Alef despertou com a luz do sol se espalhando pelo quarto. Seus olhos ainda pesavam de uma noite de sono difícil, o eco da partida de Tullius rondava sua mente. Era como se o mundo tivesse mudado enquanto ele dormia, mas ao mesmo tempo, tudo à sua volta permanecia igual. O ar do lado de fora estava fresco, o céu azul, mas nada disso parecia aliviar o vazio que sentia.
Andou até a pequena praça do vilarejo, onde o vento gentil balançava as folhas das árvores. Havia uma tranquilidade ali, mas Alef ainda carregava o peso da perda. Ele avistou a moça com quem dançara na noite anterior, sentada sozinha, olhando para o horizonte, com os braços cruzados sobre os joelhos. Talvez sentisse algo também, ele pensou.
— Ei — ele disse, hesitante, ao se aproximar.
Ela se virou, e por um momento, o sorriso leve no rosto dela vacilou ao ver a expressão de Alef. Ele sentou-se ao lado dela sem ser convidado, e ela não parecia se importar.
— Você está bem? — perguntou, sem rodeios, com a voz tranquila, mas carregada de empatia.
Alef respirou fundo, olhando para o chão por alguns instantes. As palavras vieram devagar.
— Tullius... se foi — ele murmurou, tentando processar o que aquilo realmente significava.
Ela não disse nada por um tempo, apenas olhou para ele com olhos calmos, deixando o silêncio preencher o espaço entre eles. Às vezes, não havia necessidade de falar imediatamente. Ela parecia entender isso.
— Sinto muito — disse ela, finalmente, sua voz suave e genuína. — Ele parecia ser alguém importante pra você.
Alef assentiu, mordendo levemente o lábio enquanto tentava organizar os pensamentos.
— Não era como... não era como meus avós — ele começou, sua voz soando um pouco mais forte enquanto as memórias surgiam. — Quando eles se foram, foi como se algo dentro de mim tivesse sido arrancado à força. A dor era... — ele fez uma pausa, fechando os olhos, — era insuportável.
Ela continuou em silêncio, ouvindo-o com atenção, sua presença tranquila era um convite para ele continuar.
— Mas Tullius... ele me mostrou um caminho — Alef continuou, olhando para o chão. — Ele não era da minha família, mas... era importante de um jeito que não consigo explicar direito. Não tínhamos tanto tempo juntos, mas... parece que ele sabia mais de mim do que eu sabia de mim mesmo. E agora ele se foi.
Ela suspirou suavemente, e por um momento, ambos ficaram em silêncio. O vento passou por eles, carregando o som distante da vila.
— Às vezes — ela disse, quase num sussurro —, as pessoas nos deixam antes que possamos entender completamente o que elas significavam. Mas isso não diminui o impacto que tiveram em nossas vidas.
Alef olhou para o horizonte, sentindo a verdade simples naquelas palavras.
— Sim, acho que é isso — respondeu. — Não sei se algum dia vou entender completamente o que ele representou. Mas dói. Mesmo não sendo como... como foi com meus avós, ainda dói. Não sei por que, mas dói.
Ela balançou a cabeça, solidária.
— A dor nunca é igual, mas sempre deixa marcas. E a dor de perder alguém, seja quem for, é legítima. Acho que é assim que entendemos que essas pessoas realmente importavam, mesmo que por um breve momento. E o luto... — ela fez uma pausa, escolhendo as palavras — o luto é algo que temos que viver. Não há atalhos, nem palavras que aliviem. Só... sentir.
Alef passou as mãos pelo rosto, exalando um longo suspiro. As lembranças de Tullius, de sua avó, seu avô, rodavam por sua mente como um redemoinho. A cada perda, uma parte de si parecia se quebrar, mas ao mesmo tempo, ele sentia que aprendia algo novo sobre si mesmo, sobre a vida.
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O Caminho do Viajante
Fantasy"Para quem sempre trilhou caminhos aleatórios e viveu sem um propósito na vida, ser chamado para seguir um caminho específico não é fácil, principalmente quando é chamado por alguém que você nunca viu. Assim aconteceu comigo, após diversas perdas na...