Capítulo 10

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Os Estados Unidos comemorava sua independência naquela ensolarada manhã de sábado. Era quatro de julho e as bandeiras americanas podiam ser vistas penduradas nos carros e casas em toda aquela cidade .
O verão estava a mil e aquele dia era perfeito para celebrar o feito do ex-presidente, Thomas Jefferson, quando o mesmo tornou o país independente da Inglaterra. Muitas pessoas iam e vinham no aeroporto, e uma dessas pessoas era Jack.
Desde a condenação de Valentina , o rapaz saiu do país por uns tempos para fugir da mídia, mas achava que já era hora de voltar. Saiu pelo portão de desembarque e pegou sua bagagem, avistando uma loira com um sorriso maroto logo adiante.
— Verônica , que saudade! — Exclamou indo em direção à mulher que abriu os abraços, dando um abraço caloroso no moreno.
— Mal pude acreditar quando recebi sua ligação. Já era hora de voltar, Jack . Senti sua falta. — Declarou apertando o rapaz em seus braços.
— Eu tinha que voltar. Não te deixaria sozinha aqui. — Falou passando o polegar nos lábios da loira.
— Quero muito matar a saudade de você. — Falou carinhosa, depositando um beijo na palma da mão de Jack .
— Iremos. Assim que eu encontrar um lugar para me estabelecer. — Declarou puxando a mala de rodinhas.
— Como assim um lugar? Oras! Vai ficar na minha casa. — Falou segurando no braço do moreno.
— Você sabe, Verô. Não posso ficar na sua casa. Pode haver problemas. — Declarou receoso.
— Os problemas eu resolvo, você vai ficar na minha casa e ponto final. — Disse confiante enquanto sorria, saindo do aeroporto e indo em direção ao carro com o rapaz. Entraram no veículo e partiram rumo ao apartamento de Verônica .
Em meio à saudade acumulada, não notaram que eram observados por uma figura trajando um sobretudo preto perfeitamente alinhado ao corpo, enquanto apertava o volante do carro da mesma cor. Logo afrouxou o aperto e respirou fundo, sorrindo de lado.
— Bem-vindo de volta, Weston. — Murmurou friamente, ligando o carro.
...
Luiza acordou com um sorriso preguiçoso ao notar que estava deitada de lado, sendo segurada por braços longos e pálidos ao redor de sua cintura. Se virou com cuidado e passou a observar o rosto alvo à sua frente.
Os cabelos da garota ao seu lado estavam bagunçados e Luiza sentiu o coração falhar uma batida ao ver o quão linda Valentina ficava enquanto dormia com o semblante calmo.
Aproximou seu rosto e depositou vários beijinhos ao redor da face dela , que acordou lentamente, percebendo as orbes chocolate brilhando e o sorriso largo da morena. Estavam muito próximas, as respirações lentas se misturavam.
— Bom dia. — Falou baixinho sorrindo docemente.
— Bom dia! — Exclamou Luiza com seu entusiasmo de sempre, depositando um selinho nos lábios da outra . — Dormiu bem? — Perguntou passando a mão nos cabelos desgrenhados da menor .
— Como não dormia em anos. — Respondeu corando. — E você? — Perguntou alisando a face da morena com a ponta dos dedos.
— Foi a melhor noite de sono da minha vida. — Declarou animada.
Valentina tinha as bochechas vermelhas e Luiza pegou a mão dela entrelaçando os dedos morenos nos da outra garota que tinha o tom um pouco mais claros, ela não pegava sol a muito tempo . Era um contraste bonito. As duas eram opostas em tudo, menos no coração.
— Sabe que eu estive pensando e... — A morena não pôde completar o que ia dizer, quando ouviu Sônia gritar para a mesma descer para tomar café.
— Pensando em quê? — Questionou a Valentina confusa.
— Nada. Vamos comer. Antes que a mamãe entre aqui e ela não iria gostar de ver essa cena, por mais que estejamos devidamente vestidas e comportadas. — Falou desconversando e saindo da cama, correndo para o banheiro.
Valentina franziu as sobrancelhas. Queria saber o que a outra iria falar, mas resolveu não insistir. Tinha que descer o mais rápido possível sem ser vista.

Saiu do quarto de Luiza e desceu os degraus em completo silêncio a fim de ir buscar uma roupa limpa e ir tomar banho no banheiro no fim do corredor quando ouviu a voz de Augusto atrás de si.
— Eu sei que minha filha é um pouco grudenta, mas não achei que passariam a noite no mesmo cômodo, senhorita. — Declarou com as sobrancelhas arqueadas.
— É...Augusto ...Não fizemos nada demais, só para deixar claro. — Foi a única coisa que conseguiu dizer, antes de sentir seu rosto pegando fogo de vergonha e fitar o chão.
— Eu sei, Valentina .Luiza não é assim. E sorte sua por eu ter pego você descendo as escadas com cara de sono. Sônia não iria gostar. Ela é doce, mas muito ciumenta. — Falou sorrindo. — O que anda acontecendo entre você e Luiza ? — Perguntou curioso.
— Nada, Augusto . Não posso ter nada com ela. Não seria o certo. — Falou desapontada, erguendo o rosto para fitar o homem .
— E por que não seria? Você é inocente, e toda garota se apaixona. — Disse se aproximando dela.
— Não tenho um futuro concreto, Augusto . Não sei o que pode acontecer daqui à dois dias ou à dois meses. Não seria justo com uma garota como a Luiza . — Falou suspirando.
— O que não seria justo é jogar fora sentimentos assim. Já falei que eu e Sônia vamos provar sua inocência. Me prometa que fará o que seu coração mandar. Mesmo sendo complidado. O destino sempre determina o que deve acontecer. — Declarou carinhoso, puxando a menor para um abraço de urso.
— Eu prometo Augusto . Obrigada. — Falou sorrindo verdadeiramente e abraçando o amigo.
— Não há de quê. Agora vá tomar um banho e trocar de roupa. O café está pronto. E feliz quatro de julho. — Desejou animado, enquanto separavam-se do abraço.
— Feliz quatro de julho, Augusto . — Desejou de volta dando uma risadinha e indo em direção ao quartinho.
...
Tomaram café da manhã juntos. Luiza sempre que podia lançava olhares brilhantes e sorrisos largos para Valentina , que correspondia docemente com as bochechas vermelhas.
A morena quase contara para a outra garota que estava apaixonada por ela. Mas talvez a interrupção de Sônia fosse um sinal para esperar. Não sabia se a menor sentia o mesmo. Tinha receio. Nunca sentiu aquele turbilhão de sentimentos antes.
Augusto notava a interação das duas e achava aquilo extremamente fofo. Torcia para encontrarem algo nas pesquisas que ele e a esposa  faziam para que Valentina fosse inocentada e pudesse ter uma vida normal.
Sônia estava alheia e sua atenção estava voltada para o jornal local, lendo sobre as notícias que assolavam a cidade . Quase todas eram sobre o feriado do dia, e outras ainda falavam sobre o casso de James e que Valentina continuava desaparecida.
A manhã passou e depois do almoço, Sônia teve que ir atender alguns pacientes que tinham sessões agendadas para o dia, mesmo sendo feriado. Augusto avisou que ia ao supermercado, e depois de fechar as janelas e avisar para ligarem se precisarem de algo, saiu e deixou as duas sozinhas.
As garotas se encontravam no sofá. A maior tinha a cabeça no colo de Valentina enquanto a mesma fazia carinho nos cabelos chocolate. Assistiam um filme contando a vida de Thomas Jefferson, quando alguém tocou a campainha várias vezes de modo impaciente.
As duas garotas se entreolharam por uns minutos e Valentina já ia se dirigir ao porão para Luiza  atender a porta, quando ouviram uma voz conhecida.
— LUIZA ABRA A PORTA! — Gritou Juliana .
Luiza revirou os olhos e abriu a porta para uma latina de braços cruzados e uma loirinha saltitante que ao avistar Valentina , correu e literalmente pulou na menor.
— Olá para você também, Juliana . E feliz quatro de julho. — Desejou respirando fundo.
— Pra você também — Falou passando pela morena e indo abraçar Valentina , que estava se recompondo do abraço de urso de Camila .
— Senhora duende, está cuidando bem da Val? — Perguntou Camila olhando para Luiza.
— É...— Luiza olhou para Valentina que assentiu minimamente, segurando uma risadinha. — Estou sim. — Declarou sorrindo amarelo.
— Sabia que não iria me decepcionar! — Exclamou alegre enquanto abraçava Luiza com uma força um pouco desnecessária. — Feliz quatro de julho. — Desejou quando largou a morena, que ofegava com a mão sobre o peito.
— Feliz quatro de julho, Camila . — Desejou Luiza com a respiração já normal.
— O que é isso? — Perguntou Valentina apontando para a sacola na mão da latina.
— Isso são DVD's que eu e Cams alugamos e estamos fazendo o favor de vir assistir com vocês. — Respondeu Juliana enquanto se jogava no sofá da sala.
— Tia Maria foi visitar sua avó? — Perguntou já sabendo a resposta.
A latina apenas assentiu. Sua avó não aceitava a sexualidade da neta, e a mesma não quis ir visitá-la junto com a mãe, que sempre ia vê-la nesse feriado desde a morte do pai de Juliana .
— Vamos assistir! — Exclamou Camila pegando a sacola e mexendo nos DVD's.
