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O sinal tocou.
Olhei no meu papelzinho massacrado e encardido onde dizia que era aula de educação física.
Dizem que por eu ser alta e ter um "físico de atleta", eu deveria gostar de esportes. Mais a questão é que eu sou o desastre.
Rir enquanto bebo água a ponto dela sair pelo nariz é só o começo.
Fora a parte que piadas sem graça me fazer rir de tão ridículas.
Vamos lá.
Tentar não mandar alguém para o hospital.
-Bom, o meu nome não interessa para os novatos! O jogo é basquete e vai ser dividido. Todos vão participar!- Disse o professor com um tom de pessoa chateada. Não fui muito com a cara dele.
-Vamos lá! –Disse Alef ao meu lado, arrepiando a minha espinha... Que voz!
"CONCENTRA FOX!", digo a mim mesma.
Começamos a jogar, os três lindos estavam no time oposto e eu mal conseguia me concentrar na aula. Os passos de Arthur eram muito rápidos e eu não conseguia nem chegar perto dele (que pena).
“16” x “14”, claro, eles me deixaram fazer a cesta!
O sorriso deles era arrasador.
Que genética.
O Alef ficou me olhado na minha frente e nem se mexeu, só ficou parado e deixou eu fazer a cesta.
-Marca ele, Fox! -o professor gritou.
“Agora eu tenho que marcar o Arthur!”.
Como assim?!
Ele veio sorrindo em minha direção e eu fui à direção dele, eu tropecei no meu próprio pé, (fala sério que tipo de ser humano tropeça no próprio pé sem fazer praticamente nada?! Que mico!), ele passou super rápido, largou a bola, correu e me segurou antes que eu chegasse ao chão, foi tão rápido!
Tão emocionante que quase nos beijamos!.
Que tipo de ser é esse?!
Lindo.
Cavalheiro.
Lindo.
Kkkk
Parei.
-Você está bem?–Disse ele me levantando.
-É, estou! Valeu. –Eu falei totalmente sem graça.
Minha nossa.
O horário acabou!
Finalmente!
Ele parou com a mão bem na minha cintura!
Que ótimo.
“Bom, agora eu vou para casa, respira”, eu pensei enquanto ele ainda estava com a mão na minha cintura.
-É...- Eu falei
-Bom, acho melhor...
-É tchau.
Que olhos.
Que braço.
Que tudo!
-Nos vemos amanhã? –Perguntou Arthur.
-Ata ham... Claro!
- Tchau. -ele disse com um sorriso torto.
-Tchau.
Fui para casa com a Renata e o Rafael (meus irmãos).
O caminho inteiro só tentei parar de pensar no Arthur.
Será que ele tem namorada?
É bem provável que sim.
Lindo.
-Oi– Eu disse desanimada para mamãe.
-Oi filhos, bom, se arrumem porque os nossos vizinhos da frente irão jantar aqui hoje, ok?!
-Ok.
Subi e fui me arrumar, não sabia quem eram mais não custa nada né.
Afinal, preciso fingir que me importo com isso.
Desci e fui me organizar lá em baixo e ajudar a minha mãe com o jantar.
Afinal, os outros são apenas estátuas.
Escutei a campainha tocar “Já chegaram!”, eu pensei.
-Boa noite gen...te.-  Eu comecei a frase e quando eu vi quem eram eu quase perdi a voz e voltei a falar..- Meninos?!
-Então você é a minha vizinha?! Legal!- Disse Arthur com um leve sorriso.
-Fox, mande-os entrar, cadê a educação?- Disse o meu maldito padrasto estragando o meu filme!
-Entrem! - Eu disse com certo peso na voz.
Arthur me olhava de longe.
Desconfortavelmente bom.
Nunca fiquei com um menino, o que é esquisito na minha idade.
-então... você e os vizinhos... -disse Renata me olhando esquisito. Ela estava com moletons e uma mine blusa e tênis.
-o que tem? -perguntei.
-nada. Deixa eu ir.
A Renata sempre faz isso, deixa uma pergunta no ar.
Fui até a sala de jantar que era até meio exagerada. Feita de madeira. Mesa de dez lugares. Enfim.
Sentamos e logo ali eu tive um mal pressentimento...
-Arthur, você sabia que a Fox não para de falar em você?! –Disse Rafael rindo.
(Larguei o garfo).
Que sacana filho da p*
-É mesmo Fox?! –Disse Arthur sorrindo.
-O... -Tentei falar.
-Diz a verdade Fox!-Disse Rafael.
-Pois é. Você até me perguntou se acha que está a altura da beleza do Arthur. -disse Renata de um jeito que eu quase acreditei.
-O quê?-Falei
-Não minta Fox, você e a Renata amam esses três!
-Talvez. –Disse Renata piscando para Alef.
(“Tudo bem Fox são só crianças tentando chamar atenção, calma, respira, tente não cometer um assassinato na frente de todos...”)
-Você queria até beijar o Arthur! –Disse Rafael.
Isso é verdade mais...
Haaaaaa.
(Respira, respira, respira!).
-Talvez até algo a mais... -insinuou Renata.
-qual o problema de vocês?  -gritei.
-Fox, retire-se da mesa agora!- Disse meu padrasto.
-O quê? Por quê? O que eu...
-Agora!
-mãe?! -ela nem se deu o trabalho de lhar para mim. -Ok!– Eu me levantei e sussurrei –(“Sejam bem vindo ao meu inferno diário!”).
Eu levantei com um sorriso de raiva e em vez de ir para o quarto eu sai, peguei a minha bicicleta e pedalei muito!
“Por quê? Porque tudo tem que acontecer comigo? Porque minha mãe não faz nada? Simplesmente, por quê?”
Depois de uma hora pedalando (com muita raiva), encontrei uma ponte quebrada, de frente para um rio e sentei.
Não estava perto de casa.
Só havia mato e árvores ao meu redor.
E em mim, só vontade de chorar e chorar.
Mais não poderia ceder.
Não pra eles.

FoxOnde histórias criam vida. Descubra agora