Durou pouco mais de um minuto, mas a dor foi insuportável, Lúcio Malfoy invadiu minha mente, rasgando minhas memórias recentes impiedosamente, parei de sentir meus pés, sei que em algum momento caí no chão, mas só era capaz de sentir uma dor de cabeça insuportável e então, ao longe, escutei um grito:
- Protego!
Nossas mentes se separaram como uma bandagem arrancada de um machucado. Eu respirava com dificuldade, minha cabeça latejava, tentava me levantar e focar minha visão sem sucesso, senti Draco se aproximar de mim, nossos olhares se encontrarão, seus olhos tão cinzas quanto os meus, ele estava furioso, passou o braço pela minha cintura e quando foi me erguer também caiu, seu rosto se contorceu em agonia por alguns segundos. Ele parecia se concentrar em alguma coisa, estava conseguindo se livrar da invasão de nosso pai à seus pensamentos, seu semblante foi ficando cada vez mais inexpressivo, quase cruel, encarava nosso pai que retribuía com a mesma expressão.
Draco desviou o olhar e se voltou para mim, recolocando seu braço ao meu redor, me erguendo, achei que ele ia falar alguma coisa, que nosso pai tentaria nos impedir, mas houve apenas uma comunicação silenciosa entre ele e Snape, então saímos. Meu irmão sustentava quase todo meu peso, eu tentava, sem sucesso, controlar meu corpo, enxergar por sobre a névoa em que se encontravam meus pensamento, haviam lacunas, minhas memórias nunca mais seriam as mesmas.
Chegamos a sala comunal e os amigos do meu irmão correram em nossa direção, imagino que minha aparência semiconsciente tenha contribuído para gerar o pânico, eles queriam saber o que havia acontecido, faziam perguntas, minha cabeça latejava, eu estava exausta. Draco se livrou deles, permitindo apenas que Pansy apoiasse o lado direito do meu corpo, os dois me arrastaram, literalmente, até meu quarto, me colocaram na cama, senti o conforto familiar das minhas grossas cobertas verdes, eles sentaram ao meu lado, Draco explicava tudo para Pans, eu não conseguia mais ouvir. Não sei quando adormeci, nem por quanto tempo, mas aconteceu.
Acordei ofegante, despertando de um sono intranquilo, olhei ao redor e vi Draco na cadeira próximo a minha mesa de estudos e relaxei.
- Você acordou maninha. – Ele sorriu para mim, parecia exausto, deve ter passado a noite acordado, mas a raiva que ele estava sentido transbordava dele, ocupando todo o ambiente, ele estava com a mente totalmente aberta, o que era raro.
- Você está sem as barreiras.
- Passei a noite levantando as suas, precisava libertar minha mente, provavelmente estou causando muitos pesadelos aos nossos colegas. - Ele abriu um pequeno sorriso malicioso, o que me fez sorrir também, mas não por muito tempo.
- Ele conseguiu o que queria, Draco. – Não conseguia encará-lo, isso era minha culpa, eu me coloquei nessa situação, nos coloquei, não deveríamos ter nos envolvido nas manipulações do nosso pai. Draco nunca se perdoaria pelo o que houve.
Não foi a primeira vez que ele invadia minha mente... só... não era tão frequente ele punir a mim dessa forma. O único motivo para sermos, ambos, tão bons em legilimência e oclumência é por causa das torturas psíquicas que nosso pai usava como forma de punição para comportamentos que ele julgasse "desviantes", Draco era quem mais sofria com isso, desde os seis anos, você deve estar se perguntando, o que meu irmão fez para merecer algo do tipo?
Nosso pai estava nos contando uma de suas histórias de guerra, ou monólogos, onde ele ficava exaltando o quão corajoso ele era, Draco perguntou o motivo de os bruxos brigarem entre si, papai respondeu que eles precisavam purificar o sangue mágico, que estava contaminado por bruxos impuros, meu irmão disse que isso não fazia sentido, meu pai quis saber o que não fazia sentido... Draco então respondeu: - Se todos conseguem fazer magia, como que eles são impuros? - Mamãe não teve nem chance, ele a prendeu com um feitiço, impedindo que ela chegasse até nós, Draco conta que só ouvia meu choro acima da dor que nosso pai causava em sua cabeça...
