Capítulo 4: O Caminho Incerto

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O silêncio entre Alef e August era pesado, mas confortável. Ao retornarem à igreja, os ecos dos passos de ambos reverberavam pelas paredes frias e úmidas. O céu começava a se tingir de um cinza pálido, e a cidade, adormecida, não parecia diferente de um quadro estático. Alef observava as sombras se alongarem, tentando encontrar nas formas distorcidas alguma resposta para o que vinha a seguir.

August não disse nada até que entraram na sacristia, onde uma pequena lanterna iluminava fracamente o espaço. Ele se moveu com a familiaridade de alguém que já não via os muros do sagrado como algo distante. Abriu uma caixa de madeira simples e retirou um manto, um pedaço de pão seco e uma faca.

— Não é muito, mas vai te servir — disse, entregando os itens a Alef.

Alef pegou o manto com uma expressão indecifrável, os olhos demorando-se mais do que o necessário sobre o rosto de August. Ele estava diferente. O mesmo garoto com quem dividira noites frias e bebidas quentes em tavernas escondidas. O mesmo que, tantas vezes, trocara socos e risadas em brigas sem sentido nas ruas. E, no entanto, algo nele mudara.

— Ainda não me acostumei a te ver assim — Alef murmurou, segurando a faca e a observando à luz tremeluzente da lanterna.

August sorriu, um sorriso cansado, quase nostálgico.

— Nem eu. — Ele riu levemente. — Lembra daquela vez... na estalagem do velho Baruk? Você tentou roubar o barril de vinho inteiro?

Alef não pôde evitar o sorriso que lhe escapou. A lembrança era vívida. O barril fora quase maior que ele. Eles acabaram sendo expulsos, mas a noite terminara em gargalhadas. Era uma vida que agora parecia pertencer a alguém distante.

— Ainda me pergunto como não quebramos o pescoço naquela noite — Alef respondeu, passando a faca pelo cinto improvisado.

— Acho que já estávamos quebrados de tantas outras formas — August completou, o sorriso lentamente desaparecendo, dando lugar a uma expressão mais séria.

O silêncio voltou a se instalar entre eles, mas desta vez era carregado de uma aceitação mútua. August sabia que Alef partiria, e Alef sabia que nada o impediria. Mas mesmo assim, o peso da despedida, ainda que não pronunciada, estava ali.

— Vai ser difícil — August disse, de repente, olhando para as mãos que se fechavam em punhos. — Não sei exatamente o que você está buscando... mas não é um caminho fácil.

Alef hesitou por um momento, olhando o chão como se as respostas estivessem ali. Ele também não sabia. O que ele estava buscando? A voz de Iter o abandonara, e o vazio que ela deixara era mais profundo do que ele gostaria de admitir.

— Nunca foi fácil — respondeu, finalmente, erguendo os olhos. — E não é agora que vai ser diferente.

August assentiu, um movimento quase imperceptível. Aproximou-se de Alef e, com uma mão hesitante, tocou seu ombro.

— Espero que você encontre o que precisa.

Alef não sabia se aquilo era uma benção, uma prece ou apenas o desejo sincero de um amigo. De qualquer forma, não importava. Ele apenas respondeu com um aceno, engolindo a sensação amarga que começava a subir por sua garganta.

O amanhecer trazia consigo uma calmaria desconcertante. As ruas ainda desertas faziam Alef se sentir como uma sombra em meio àquelas construções familiares, mas ao mesmo tempo distantes. Com cada passo, ele sentia como se estivesse se afastando de tudo que um dia conhecera. A igreja, August, a cidade. Tudo ficava para trás, como uma memória que começava a desvanecer.

O manto cobria suas costas e a faca balançava sutilmente em sua cintura, mas eram os pensamentos que pesavam mais. Ele olhava em volta, esperando, desejando por alguma presença, por alguma palavra que cortasse aquele silêncio opressor.

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