Capítulo 11: O Destino nas Montanhas

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Após horas de caminhada, Tullius e Alef chegaram a um vale escondido no coração das montanhas. A paisagem era de uma beleza indescritível: uma clareira cercada por árvores altas, onde o sol filtrava-se através das folhas, criando um jogo de luz e sombra no chão coberto de flores silvestres. O som suave de um riacho próximo preenchia o ar com uma melodia tranquilizadora, quase como um convite para se sentar e contemplar.

Tullius parou à beira do riacho, observando a água cristalina que fluía suavemente. Ele parecia mais sereno, como se aquele lugar tivesse trazido um alívio ao peso que carregava. Alef, ainda ofegante, não pôde deixar de notar a mudança no semblante do velho.

— Este é o lugar — disse Tullius, a voz suave como um sussurro. — Aqui encontrei paz, e aqui você encontrará a verdade que busca.

Alef franziu a testa, um misto de confusão e apreensão tomando conta dele. Algo em sua intuição dizia que aquele momento era mais significativo do que aparentava. Ele se aproximou do velho, seus olhos fixos no rosto cansado de Tullius.

— O que você quer dizer? — perguntou Alef, tentando compreender a profundidade daquelas palavras.

Tullius virou-se para ele, um sorriso enigmático nos lábios.

— Todos nós temos um destino, Alef. Às vezes, ele nos leva a lugares que não esperamos. Eu vim aqui para cumprir o meu.

Alef sentiu um frio na espinha, uma inquietação crescendo dentro dele. O velho parecia mais frágil a cada palavra que proferia, e a preocupação o consumia.

— O que está acontecendo? — ele questionou, a voz tensa. — Você não pode simplesmente... ir embora assim!

Tullius olhou para Alef, e um brilho suave atravessou seu olhar.

— Não tenha medo, jovem. — Ele respirou fundo, como se estivesse buscando as palavras certas. — Minha jornada está chegando ao fim, mas a sua apenas começa. O que você faz com a sua vida, a forma como se abre para a verdade, é o que realmente importa.

Alef sentiu seu coração acelerar, a realidade do que Tullius estava dizendo começando a se formar em sua mente. Ele se aproximou do velho, segurando sua mão, tentando transmitir a conexão que ambos compartilharam durante a viagem.

— Eu não estou pronto para isso! — exclamou Alef, a angústia transparecendo em sua voz. — Eu ainda preciso de você! Há tantas perguntas que quero fazer!

Tullius sorriu de maneira tranquila, mas havia uma tristeza em seus olhos.

— Você já sabe mais do que imagina, Alef. É hora de você encontrar seu próprio caminho. O que você sente é natural. A dúvida é um sinal de que você está crescendo.

Neste momento, uma brisa suave passou, fazendo as folhas das árvores dançarem suavemente. Alef fechou os olhos, sentindo a presença de algo maior ao seu redor. A luz suave começou a brilhar ao redor de Tullius, e Alef percebeu que a figura do velho estava começando a se desgastar.

— Tullius! — gritou Alef, um misto de desespero e impotência em sua voz. — Não vá! Eu ainda preciso de você!

Tullius olhou para ele com um brilho profundo nos olhos.

— Você não está sozinho, Alef. Iter está com você

Aquelas palavras ressoaram como um eco na mente de Alef. Ele queria protestar, queria reclamar da injustiça de perder alguém que se tornara tão importante em sua vida. 

Com um impulso, Alef caiu de joelhos, segurando a mão de Tullius. O frio da morte começava a envolvê-lo, e Alef, tomado pela tristeza, lutava contra as lágrimas. O silêncio que se seguiu era ensurdecedor, e Alef ficou ali, perdido em pensamentos, relembrando todos os momentos que compartilharam.

Finalmente, após um tempo que parecia interminável, Alef respirou fundo e se levantou, decidindo que precisava honrar a memória do velho. Ele olhou ao redor, percebendo que o vale tinha uma beleza triste e poderosa, perfeito para abrigar o corpo de Tullius.

