremer mais que o normal.

– Senhor Metsker, eu... queria pedir desculpas pelo que fiz naquele dia.

– Acha que eu te chamei aqui para conversarmos sobre isso?

– Imagino... que sim, certo? Porque eu não sabia que o senhor era casado.

As sobrancelhas do barman se levantaram. Nunca tinha presenciado uma história tão descarada e interessante de traição antes. Ele era pouco habilidoso com suposições, exceto quando assistia a programas de entretenimento em casa, mas, apenas pelo tom de voz, chutava que a garota tinha menos de 25 anos. Talvez... uns 23, no máximo?

Um silêncio constrangedor pairou sobre a mesa. A jovem se deu conta de que tinha falado além do necessário.

– Você está certa – o senhor Metsker bebeu o vinho. Acendeu um cigarro logo depois. – Mas fique em paz, não estou aqui para te denunciar ou qualquer coisa assim.

– Então por que estamos aqui a uma hora dessas, sem que ninguém saiba...?

Mais uma vez, o professor colocou o dedo sobre a boca para acalmá-la. Qualquer um perceberia que a garota estava muito nervosa, com receio de descobrirem seu segredo.

– Eu tenho uma proposta. Para isso, precisávamos nos afastar da universidade, já que muitas pessoas me conhecem.

– Entendo.

– Pois bem, você aceita me ouvir? – A garota concordou com a cabeça. O senhor Metsker tirou do bolso um pequeno envelope. – Volte para casa e leia. Aqui, eu te explico tudo o que você deve saber. Depois queime, certo?

Ela assentiu. Terminou de beber o vinho em um só gole e deixou uma pequena gorjeta na mesa, para a alegria do barman. Antes de sair, virou-se para perguntar:

– O senhor está... bravo comigo?

A resposta não surgiu de imediato, pois o professor Metsker estava terminando sua taça e enchendo-a seguidamente com mais um pouco de bebida. Seus olhos verdes e profundos encontraram os dela, uma aflição visivelmente presente em sua cor amendoada, e isso o encheu de prazer.

– Antes, leia a carta. Mas... eu acho que foi uma experiência e tanto, Catherine.

Catherine permaneceu em silêncio. Não fazia ideia se aquilo fora algo positivo em se tratando de seu professor do ciclo básico da faculdade de medicina. Apesar dele não lecionar todas as matérias do semestre, os dois se veriam bastante dali em diante, inclusive em horários pouco usuais para o restante dos alunos.

Quando o som da porta se fechando ecoou pelas paredes de madeira do bar, o silêncio foi a única coisa que restou. Antes que terminasse de limpar a bancada, o barman se assustou com o surgimento repentino do senhor Metsker.

– Nós dois nunca estivemos aqui, entendeu?

O professor, agora saindo em direção ao seu carro, deixara uma quantia de quinhentas libras sobre o mogno polido. Claramente perplexo, o barman engoliu o pouco de saliva que restava na boca. O vinho não custava nem metade daquilo, mas, dessa forma, compreendeu o recado com rapidez. Não exatamente em um tom de recado. No mais, uma ameaça.

O que exatamente há entre eles...?

Mas, bom... na verdade, nenhum cliente estivera no bar naquele horário, não é? Pelo menos, era isso o que iria dizer.

call me the devil | dark romance (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora