Capítulo 3

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Flashback:

Valentina acordou em um sobressalto. Olhou o relógio prateado na sua mesinha de cabeceira e não passava das três da madrugada. Seu rosto estava pálido e ela não parava de pensar no sonho que teve. Era assustador e lhe causava arrepios enormes.
Desceu as escadas e pela penumbra que exalava na sala através das cortinas, se dirigiu à cozinha a fim de beber um pouco de água e se acalmar um pouco. As memórias ainda estavam vivas na sua cabeça. Três corpos caídos no chão. Provavelmente mortos. Rostos desfocados, mas ela reconheceria aquelas pessoas mesmo não podendo ver seus rostos. Eram seus pais, e sua irmã,
Marina.

Acordou no outro dia sentindo seu corpo pesar quase uma tonelada. Após beber sua água na madrugada, voltou para o quarto e o sono só veio lhe acometer às cinco da manhã. Teria que acordar às sete para ir buscar Marina no aeroporto.
Marina ... Saber que ela iria estar o fim de semana todo em casa lhe assustava. Sabia que algo aconteceria. Sabia também que deveria contar para alguém, mas quem? Seus pais não lhe dariam ouvidos, estavam ansiosos ao extremo pela visita da filha mais velha e Valentina não queria causar nenhuma preocupação, além do mais, jurou para si mesma que esqueceria que possuía tais visões.

Tomou um banho e se trocou colocando um vestido azul marinho que ia até os joelhos, meia-calça preta, botas de cano baixo da mesma cor, e seu cardigã creme. Deixou os cabelos sedosos um pouco bagunçados e saiu do quarto.
Seus pais estavam na sala e assim que os viu, tentou dar seu melhor sorriso mínimo e saíram para fora de casa. O dia não estava ensolarado, mas a neve tinha cessado e apenas uma brisa fria pairava no ar.
— Mal posso esperar para ver a Marina! Está ansiosa também filha? — Catarina perguntou com um sorriso no rosto. Seus olhos verdes brilhavam em expectativa de rever a filha mais velha.
Valentina que até então estava distraída olhando pela janela, olhou para a mãe, e seu coração doeu em vê-la tão feliz e não ser capaz de sentir o mesmo. O medo e a preocupação estavam enormes, e ela tentava disfarçar o melhor que conseguia.
— E-eu...Sim mãe, claro que estou, morrendo de saudades da Marina. — Respondeu sorrindo sem vontade.
Parte do que disse não era mentira. Val e Marina eram cúmplices em tudo. A mais velha lhe contava tudo, e mesmo Val sendo fechada e calada na maior parte do tempo, a irmã de sempre tinha assunto e falava sobre qualquer coisa e lhe dava toda a atenção possível.
Quando Marina foi para Nova York, as duas se falavam diariamente pelo telefone, e todos os finais de semana se viam pelo skype. Na última ligação, ela disse que estava namorando, e estava ansiosa para apresentar o rapaz para a irmã caçula e para os pais.
Dizia que ele era um bom rapaz e que finalmente tinha achado alguém que fosse compatível com ela. Marcos não gostou nada de saber que ela estava namorando. Val não entendeu, sua irmã já era adulta, e ela e Marcos eram sempre um pouco distantes, na opinião da mais nova. Mas achava que era apenas coisa de sua cabeça.

...
Chegaram ao aeroporto e em menos de quinze minutos já se encontravam na frente do saguão de desembarque, com outras pessoas que também deveriam estar ansiosos com a chegada de seus parentes.Marcos passava a mão nos cabelos sem parar. Os olhos dele demonstravam impaciência.
— Marcos , pare de bagunçar os cabelos, está me deixando mais nervosa ainda. — Reclamou sua esposa segurando as mãos do marido, que já iam de encontro aos cabelos mais uma vez.
— Estou ansioso! Não vejo Marina desde o natal do ano passado, e já fazem cinco meses. — Retrucou suspirando e preocupado.
— Como ela conseguiu sair de Nova York em um final de semana no meio do ano? — Perguntou Valentina tentando demonstrar calma.
— Ela adiantou os trabalhos da universidade e conseguiu esse fim de semana livre. Quer muito nos apresentar o namorado — Respondeu Catarina animada.

