9. Terror, Raios e Trovões

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A sala estava escura. Na televisão passava um filme de terror. Sentados no sofá de frente para a TV, estavam Cellbit e Roier. No sofá ao lado, Bobby e Richarlyson estavam deitados. Apesar de ter um colchão de casal no chão, ninguém fez menção para deitar ali. Os dois meninos haviam planejado de fazerem seus pais deitarem juntos, o que fez os meninos capotarem no sofá, sem conseguir ver o feito.

Há um tempinho atrás, todos os quatro estavam jantando. Algo que Roier não deixou passar ao ouvir a barriga de Cellbit roncar. O mexicano olhou na hora para o amigo, o achando com uma das mãos na barriga e o rosto vermelho. Após uma pequena discussão, Cellbit falou que havia comido apenas no almoço. E nada mais depois. Então, Roier o obrigou a ir para a cozinha e esquentar o almoço. Mesmo com o cabeludo choramingando, dizendo que a pipoca já mataria sua fome.

Roier estava bem mais cuidadoso com a questão alimentar. Desde domingo ele havia percebido o quão pouco Cellbit comia. Segunda havia sido a mesma coisa, com ele comendo apenas os restos de Roier e se satisfazendo. Ele não queria que o amigo ficasse doente. E se fosse para ele comer pouco, que pelo menos fizesse alguns lanchinhos no meio das refeições. Ele já havia tido amigos com sérios problemas alimentares, não queria que Cellbo passasse por isso.

Então, a contra gosto dos meninos e do anfitrião, todos se juntaram à mesa e comeram. O almoço havia sido preparado por Felps. Como não queria se arriscar, fez o único prato que sabia fazer com mestria; strogonoff. Ele havia feito mais para os irmãos, e guardaria o resto para comer depois. Cellbit não mencionou essa parte. Sabia que, se Roier soubesse, o mandaria cozinhar. E realmente Cellbo não queria isso. Ele se resolveria depois com o irmão. Sabia que Felps não ficaria irritado, principalmente se desse a desculpa que estava com fome.

Depois do jantar, os quatro se direcionaram para a sala. Com baldes de pipoca e copos cheios de refrigerante em mãos, todos se juntaram nos sofás. Discutiram por alguns minutos qual seria o filme escolhido, até Bobby propor um desafio.

- Quero ver o filme que você mais acha assustador, tio Cellbit. - Foi o que o menino disse, enchendo a boca de pipoca. Richarlyson tremeu da cabeça aos pés, sabia que seu irmão não se assustava facilmente.

Cellbit sorriu com o desafio, já tendo um filme em mente. Até tentou fazer o menino desistir, mas Bobby estava firme. Dizia que queria ver algo novo. Que estava cansados "desses filmes velho". A verdade era que o menino havia visto poucos filmes de terror atuais. Roier não achava que o garoto aguentaria tanto sangue. Preferia não arriscar um Bobby com pesadelos. Porém, não fez nada para impedir que Cellbit colocasse "Marcas da Maldição" na TV.

O filme mal havia começado e os meninos já estavam com os rostos tampados, com medo. Richarlyson nem mesmo havia visto a cena inicial. Já estava com a cara enfiada num travesseiro, com medo apenas dos sons. Bobby riu quando percebeu, mas logo se juntou ao amigo. Não demorou muito para que os dois estivessem dormindo.

Roier, ao lado de Cellbit, não estava muito diferente das crianças. Estava com a coberta até o pescoço, pronto para tapar o rosto assim que algo pulasse na tela ou o gore fosse muito horrível. Cellbit, por outro lado, nem ligava. Via o filme com fascínio, revendo detalhes que havia perdido da primeira vez.

O mexicano não sabia como o amigo podia ficar tão pleno. Ele tinha certeza que sonharia com aquelas coisas. Tinha certeza que as sombras projetadas contra a janela o deixariam com medo por alguns dias. Ele sabia que, toda vez que deitasse e se lembrasse do filme, perderia o sono. Alheio em seus pensamentos, Roier não previu um susto e acabou se sobressaltando. Agarrou o braço do amigo e escondeu o rosto em seu ombro. Puro instinto.

- Você está bem? - Cellbit perguntou, entre risos. Roier se afastou devagar, envergonhado. O castanho não poderia ter ficado mais contente ao ver as bochechas rosadas do amigo.

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