O ar

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POV: Natália

— Acabou, finalmente. - Bruna fala ao meu lado. - Parabéns rapazes. - ela aplaude olhando para os meninos voltando para o banco para se hidratarem.

— Amiga, não acabou. É pausa pro segundo tempo.

— Segundo tempo? Isso é um baba, não uma partida oficial.

— É um amistoso que eles tão chamando de baba. Vai ter segundo tempo.

— Que saco. - ela arfa.

— Ai amiga, não tá tão ruim, falta estratégia de jogo, porque os do nosso colégio...

— Que não é mais nosso colégio. - ela me interrompe brincando.

— Porque eles são claramente superiores.

— Às vezes me esqueço que você gosta de futebol. - ela dá de ombros sorrindo.

— Esportes em si.

— Sei, sei.

— Jogo feio, hein? - Rafa se aproxima com o cabelo úmido de suor e sua blusa do uniforme azul escuro, colada em seu corpo.

— Demais, vocês já foram melhores. - digo sorrindo.

— Criticando a gente é? - Arthur chega, apertando um dos olhos por conta do suor que tem no seu rosto. E sacode o cabelo para afasta-lo da testa suada.

— Um pouquinho. - faço sinal de pouco, com o indicador e o polegar.

— E você entende alguma coisa?

— Entendo o suficiente para saber que a marcação de vocês tá péssima, e perderam o primeiro gol por um furo na defesa. Foi feio.

— Ok, melhorar marcação, mais alguma coisa treinadora?

— O 9 é o melhor do outro time, mas sua marcação é muito boa, foca em marcar ele que o jogo é de vocês.

— VAMO LOGOOOO! - uma voz masculina grita.

— Me deseje sorte. - ele fala sorrindo.

— Te dei uma estratégia, isso basta. - dou de ombros.

— Convencida. - ele fala ao sair às pressas da arquibancada e volta ao campo.

— O que eu perdi?

— Como assim? - me viro para olhar para a minha amiga.

— Vocês são amigos agora, é?

— É, acho que sim.

— Interessante... - ela me olha estranha.

— O que foi? - pergunto com um pouco de receio.

— Nada, olha lá. Já vai começar com jogo de novo. - ela fala com uma empolgação estranha, enquanto aponta para o campo.


Os meninos venceram de 2x1. Por incrível que pareça o moreno realmente me levou a sério e mudou parte da estratégia do jogo. Bruna foi direto abraçar o Rafael, e tudo mostra que eles estão realmente em uma relação, apesar de não assumirem. Fico em pé na arquibancada aplaudindo, quando reparo o garoto vindo em minha direção.

— Você viu que gol incrível foi o último? Nossa, esse número 3 é uma estrela.

— Devo ter visto, ou talvez eu mexi no celular na hora, não me lembro muito bem.

Sua boca delineia um sorriso que atenua suas covinhas. — Poxa, você perdeu então, e olha que foi um gol dedicado a minha treinadora.

— Você é muito engraçadinho. - digo descendo da arquibancada, indo para perto dele.

— Não vai me dar um abraço? - ele abre os braços se virando pra mim.

— Cai fora, você tá nojento - Falo desviando.

Eu me viro para o aglomerado de pessoas, vendo a Bruna nos encarar. — Melhor a gente ir encontrar o pessoal.

— Claro. - ele diz num tom baixo e me segue.

Após algumas horas conversando, ao som de pagode e baldes de bebidas, algumas pessoas foram indo embora. Uma das coisas ruins de estar de carona é não poder escolher a hora de voltar. Minha bateria social está no lixo, e tudo o que quero é tomar um banho e descansar.

— Amiga, tá tudo bem? - Bru questiona, se aproximando um pouco.

— Só to cansada.

— Quer ir? - ela se aproxima mais do meu ouvido - Eu provavelmente não vou pra casa com vocês, e eu adoraria que você tirasse o Arthur daqui, porque eu to muito afim de vazar, acompanhada. - ela ergue as sobrancelhas ao terminar a frase.

— Sinto muito, mas não vou empatar o rolê dele para ir embora. Não tenho nem cara pra isso. - a garota de afasta de mim e vai em direção ao irmão, eu rapidamente pego o celular e encaro minha tela de bloqueio, fingindo mexer.

— Você já quer ir? - ouço a voz mais grossa perto de mim.

— Não se preocupa, eu posso pedir um carro. - Bruna revira os olhos ao ouvir isso.

— Cala a boca. - o menino revira os olhos - vou me despedir do pessoal e a gente vai. Calma ae.

Bruna praticamente saltita e por algum motivo, meu coração acompanha o movimento. Em poucos minutos, estamos andando em direção ao seu carro.

— Aconteceu alguma coisa? - ele quebra o silêncio entre nós.

— Não, eu só estou bem cansada.

— Precisa de algo?

— Acho que uma carona pra casa. - falo ao pararmos ao lado do carro. Ele vai pro lado do passageiro e abre a porta.

— Entra no carro, vai.

— É assim que fala comigo? - cruzo os braços escondendo um sorriso.

— Claro que não. Me desculpa. Princesa Lia, me dê o privilégio de ser seu motorista. - dou risada e um tapinha no seu ombro, logo em seguida, entro no carro.

Percorremos o caminho falando sobre o jogo e discutindo as músicas que tocavam. Ao estacionar o carro na porta da minha casa, senti a estranha sensação de que o caminho foi muito rápido e que poderia ter durado mais.

—Está entregue, princesa Lia. Deseja mais o quê? Ser escoltada até sua cama. - o olho surpresa - Não, não nesse sentido. Porra, estraguei a piada. - gargalho com a confusão das suas palavras - Você entendeu.

— Entendi sim, você quer me escoltar até a cama.

— Já fiz isso uma vez. - ele dá de ombros sorrindo.

— ARTHUR.

— Menti? - ele me encara.

— Sim. Não. Ah, sei lá. - respondo confusa.

— É bom, né? - ele arqueia uma das sobrancelhas.

— Na cama ou na piada? - pergunto e me surpreendo com minhas próprias palavras. Me arrependendo logo em seguida.

— Eu diria que em ambos, mas ai você teria que testar. - ele diz se aproximando do meu rosto.

— Talvez eu teste. - digo e percebo que nossas respirações já estão misturadas.

Ele coloca a mão na lateral do meu rosto, com os olhos correndo pelos meus olhos e boca. O ar rapidamente fica rarefeito, meu coração palpita mais rápido e sinto calor.

— Posso? - ele pergunta com o olhar fixo no meu. Estremeço ao ouvir.

Minha mente diz não, meu coração acelerado não me diz o que realmente quer, mas eu sei o que meu corpo quer. Quer ele, quer ter a sensação que teve dias atrás. O ar chega a sufocar meus pulmões antes de eu assentir.

Best friend's brother Onde histórias criam vida. Descubra agora