Capítulo 4

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Dias atuais:

A cabeça de Valentina não parava de girar. Estava deitada há horas olhando para o teto branco. Seu corpo estava fraco e se sentia pesada. Efeito dos remédios que lhe são dados, e que nada adiantam. Chegou à convulsionar nas primeiras vezes que engoliu aqueles três comprimidos azuis. Os remédios à ajudariam, se a morena possuísse algum dano mental, mas a mesma estava em perfeita ordem...Pensava que estava. Às vezes jurava poder ver sua mãe e sua irmã na sua frente, rindo e conversando coisas aleatórias. Tomava aqueles remédios desde que entrou ali, e sabia que eram as consequências dos mesmos. Se a ela não tinha problemas, os remédios em vez de ajudar, tornavam sua mente um caos.

...
Ela andava pelos corredores, cada lado do mesmo possuíam portas brancas com numerações das outras pessoas que residiam atrás daquelas paredes. Uma enfermeira à acompanhava, segurava seu braço com uma força um pouco desnecessária, mas que Valentina já achava familiar. Não se importava, estava um pouco animada. Era o dia de visitações, e sabia que seu amigo estaria lá esperando por ela, com seu típico sorriso, sua barba e seu cabelo  grisalho, sempre muito acolhedor.
Valentina se recordava dele, era seu pediatra, sempre lhe olhava como um pai. Quando o viu na primeira visita, estranhou, eles não tinham intimidade e ele deveria odiá-la. Mas o mesmo a explicou que era como ela, com tais dons, e nesses dois anos, todas as terças-feiras, das três e meia ás quatro e dez da tarde, era o momento onde ele contava para ela sobre o mundo lá fora, e quando podia, sempre levava algo para a morena.
A mesma pediu os jornais com as noticias no dia de sua primeira visita, e mesmo relutante, ele trouxe, junto com uma foto de sua família que o mesmo imprimiu na Internet.
Suas melhores amigas, iam as sextas-feiras, no mesmo horário. Valentina pediu à elas a foto que tiraram no aniversário de dez anos dela. A latina e a loirinha beijavam as bochechas de Val uma em cada lado. Era a foto favorita das três.
Atravessou a porta que separava a sala de visitação dos corredores de quartos, e viu Augusto Campos sentado olhando diretamente para ela com seu sorriso caloroso. Ela sorriu um pouco mais largo do que era acostumada a sorrir. Só dirigia esse sorriso para ele, Juliana e Camila . Quando se sentou, viu que o mesmo segurava um livro nas mãos.
— Meu Deus, Valentina , você está mais pálida que o normal, o que houve? — ele mal acabou de falar e segurou o rosto dela analisando as olheiras roxas que se formavam abaixo de seus olhos, e seus lábios rachados.
— Os remédios, você sabe. Já estou acostumada. — Respondeu dando de ombros. — Isso é pra mim? — Olhou para o livro de J.K. Rowling.
— Não deveria, e isso acaba hoje. — Disse determinado. — Sim, é pra você, mas você não vai ler. — falou sorrindo.
— Como assim não vou ler, pra que eu eu iria querer um livro então? — Perguntou confusa.
— Você vai fugir daqui . Nesses dois anos eu aguentei ver você quase desfalecendo por conta dos remédios que não fazem nada exceto te fazer ter alucinações. Isso tem que acabar. Não posso te tirar daqui legalmente, então vai ser do meu jeito. — Respondeu confiante.
— Espera! Está me dizendo que vou sair de uma clínica psiquiátrica com dezenas de enfermeiros em todos os corredores, câmeras de segurança, e guardas no portão de entrada? Eu tenho visões Augusto , não sou uma mutante que fica invisível. — Ela falou cruzando os braços.
— Seu humor negro é impressionante. Os remédios não tiraram isso de você. — Augusto falou desdenhoso. — Apenas confie em mim! Ou prefere ficar nesse lugar até completar dezoito anos e ser condenada para algo pior? — Perguntou impaciente.
— Não tenho nada a perder mesmo. O que iremos fazer? — Perguntou ficando curiosa.
Ele abaixou o tom de voz e explicou tudo cautelosamente e detalhadamente. Atrás da última folha do livro havia um pó que assim que Valentina passasse o dedo no mesmo e levasse à boca, iria começar a sofrer convulsões. Como a clínica era antiga, a enfermaria da mesma estava sem condições de cuidados para tais coisas, e a menina seria levada ao hospital onde seria medicada. Sônia apareceria como psiquiátra do hospital para assegurar que a saúde mental de Valentina não foi prejudicada. O resto do plano seria por conta de Augusto e Sônia , que concordou em ajudar o marido em tudo, depois de tentar retrucar sem sucesso.

...
A menina de olhos verdes estava no andar de baixo do hospital, o que facilitava muito. O mesmo estava vazio. Era madrugada e na cidade não acontecia acidentes com frequência. Sônia tirou o tubo da veia de Val há mais ou menos meia hora, e agora só estava esperando a ela acordar. Do lado de fora do quarto, se encontrava apenas um enfermeiro. Ele era alto e largo, valia por dois, mas estava quase se redendo ao sono com o silêncio dos corredores naquela hora.
O mesmo enfermeiro entrou no quarto e se apresentou como David Asted. Disse que ia ao banheiro e que qualquer coisa, que Sônia o chamasse imediatamente. Quando David saiu do quarto, Valentina acordou sentindo sua cabeça pesar mil toneladas.
Não teve tempo de pensar. Quando se deu conta estava com um jaleco branco, uma touca cirurgica e uma máscara hospitalar. Saiu agarrada a Sônia . Mal conseguia se manter de pé. A mulher mais velha agradeceu a todos os deuses que justo na hora que passou com Val a recepcionista estar de costas na máquina de café ao lado do elevador.
Augusto as esperava do lado de fora do hospital. O carro já estava ligado e assim que Sônia entrou com Valentina no banco de trás, o homem partiu rumo à sua casa.
Valentina tirou a touca e a máscara e murmurou em agradecimento antes de dormir no ombro de Sônia . Augusto sorriu cúmplice para a esposa pelo retrovisor do carro, e seguiram para casa, onde seria o novo -e colorido- lar de Valentina Albuquerque .

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