Marcos bufou com a menção do namorado da filha, e Valentina voltou sua atenção para o portão. O mesmo se abriu cinco minutos depois e uma Marina sorridente logo correu em direção a irmã , abraçando-a com toda força que pôde e a girou no ar como uma criança.
A morena mais nova apenas revirou os olhos e sorriu abraçando-a com a mesma intensidade, abandonando em parte a preocupação, mas seus pensamentos ainda em alerta.
Quando foi a vez de Marcos , a irmã de Valentina apenas apertou a mão do moreno mais velho, o que causou mais estranheza na morena de olhos verdes.
Abraçou a mãe casualmente e a caçula arqueou a sobrancelha esquerda, mas nada disse.
Catarina e Val só vieram reparar no rapaz atrás de Marina quando foi ouvido um pigarro. A caçula olhou pelos ombros deirmã e viu um homem moreno com olhos extremamente azuis vestindo uma calça jeans escura um pouco justa para um cara -na opinião da morena- e uma camisa gola ''V'' da mesma cor embaixo de uma jaqueta de couro. O cabelo era bem cortado e ele olhava para Valentina de uma forma que ela não soube identificar como simpatia ou antipatia.
— Como foi de viagem, filha? — a mãe perguntou sorrindo.
— Bem, porém cansativa, mãe. — Respondeu desviando os olhos da mãe para Valentina . — Meu Deus! Você cresceu! — Disparou apertando as bochechas da irmã.
— Céus,Mari ! Não faz nem um ano que não nos vemos, continuo da mesma altura. — Retrucou a  mais nova revirando os olhos. — Ele é o seu namorado, certo? — Apontou com o queixo na direção do rapaz.
— Sim, Val! — Respondeu Marina animada chamando o rapaz com a mão até o mesmo estar parado ao seu lado. — Esse é Jack Weston. Jack, esses são os meus pais, Catarina eMarcos, e minha irmã Valentina . — Completou Marina sorrindo.
— Muito prazer Jack, e nossa, você é lindo! — Catarina exclamou apertando a mão do genro, arrancando uma risada de Marina e um revirar de olhos de Valentina .
— O prazer é meu senhoraAlbuquerque , e tomara que Mari fique tão linda quanto a senhora no futuro. — Respondeu o rapaz moreno apertando a mão da  mais velha. — É um prazer conhecê-lo senhorAlbuquerque . — Jack se dirigiu a Marcos estendendo a mão, esse por sua vez apenas acenou com a cabeça com uma expressão séria se virando para sair do aeroporto.
Valentina arqueou a sobrancelha novamente e acompanhou o pai com os olhos sem saber o porquê do comportamento do mesmo. Foi tirada de seus pensamentos pela voz de Jack.
— Muito prazer Valentina . — O rapaz estendeu a mão, e a mais nova a apertou com um pouco de relutância.
— O prazer é todo meu, Jack. — Respondeu a dando um sorriso extremamente forçado, que Marina percebeu e a fez revirar os olhos.
— Acho melhor irmos, estou cansada e Jack também deve estar. — Interrompeu Marina enquanto o rapaz pegava as duas malas pequenas do carrinho.
No caminho, enquanto todos conversavam -exceto Marcos e Valentina - a  mais nova teve uma dor de cabeça e as imagens de seu sonho se repetiram como um filme na sua mente. Ela pôs a mão sobre a têmpora tentando amenizar as pontadas que atravessavam sua cabeça.
— Val ,você está bem? — Perguntou Marina enquanto passava a mão no braço da irmã.
— Estou, foi apenas um mal estar. — Respondeu . — Pai, pode me deixar na casa da Juls? — Perguntou a morena logo em seguida.
— Você não quer ficar conosco, filha? — Perguntou sua mãe preocupada.
— Quero mãe, não é isso. Apenas esqueci de pegar um livro que emprestei para ela e preciso muito dele, voltarei o mais rápido possível. — Tentou tranquilizar a mãe que fazia um drama desnecessário.
