os corpos

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"Estou escondendo as coisas
que eu queria dizer, com medo de
confessar o que estou sentindo, com
medo de que você vá embora (...)
Você deve me amar"

...

06h55. Terça-Feira.

Catherine Lacross não chegou atrasada ao seu segundo dia de aula no laboratório de anatomia. Durante o primeiro período, o professor Metsker lecionaria "Anatomia Humana I – Teoria e Prática", bem como outras 3 disciplinas da grade da nova turma de medicina. Não era um número de aulas tão grande, mas conseguiria vê-lo em quatro dias da semana. Assim, para não perder nenhum momento ao seu lado, ela acordou mais cedo que o normal e já estava a postos em frente ao laboratório, mesmo que trancado.

Os corredores estavam silenciosos. A estrutura antiga do edifício, datada do século XII, apresentava diferentes pontos de infiltração e algumas teias de aranha decoravam o teto, nada que atrapalhasse a belíssima visão de Cath. Os vitrais multicoloridos do laboratório e das outras salas de pesquisa representavam a vida de Cristo antes de sua crucificação. A luz que os atravessava deixava o piso de ladrilhos completamente colorido.

Catherine ouviu passos, mas continuou focada em ler as mensagens que havia recebido no dia anterior em seu aplicativo de mensagens.

Como foi o primeiro dia?

Uma mistura de sentimentos. Houve medo, vergonha, insegurança, com certeza. Ela nem tinha chegado a falar com outros alunos da turma ou de outras graduações. As primeiras aulas, antes do almoço, foram bem monótonas, e o segundo horário foi um pouco menos entediante, pois dois novos professores haviam se apresentado e iniciado as apresentações de seus cronogramas. O primeiro dia terminou às 19h em ponto, e Catherine andou dez minutos até chegar em seu novo lar. O apartamento, apesar de pequeno, era acolhedor e fácil de limpar. Ela preferiu não dizer que tinha esquentado uma lasanha no micro-ondas para jantar.

Também não disse que estava apaixonada por um professor muito mais velho que ela. A garota acessou o site da universidade, e o nome de Ian Metsker estava na aba do departamento do curso. Ele havia se formado em medicina na mesma instituição em que lecionava atualmente, e possuía os títulos de mestre em pneumologia e de doutor e pós-doutor em ciências pneumológicas. A cereja do bolo era que Ian tinha 52 anos, enquanto Catherine estava prestes a fazer 23 dali algum tempo.

No fim das contas, depois de se remoer com seus pensamentos indecentes, decidiu não responder à mensagem. Mesmo que sentisse algo à primeira vista por Ian, sabia que havia o outro lado da moeda: isso seria completamente imoral para sua carreira acadêmica. Não era ela quem, em um momento, tentava de tudo para impressionar a professora Georgia e, em outro, estava quase de joelhos para o professor ao lado dela? Nem a própria Catherine entendia esse misto de novas sensações.

– Bom dia.

Catherine sentiu o corpo esquentar... não era um cumprimento qualquer, mas um cumprimento dele. Usava o mesmo sobretudo preto da manhã anterior, óculos escuros de tom prateado e o cabelo louro escuro penteado para trás.

Era ele. Ali, ao vivo e muito mais próximo. O cheiro de Ian, tão vívido, levou Catherine à imersão em uma nova realidade, como se finalmente estivesse cara a cara com um ídolo que tinha desde a infância.

Engolindo em seco, ela olhou para baixo.

– Bom dia, professor.

– Por que veio mais cedo? Eu começo minhas aulas sempre às 07h10.

– O senhor disse isso ontem, sim, mas eu prefiro sair de casa um pouco antes. Tenho medo de perder o início das aulas.

Ian pareceu não dar muita importância às explicações de Catherine, tanto que apenas assentiu e voltou a procurar pela chave do laboratório nos bolsos de sua mala. A aluna, bem no fundo, agradeceu por ele não tê-la olhado mais atentamente, pois veria que seu corpo estava trêmulo.

call me the devil | dark romance (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora