"Quando você entrou na sala
Sabe, você fez meus olhos queimarem"...
08h40. Segunda-feira.
No fim das contas, a fuga daquela noite não terminara em tragédia. Após colocá-la em seu carro, Ian a levara até sua mansão, cuidara de seus ferimentos e a deixara descansar em um quarto de hóspedes. Ao acordar, a jovem fugira sem ao menos agradecer. Já sã e salva em casa, finalmente respondera às dezenas de mensagens das amigas. Mesmo que estivessem preocupadas desde horas atrás, não pôde tranquilizá-las a tempo, algo que a incomodara tanto quanto o incidente no pub. Porém, apesar do trauma recente, o mais importante era que o pior havia passado.
Na segunda-feira, assim que a aula da senhora Georgia terminou, as três se dirigiram a uma cafeteria próxima, bastante popular entre os alunos do campus. A aula seguinte seria em vinte minutos, então precisavam de um pouco de descanso.
– Um cappuccino para viagem, por favor.
O celular dela apitou três vezes. Na fila para receberem os pedidos, Camile olhou diretamente para Janett, ambas soltando um risinho.
– O que foi?
– Você está ignorando alguém? – O rosto de Janett possuía um brilho incomum. – Faz tempo que não responde.
– Ah, não é nada – foi a única resposta que conseguiu formular. – São alguns grupos de família, só isso.
Aquilo não pareceu convencê-las. Não podia confessar que voltara a receber mensagens de seu professor havia dois dias – de um número novo, ainda por cima –, perguntando se precisava de ajuda, dizendo que sentia sua falta, desejando ter um encontro com ela. Catherine não queria respondê-lo depois de duas semanas sem contato, não importava que Ian a tivesse salvado na última noite em que se viram. Era complicado, uma situação que pesava seu coração, mas satisfazia seu cérebro.
Assim que receberam os cafés, as alunas voltaram para o prédio principal e se dirigiram ao anfiteatro. Naquele dia, o professor Hudges faria um breve resumo para as turmas de medicina, fisioterapia e odontologia quanto à disciplina de fisiologia humana básica. Bom, "básica" não seria a palavra certa para descrevê-la. Desde o início do semestre, Catherine estava com dificuldades para assimilar todo o conteúdo, e aquela aula de proporções gigantescas com certeza só pioraria suas dúvidas.
Elas se sentaram próximas à porta, colocando os livros sobre as carteiras enquanto esperaram pelo início da aula. Dois minutos. O ar-condicionado estava no mínimo, o que não impedia Catherine de tremer de frio.
– Ei. Seu aniversário é nesse fim de semana, certo?
A jovem levantou as sobrancelhas. Neste momento, Janett percebeu que ela se esquecera do próprio aniversário.
– Você esqueceu? Tá falando sério?
– N-Não, claro que não! – Mesmo que tentasse transpassar naturalidade, seu tom de voz trêmulo denunciava sua péssima memória. – Eu só fiquei surpresa com você falando isso tão do nada.
– Sei, sei.
– Mas por que me perguntou isso? Você pensou em fazer alguma coisa na sexta-feira?
– Hmm... quem sabe. Mas se eu bem te conheço, você não vai querer.
Antes que tivesse chance de perguntar quais eram seus planos, o professor ligou o projetor para iniciar a aula, o primeiro slide já contendo dezenas de informações sobre uma tal bomba de sódio e potássio. Janett escutou um choro ao seu lado, e Catherine fazia uma feição enojada que quase a fez rir. Aquela matéria (de longe) ganhara o título de "a pior do semestre".
VOCÊ ESTÁ LENDO
call me the devil | dark romance (+18)
Romance+18 | AVISO: gatilhos de feminicídio, assassinato, violência, cenas explícitas de sexo, abuso físico, psicológico e sexual, incluindo estupro. Esta era para ser apenas mais uma história de amor clichê entre duas pessoas completamente diferentes que...