Marcos assentiu, e depois de alguns minutos o carro parou em frente a casa com grandes janelas vermelhas. Valentina desceu do carro depois de dizer que voltaria a pé.
O carro tão logo partiu, ela suspirou e foi até a porta. Queria ignorar aquela sensação de preocupação demasiada. Jack estava lá e tudo ficaria bem.
Bateu na porta e Juliana logo abriu a mesma, vestindo um curto short com uma blusa de mangas compridas e meias até o tornozelo. O cabelo estava bagunçado e a mesma estava com uma cara de sono. Valentina deu uma risadinha.
— O que você quer a essa hora da madrugada, Albuquerque ? — Perguntou a latina mal-humorada.
— Já são oito e meia da manhã, Juliana . — Respondeu revirando os olhos. — Não quero nada, apenas não desejo ficar em casa hoje.
— Mas sua irmã e o namorado dela não iam chegar hoje de Nova York ? — Questionou a morena confusa.
— Sim, e não gostei dele, mas deve ser antipatia de irmã caçula, já li sobre isso. — Respondeu tentando parecer casual.
— Você sempre lê sobre tudo, vem! — Chamou a latina puxando a amiga para dentro de casa.
As duas passaram a manhã falando sobre coisas aleatórias, e a latina sempre que podia implicava com a morena ou falava em Camila, o que era normal.
Almoçou por lá e á tarde decidiu ir para casa, se não aparecesse lá no único final de semana que tinha para ver a irmã pessoalmente, a mesma ficaria triste com a caçula.
Se despediu de Juliana e deMaria , e foi andando até a casa branca de janelas amarelas. Á medida que ia se aproximando, sua cabeça doía mais e mais.
Já não estava aguentando quando parou em frente a casa e viu a porta da mesma aberta.
Sentiu seu corpo todo tremer e entrou correndo pela porta se deparando com a cena que mudaria sua vida... Seus pais e Marina estavam caídos no chão, mais pálidos que o normal, de bruços. Ela se aproximou tremendo e tocou a pele deles... Todos gelados.
Valentina começou a chorar e sua cabeça começou a girar. Não sabia o que tinha acontecido, e por que diabos Jack não estava ali? Onde ele estava?
Não conseguia se mexer, seus olhos vagaram pela sala e o bule com as xícaras preferidas de sua mãe estavam caídos no chão, o líquido marrom estava espalhado pelo tapete que sua mãe tanto amava.
Não se deu conta quando policiais entraram na casa e tentaram segurá-la. Também não percebeu que estava chorando e se debatendo contra os braços do policial que parecia ter dois metros de altura.
— Meus...meus...Mari... — Ela soluçava e as lágrimas em nada se comparavam á dor que se acometeu em seu peito.
Ela ouvia as sirenes dos carros e da ambulância do lado de fora da sua casa. O outro policial segurou Valentina pelo outro braço e os dois a levaram até a viatura.
Ela não conseguia saber para onde estava indo, só sabia que estava na delegacia quando viu muitos outros policiais andando de um lado para o outro.
Foi obrigada a se sentar e esperou. Os minutos pareciam horas, e sua cabeça girava e doía como nunca. Bebeu um pouco de água que lhe foi oferecida por um policial loiro com uma boca grande, mais simpático que o moreno alto.
— O que...o que houve exatamente? — Perguntou a Valentina limpando as lágrimas.
— Não sabemos exatamente, só recebemos uma ligação de um rapaz indicando o endereço e dizendo que devíamos ir até lá o mais rápido possível. — Respondeu o loiro. — Não posso te falar mais nada, aguarde aqui, iremos te chamar em breve. — Completou o homem saindo logo em seguida.

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