Com esforço, começou a cavar um buraco ao lado do riacho, suas mãos sujas e suas lágrimas misturando-se com a terra. Enquanto trabalhava, as memórias de Tullius inundavam sua mente: as conversas profundas, as risadas, os momentos de dor e de alegria. Cada um deles era uma peça do quebra-cabeça que formava o homem que agora estava prestes a enterrar.

Quando terminou, Alef cuidadosamente colocou o corpo de Tullius no túmulo que havia preparado, cobrindo-o com terra. A cada punhado de terra, ele sentia um peso sendo tirado de seus ombros, como se estivesse liberando a dor que o consumia. Depois de terminar, ele se ajoelhou ao lado do túmulo, sentindo o vento suave acariciar seu rosto.

— Obrigado, Tullius — sussurrou Alef, a voz embargada. — Você sempre fará parte de mim. Eu prometo não esquecer o que me ensinou.

Após se despedir, Alef tomou um momento para contemplar a beleza do vale, guardando cada detalhe em sua memória. Ele sabia que deveria voltar para a vila, mas o caminho que levaria até lá parecia mais longo do que antes. Com os pensamentos pesados, ele começou a descer do coração da montanha, seu peito apertado, refletindo sobre tudo o que havia acontecido. O vazio deixado por Tullius era profundo, e cada passo o lembrava de sua ausência.

Ao chegar à vila, a luz do dia começava a diminuir, e uma sensação de familiaridade envolveu Alef. Ele se dirigiu à pousada onde Tullius havia se hospedado, uma sensação de saudade o envolvendo. Ao entrar, o cheiro de madeira e calor do lugar o acolheu, mas a sensação de perda ainda pairava no ar.

Seus olhos se fixaram na entrada, e então ele viu: a carroça de Tullius ainda estava ali, com o burrinho pacientemente aguardando. O coração de Alef disparou ao perceber que o velho tinha deixado algo para trás. Ele se aproximou da carroça, olhando em volta com uma mistura de tristeza e curiosidade.

Ao abrir a tampa, encontrou várias de suas coisas, mas um objeto em particular chamou sua atenção: uma Bíblia. Ele a segurou nas mãos, sentindo o peso do que aquilo representava. Era um testemunho da fé e dos ensinamentos que Tullius sempre carregou consigo.

Nesse momento, o proprietário da pousada se aproximou.

— Olá, jovem — disse ele. — Onde está Tullius?

Alef sentiu uma onda de emoção ao ouvir aquela pergunta. Ele não conseguiria explicar o que de fato aconteceu, mas o homem à sua frente, ao olhar para seu semblante, conseguiu entender a gravidade da situação.

— Ele era um homem bom. Trouxe muita luz para este lugar. Sua presença será sentida — disse o proprietário, colocando a mão no ombro de Alef de forma reconfortante.

— Quanto à sua estalagem, o bom homem já se preocupou com isso. Terá mais uma noite, pode descansar. Vou pedir para levarem algo para você comer, tudo bem?

Agradecendo a gentileza, Alef caminhou em direção ao seu quarto. A Bíblia ainda em suas mãos, ele se sentou na cama, sentindo-se perdido em um turbilhão de emoções. Ele abriu o livro, as páginas amareladas revelando histórias antigas, mas que pareciam tão relevantes naquele momento.

Com a luz do dia se esvaindo, Alef fechou os olhos e respirou fundo, permitindo-se sentir a tristeza, a gratidão e a esperança. Era um novo começo, e embora a ausência de Tullius fosse pesada, ele sabia que levaria consigo tudo o que havia aprendido. O velho o havia guiado até ali, e agora era sua vez de continuar a jornada, por conta própria, mas nunca sozinho.

Com esses pensamentos, Alef se deitou, o coração um pouco mais leve, preparado para enfrentar o que viria a seguir.

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