4 - Não podia deixá-la desistir

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POV SIMONE

Eu já estava com os Thronicke há cerca de uma semana, e tudo que consegui fazer foi Soraya perder mais peso. Eu estava me odiando a cada momento.

- Como está se sentindo hoje, Soraya? - Entrei em seu quarto e rapidamente ela escondeu algo, que eu jurava ser um caderno, de baixo de seu travesseiro. Confesso que fiquei curiosa por um breve momento, mas se ela o escondeu, obviamente não queria que eu soubesse, então fingi não ter visto nada.

- Estou melhor. - Falou. - Só por favor, não me faça andar naquela esteira novamente. - Falou rindo, não achei a menor graça, a olhei seriamente - Relaxa, foi apenas uma brincadeira.

- Me perdoe por não achar graça - Falei bravamente, deixando a com um meio sorriso.

- Desculpa - Sussurrou. Mas não falei nada, finji não ter escutado seu pedido de desculpas.

Fiz os exames matinais nela, e não houve nenhuma alteração, ou seja, não houve nenhuma piora, mas também não houve nenhuma melhora.

POV SORAYA

Simone fez os meu exames, ela mal falava comigo, a princípio achei que ainda estivesse chateada por conta da brincadeira, mas algo me dizia que ela estava assim por alguma coisa a mais.

- Dra. Tebet, poderíamos ir para a sala de estar? - Ela me olhou como se eu tivesse feito uma pergunta idiota. - Claro Miss Thronicke, porque não poderíamos? - Ela abriu a porta do meu quarto

- O que eu quis dizer é... - Repirei fundo - Poderia me levar para a sala? Não consigo descer as escadas sozinhas - Falei envergonhada, eu detestava ser dependente das pessoas o tempo todo.

- Oh, sim... Claro, me desculpe - Falou me segurando enquanto descíamos a mesma. Ela me guiou até o sofá, e me entregou o controle, depois de limpa-lo e ter passado plástico nele, dizendo ela, o controle tem muitas bactérias por passar em várias mãos.

Simone se retirou da sala indo para algum lugar, comecei a passar pelos canais, depois de 10 canais minha mão começou a doer, então acabei deixando em um filme qualquer. Segurei minha mão e comecei a massagea-la.

- O diário de uma paixão?! - Simone apareceu do nada, me dando um leve susto - Escolha interessante - Ela se sentou do meu lado. Na verdade eu não gostava muito do filme, e não estava no clima para filmes dramáticos, mas minha mão estava doendo muito, não conseguia mudar. Apenas levantei meus ombros.

- Às vezes. - Meu ego não deixava eu falar sobre minha dor. Ela segurou minhas mãos, o que me fez sentir algo diferente dentro de mim, algo que eu nunca senti antes.

- Ou será que é porque você está escondendo algo de mim? - Ela falou de um jeito rouco, o que me deu calafrios, - Do tipo... Uma dor nas mãos - Ela chegou perto de mim, me deixando sem ar e falou sussurrando.

- Tal... Talvez - Gaguejei.

- Soraya... - A olhei envergonhada - Eu sou sua médica, preciso saber se está tudo bem com você - Massageou minhas mãos - Ela ficou assim por um bom tempo e meu coração disparava dentro de mim - Quer mesmo assistir esse filme?

- Na verdade... Não. - Me rendi.

- Fazemos assim - Pegou o controle - Irei passando os canais e se ver algo que lhe interessa, me avise - Acendi com minha cabeça, ela passou por alguns canais.

- Pare. - Ela o fez e tudo o que eu consegui fazer foi encarar a tela da televisão com um sorriso no rosto.

POV SIMONE

Eu não entendia o que ela via de interessante no canal, afinal, era um programa sobre Turismo.

Eu a olhava sem entender e seus olhos brilhavam como se fosse a coisa mais maravilhosa que ela já viu.

- Que lindo. - Sussurrou. Foi quando ao olhar para tela eu reconheci o lugar.

- Veneza é realmente muito lindo - Ela me olhou com um lindo sorriso. Um sorriso que eu ainda não conhecia. - Você ja esteve lá? - Ela me perguntou como se fosse em um outro planeta, e que ninguém podia ir. Mas pensando bem, para Soraya, Veneza ficava em um outro mundo.

- Sim - Respondi, ganhando 100% de sua atenção - Minha família é italiana, nas férias íamos para a casa de minha nonna, em Veneza. - Agora eu que ria feito uma boba, ao lembrar da minha infância.

- E como é lá? Digo o clima, as pessoas... - Ela fazia uma pergunta atrás da outra e se embolava na mesma. - É lindo, atrevo-me a dizer que é um dos lugares mais lindos que eu já vi. O clima não agrada a todos por ser frio de mais ou quente de mais, porém para mim, o clima era perfeito - Ela fechou os olhos sorrindo, não entendi muito bem do porque fazer isso mas continuei a falar - Meu lugar preferido era passear de gondola, pelo Grande Canal de Veneza. Não importava a hora que fosse, o passeio era lindo, mas para mim, fica ainda mais bonito de noite - Parei de falar, fazendo com que Soraya abrisse seus lindos olhos azuis desmanchando seus sorriso, e ficou por um tempo me emcarando.

- O que foi? - Perguntei rindo.

- Eu entendo por que você quis ser médica...

- Entende? - A cortei.

- Sim, o mesmo clichê de todo médico - A olhei sem entender - Para salvar vidas - Ela explicou e eu concordei, afinal era por isso mesmo que sempre quis ser médica

- Mas por que em Três Lagoas?

- Porque é minha casa. - Falei. - Se não for em Três Lagoas, aonde mais seria?! - Disse como se fosse óbvio, mas ela logo me cortou.

- O mundo está a sua disposição, pessoas ao redor do mundo sofrem por falta de médicos... Então porque ficar parada em um lugar só? - Ela abriu um sorriso. Eu entendi onde ela queria chegar.

- Porque eu tenho um filho de 10 anos, ele precisa de um lar fixo, não posso levá-lo ao redor do mundo. - Expliquei e ficamos em silêncio por um bom tempo.

- Sabe... Quando eu era pequena, eu pensava que um dia eu iria poder conhecer o mundo todo. - Seu sorriso foi sumindo.

- E você vai - Segurei suas mãos sorrindo para ela - Eu prometo que acharei uma cura, e eu não falto com minha palavra, isso você pode ter certeza. - Ela me deu um leve sorriso triste. - Qual vai ser o primeiro lugar que você vai querer visitar?

- Simone. - Falou tristemente - Eu não penso mais nisso. Eu nunca vou poder sair por aquela porta, eu nunca vou poder ver o mundo sem ser pela televisão... - Ela deu o ombro.

- Soraya... - Quando eu ia falar ela me cortou.

- Simone, tudo bem! - Deu um leve sorriso - Eu já superei. - Eu queria abraça-la, chorar, gritar... Eu não conseguia entender porque ela tinha nascido assim, qual era o propósito disso, o porque eu não conseguia achar uma cura... Mas eu não podia desistir e o mais importante, eu não podia deixá-la desistir.

N/A:

Gente, peço desculpas caso algum nome esteja trocado. Por ser uma adaptação isso ocorre diversas vezes, sem que eu perceba. Caso vocês percebam que algum nome não está batendo com o contexto da cena, por favor comentem para eu trocar. Obrigada aos que estão lendo, e um muito obrigada aos que se dispõem a votar na história.

Bjusss, boa leitura 🤍

You save me - Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora