"Querido, fique bêbado com
um pouco de champagne rosé
Perca-se na névoa púrpura"...
22h35. Sexta-feira.
Até aquele momento, Catherine seguira todas as instruções do professor à risca: abrira o envelope sozinha em casa, lera a carta que a convidava para um encontro a sós em um bar afastado do centro da cidade, e, por fim, deixara que o fogo a consumisse. Durante a semana, ambos não se encararam, muito menos trocaram cumprimentos um com o outro. Apesar do receio quanto àquela proposta, optou por se encontrar com Ian o quanto antes para resolverem suas pendências.
As regras foram bem claras na primeira carta: fale pouco, ouça com atenção e vá embora depressa. Porém, a jovem aparentemente não cumprira com todos os combinados, visto que acabou revelando um pouco sobre sua relação extraconjungal na presença do barman. Rezava para que o senhor Metsker também solucionasse este novo problema sem culpá-la.
Mais uma vez com uma mensagem de seu professor, ela se deitou no sofá assim que chegou ao apartamento. Cansada daquele contexto tão vergonhoso e inimaginável, nunca antes tivera tanta vontade de sair com suas novas amigas para beber um pouco em uma república qualquer. Catherine se metera na maior enrascada de sua vida, então não sobraria tempo para descansar.
Pegando o papel dobrado, respirou pausadamente e o abriu.
A princípio, agradeço por me oferecer esta oportunidade de conhecê-la, Catherine. Eu não queria que nosso primeiro contato tivesse sido assim, tão imprevisível. Mas, sendo sincero, não odiei aquilo, de forma alguma.
Eu a estimei, Catherine. Senti prazer ao ser tocado e desejado por você. Se estar comigo for seu desejo, estarei disposto a nos dar uma chance, de fazer dar certo, mesmo que existam alguns obstáculos em nosso caminho.
Se quiser conversar pessoalmente, amanhã podemos nos encontrar para jantar no La Traviata às 20h. É um dos meus restaurantes de comida italiana favoritos. Ficará ainda melhor com sua presença.
Porém, se preferir seguir em frente com sua vida e sua carreira, vou respeitar sua decisão. Ambos vamos esquecer completamente sobre este pequeno incidente.
Mas pense bem antes de escolher, pois eu sempre desejo tudo intensamente com meu coração e minha alma.
Enquanto as chamas do fogão consumiam a bela letra cursiva do papel, tudo se tornara cem vezes mais confuso. Assim que as provas do crime foram completamente queimadas, a jovem voltou a se deitar no sofá.
E seu choro durou até adormecer.
***
20h. Sábado.
Catherine já ouvira falar sobre aquele renomado restaurante elegante, mas a realidade ultrapassava os limites de sua imaginação. O La Traviata, um ambiente cinco estrelas, servia a melhor comida italiana da cidade, podendo comportar mais de quinhentos convidados em uma única noite. Sua localização era privilegiada: o casarão datava do século XIX, tendo direito à entrada com escadaria, fontes de água florescentes e até tapete vermelho. A fila de espera para uma reserva durava, no mínimo, dois meses. Além das típicas massas e sobremesas vindas diretamente de uma histórica receita de família italiana, seu champagne rosé artesanal intitulado "Bennitte" tornara-se famoso e premiado ao redor de toda a Europa, o que aumentava ainda mais a popularidade do local.
Contudo, quando chegou de Uber na porta do La Traviata, a jovem se encolheu, pois aquele nível social era muito diferente do dela, mesmo após a herança de um parente distante ter caído direto em suas mãos. Os casais esbanjavam roupas de grife, joias multicoloridas e outros adereços requintados, enquanto Catherine usava apenas calças jeans pretas, uma blusa apertada de mangas compridas em tom bege e uma bota de cano curto com salto agulha. Logo de cara, teve vontade de gritar para o motorista voltar e resgatá-la daquela multidão.
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call me the devil | dark romance (+18)
Romance+18 | AVISO: gatilhos de feminicídio, assassinato, violência, cenas explícitas de sexo, abuso físico, psicológico e sexual, incluindo estupro. Esta era para ser apenas mais uma história de amor clichê entre duas pessoas completamente diferentes que...