Era comum o professor Snape frequentar nossa casa, ele era amigo dos nossos pais, gostávamos dele, naquele dia eu estava particularmente preocupada que nosso pai levasse a visita para uma pequena sala anexa ao salão, ele normalmente ia lá para desfrutar dos prazeres de um charuto feito com ervas mágicas, o problema? Eu havia acidentalmente, deixado cair a charuteira dele, e, bom, os charutos estão todos quebrados lá dentro... Como o universo não perdoa, meu pai convidou Snape para se retirar, Draco me encarava apreensivo, aguardamos... Nosso pai não demorou a retornar, abriu as portas num rompante, indo direto para a cabeça do meu irmão, e, obviamente, viu que eu era a culpada.
Aquela foi a minha primeira vez.
No primeiro ano de Draco em Hogwarts, Severo o convidou até sua sala, e explicou sobre legilimência e oclumência, se ofereceu para ensinar meu irmão e ele não demorou a dominar, nas férias, ele repassou seus conhecimento para mim. Não foi difícil, temos, além da motivação, pré-disposição genética por causa de nosso avô materno, que era adepto do mesmo tipo de punição que nosso pai, mas é raro uma criança ter tanto controle sobre a própria mente, nós precisamos ter, é o único jeito de sobreviver na mansão dos Malfoy.
(Percebi que minha mente divagava entre o presente e o passado, espero não ter deixado esse relato muito confuso para você leitor, tente ter sua mente revirada por outra pessoa...)
- Ele conseguiu, sim, mas eu arranquei dele, ele não vai se lembrar, Aly. Você vai estar segura, por enquanto. – Eu sentia a dor nas palavras dele.
- Não é sua culpa, Draco, eu nos coloquei contra ele, sinto muito. Espero que ele não tenha mexido muito com a sua cabeça.
- Ele nem conseguiu entrar, até forçou um pouco, projetando todo o tipo de visão terrível na minha cabeça, mas não cedi e retribuí o favor. Snape veio te ver enquanto você dormia, ele terminou o que comecei apagando o que restou das memórias do nosso pai sobre os últimos acontecimentos, pelo menos o que nos envolvia, ele não vai mesmo lembrar de nada, Aly, eu posso ter feito por prazer em ver ele sofrer, mas Severo fez um bom trabalho.
- Até aprontarmos mais alguma coisa. – Draco riu e concordou. – Mas acho que para nossa família, só não pode envolver o Potter e seus lacaios.
- Falando nele, parece que o maldito conseguiu um jeito de libertar o Dobby, e nosso pai quase deu uma maldição da morte nele por causa disso, graças as minhas ordens específicas de manter nosso pai longe do Potter, Dobby o protegeu, o que eu não pagava para ter assistido, só pela cara do poderoso Lúcio Malfoy sendo subjugado por um elfo doméstico e uma criança de doze anos.
- Fico feliz que ele esteja livre, mas vou sentir saudades. – Draco concordou com um gesto de cabeça. – Gina está bem? Não tive tempo de falar com ela direito.
- Ela foi direto para enfermaria pelo que soube. Podemos ir lá antes do café da manhã.
- Espera, que horas são?
- Acho que umas cinco da madrugada.
- Eu dormi tudo isso?
- Ele esgotou sua mente, passei horas tentando reorganizar seus pensamento para você parar de tremer, ele despertou todos os seus piores sentimentos, maiores medos... – Draco suspirou, parecia exausto. – Ele queria mesmo te ver sofrer, Aly, foi estupidamente cruel, se Snape não estivesse lá, acho que eu teria feito pior com ele.
Senti um aperto no peito, sabia que meu pai podia ser cruel, mas me torturar dessa forma, de propósito, sem piedade, ainda me surpreendia, não sei o que eu esperava na verdade. Nada de bom poderia vir dele, Draco já sabia disso, eu ainda me iludia.
- Não chora, Aly. Eu vou dar um jeito de manter ele longe da gente, principalmente longe de você. – Draco tinha se aproximado e me abraçava, chorei em seus braços por sei lá quanto tempo, o sol nascia e os tons de dourado se misturavam com o verde do lago negro, ergui o rosto e encarei aquelas cores que penetravam meu quarto através das janelas, em breve voltaríamos para casa, o que será que nos aguardava durante as férias na mansão dos Malfoy?
O que mais o senhor da mansão, patriarca da família poderia fazer para continuar nos quebrando?
Minha única certeza? Eu estava chorando a muito tempo, em breve não haveria mais espaço para tristeza, só para a raiva.
Fim.
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Alya Malfoy em O retorno do Herdeiro
FanfictionLivro 1 sobre a irmãzinha de Draco Malfoy. Nesse livro somos apresentados a caçula dos Malfoy, ela se sente sozinha, quase patética, tendo por único amigo e confidente seu irmão mais velho, Draco Malfoy. Sua primeira tentativa de amizade com a caçul...