— Quais filmes vocês trouxeram? — Perguntou Luiza curiosa.
— Filmes de verdade, Duende. Não aqueles que só tem músicas e danças chatas. — Declarou a latina recebendo um tapa de Valentina na nuca. — Ai! O que foi? — Perguntou alisando o local onde a amiga bateu.
— Não fale assim dos filmes da Luiza . — Reclamou Valentina enquanto olhava os DVD's com Camila .
— Obrigada por me defender, Val. — Declarou Luiza sorrindo largo. Fechou a cara quando voltou sua atenção para a latina. — Meus filmes são para pessoas que apreciam a cultura do mundo artístico, ou seja, não são para você. — Declarou cruzando os braços.
— Escuta aqui, Duen... — A latina ia se levantando quando Valentina a puxou pelo braço e a mesma caiu sentada no sofá.
— Deixe a Luiza em paz. — Ralhou a mais baixa.
— Por que está tão preocupada com a ela? — Perguntou curiosa.
— Não é óbvio? Ela me acolheu aqui com a família dela, e somos amigas. — Declarou corando.
— Isso. Amigas. — Luiza falou suspirando um pouco desapontada. — Vamos assistir esses filmes. — Desconversou pegando os DVD's.
— Vamos. — A latina assentiu ainda desconfiada olhando a interação das duas.
Camila saltitou até o aparelho e colocou o filme para rodar. As quatro se acomodaram lado a lado no grande sofá e observaram a televisão começar a exibir a comédia romântica.
...
O carro preto estava parado em frente ao prédio que tanto conhecia e observou minutos depois Jack e Verônica saírem animadamente do edifício em que tinham entrado com as malas do rapaz, e foram em direção ao carro da loira.
Quando o veículo sumiu de seu campo de visão, a figura vestida perfeitamente de preto entrou com seu carro na garagem dos fundos, e se retirou do automóvel, caminhando de cabeça baixa até o elevador do amplo local, direcionando-se ao apartamento de Verônica .

Usou a cópia da chave que havia tirado sem comunicar a loira, e andou até a cozinha. Abriu o armário superior e achou a garrafa de vodca.
— Sempre a mesma marca barata. — Murmurou secamente enquanto abria a garrafa e jogava o líquido vermelho dentro. O mesmo perdeu a tonalidade viva se misturando ao transparente da bebida.
...
Quarenta minutos depois, Jack e Verônica entraram no apartamento rindo das piadas idiotas que o moreno contava. Foram para a cozinha e a loira guardava os produtos nos armários quando o rapaz viu a garrafa de vodca.
— Você odeia vodca. — Disse o rapaz franzindo a testa e pegando a garrafa.
— Eu sei, mas você adora, então quando me ligou avisando que viria, comprei uma. — Respondeu dando de ombros.
— É por isso que eu amo você. — Declarou puxando a loira pela cintura e a beijando.
Se beijaram por alguns minutos, quando pararam em busca de ar. O moreno pegou o copo de cristal e encheu com a bebida de cor neutra.
— O que vamos fazer hoje? — Perguntou Verônica enquanto se apoiava no balcão vendo o rapaz beber o copo de uma vez.
— Nós podemos sair. — Respondeu enchendo o copo com mais bebida.
— Vai com calma. — Repreendeu a loira enquanto via o rapaz beber o segundo copo. — E eu adoraria. — Completou sorrindo.
— Nós podemos ir para aquele restaurante e...
Jack não teve tempo de completar o que ia dizer, quando sentiu o ar lhe faltar dos pulmões e as pernas fraquejarem, largando o copo que estilhaçou-se no chão, caindo de joelhos com as mãos no pescoço, sendo socorrido imediatamente por Verônica .
— Ve...rôni...ca...
— Jack, não se mexa, eu vou chamar ajuda! — Exclamou tremendo e tentando manter a calma que se esvaía a cada segundo.
— Verô..nica ...fi...que...aqui...co...comigo. — O rapaz tentava tomar fôlego, mas o ar não vinha.
— Jack , não fale, só vai piorar. — Verônica falava chorando. O rapaz segurava sua mão com força. A loira conhecia aqueles sintomas. Sua cabeça girava a mil. — Eu te amo. — Falou desesperada beijando os lábios do rapaz.
— Eu...também...am...o...— O moreno conseguiu falar no último momento, antes da vida sair de seu corpo e os olhos azuis que Verônica tanto amava perderem o brilho.
A loira se agarrou à camisa do rapaz e chorava copiosamente, quando ouviu um pigarro vindo da sala. Virou o rosto em direção ao cômodo e se deparou com a figura esguia e imponente a olhando com a expressão de falsa pena segurando uma arma prateada na mão direita.
— Feliz quatro de julho, minha querida. — Desejou dando o sorriso que causava arrepios em Verônica.

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