In Vitro - Capítulo 4

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Ellen

Lembro me bem do sentimento quando descobri que estava grávida de Stella, era um misto de medo e euforia, algo novo e que nunca senti em toda minha vida. Sentir ela crescer dentro de mim, mexer a cada palavra que dizia a ela me encantava e isso tudo se multiplicou dez vezes mais quando a tive em meus braços. Eu só queria a proteger de tudo de mal desse mundo, queria que ela só soubesse da parte boa e segura dessa vida mesmo sabendo que não conseguiria fazê-lo. Com Sienna foi diferente, sabia que o processo seria longo e tinha medo de ela não ser tão minha filha quanto Stell por não conseguir gerá-la, tinha medo de não amá-la, mas o mesmo sentimento incondicional voltou quando ela nasceu. Sienna com toda a certeza era a minha micro versão, minha doce Sisi. Eli seguiu o mesmo ritmo e foi tudo tão mais tranquilo, já sabia tudo exatamente o que iria acontecer e o amor só se multiplicou quando meu terceiro herdeiro chegou ao mundo. Meu menino era perfeito assim como minhas duas outras filhas, eu era mãe deles. Eu era mãe.

Porém, estar com a pequena mistura minha e de Patrick bem a minha frente era um sentimento diferente. Ela era minha filha também mas eu não a conheço, minha filha é uma completa estranha para mim e eu não sei o que fazer. Essa pobre garotinha perdeu a mãe a pouco e está viajando de avião pela primeira vez com uma completa desconhecida, é muito mais corajosa do que eu, com certeza. Eu não sei o que fazer com ela ou o que fazer comigo e com meus filhos nesse momento, estou em choque. Não sei se vou a justiça para reclamar do ocorrido com a clínica mas do que adiantaria? A mulher está morta e tem uma criança inocente envolvida, de nada resolveria. Me sinto traída ao mesmo tempo que me sinto exposta, talvez por que saiba o que de fato essa menina significa tanto na minha vida quanto na vida de Patrick, ela reflete uma parte tão linda quanto conturbada que queríamos esquecer, mas olha onde estamos agora? Parece que o destino sabe exatamente o que fazer e quando fazer para nos atingir.

-Dona Ellen.- ouvi sua voz doce e calma soar. Olhei para ela que estava sentada bem na minha frente. Pedi para meu jatinho nos buscar e ter mais privacidade devido às circunstâncias.

-Sim?

-Para onde estamos indo?- seus dedinhos rodavam o botão do seu casaco de lã, ela estava nervosa.

-Estamos indo pra minha casa em Los Angeles.

-Eu vou morar lá agora?- seu tom era de preocupação.

-Bem...ainda não sei. Acho que sim.- sorri fraco e ela assentiu, logo depois olhando para fora da janela, a noite já estava caindo e as estrelas estavam começando a aparecer.

Por mais medo que eu estivesse sentindo com essa situação toda, eu não podia negar que estava admirando cada parte dela com cuidado, não me cansava de olhá-la. Os cabelos eram um tom mais escuro que os meus e com leves cachos como os de Patrick, a pele corada também como a dele e a voz amanteigada como a minha. Claro que o que mais chamava a atenção eram seus olhos bicolor, algo que me deixou maravilhada assim que pus os olhos nela. Kathleen era, assim como todos os meus filhos, perfeita.

-Você sabe quem eu sou?- perguntei e ela voltou a me olhar, fazendo que sim com a cabeça.

-Mamãe disse que eu sou metade você e metade de um outro moço. Daí me colocaram na barriga dela pra mim poder nascer.- escorou o cotovelo no braço da poltrona e apoiou o rosto na mão.

-Isso. Olha, eu não sabia disso tudo que está acontecendo. Mas vamos dar um jeito, ok?- sorri tentando conforta-lá.- Você vai ficar comigo a partir de agora.

Na verdade, não sabia bem se ela ficaria comigo. Patrick está enlouquecido me mandando mensagens desde que avisei que saí de Miami, Chris não entendeu bem o que eu iria fazer aqui mas não deu muita bola, ele como sempre parou de me questionar o que fazia em questão ao meu trabalho. Não sei ao certo como ele vai reagir com isso tudo, mas de uma coisa eu sei, essa menina não vai sair de perto de mim, querendo ou não ela entrou no meu caminho e é minha filha, eu tenho condições de criá-la melhor do que muitas pessoas. Mas ela também é parte de Patrick, também será sua responsabilidade criá-la e cuida-lá tanto quando eu, também sei que assim que ele por os olhos nela não vai querer se afastar.

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