Capítulo 15

584 77 15
                                    

Já era noite na casa da família Campos. Depois da manhã animada e repleta de bagunça na cozinha, as garotas limparam tudo e passaram o dia conversando amenidades conhecendo-se ainda mais.
Luiza surpreendeu-se com o número de filmes antigos que Valentina já assistiu quando mais nova e ouviu atentamente a mais baixa falar sobre Charlie Chaplin e o quanto o admirava.
Valentina por outro lado, ficou impressionada com quantos musicais a baixinha já viu, e achava adorável como ela falava sobre dança com tanta idolatria e automaticamente os olhos castanhos brilhavam majestosamente.
...
Todos jantavam na grande mesa. Augusto ocupava a cabeceira da mesma, enquanto sua esposa estava ao seu lado esquerdo, e as garotas estavam à frente de Sônia .
O casal Campos conversavam sobre o trabalho e alguns pacientes que atenderam no decorrer do dia, enquanto as meninas permaneciam caladas, porém ambas trocavam carinhos por baixo da mesa com as mãos de vez em quando.
A morena viu Valentina afastar o brócolis para o canto do prato e franziu o cenho.
— Por que você afastou o brócolis? — Perguntou confusa.
— Eu não gosto de brócolis. — Respondeu simplesmente, enquanto terminava de afastar o vegetal para longe.
— Pois você vai comer. Brócolis faz muito bem para a saúde e você não é vegetariana?— Falou enquanto pegava seu garfo e colocava todos o vegetal de volta no lugar no prato da outra garota .
— Eu sei que fazem bem e sim sou vegetariana . Mas eu não suporto brócolis. — Retrucou emburrada vendo a morena arrumar tudo em seu prato.
— Você realmente quer que eu cite as doze vantagens de comer brócolis agora? — Perguntou autoritária, vendo Valentina balançar a cabeça em forma negativa. — Então trate de comer. — Completou encerrando o assunto.
A menor bufou frustrada e tentou a todo custo não comer, porém foi impossível, já que Luiza estava ao seu lado.
O casal Campos observavam tudo em silêncio, segurando a risada enquanto viam o rosto de Valentina formando um biquinho frustrado sempre que a morena reclamava quando a mesma tentava afastar o vegetal novamente.
...
Anny acordou sentindo sua cabeça doer terrivelmente. Tentou levantar-se mas sentiu um peso em seus pés. Olhou em volta do pequeno local que era iluminado apenas por uma pequena lâmpada no teto e só conseguiu visualizar móveis cobertos por plástico.
Engoliu o medo que estava sentindo, vendo seu pé ser preso por correntes, e tentou gritar por ajuda.
— Achei que uma mulher finíssima como você não iria gritar por ajuda. É tão antiquado. — A figura esguia e imponente saiu de uma parte mais escura do cômodo. — Eu fiquei aqui por horas esperando a senhorita acordar só para ver seu rosto demonstrando medo. É tão...— Parou pousando delicadamente a mão coberta por uma luva preta de couro no queixo e fingiu pensar. — Harmonioso. — Completou sorrindo em seguida. Um sorriso calculado que fez um arrepio subir pela espinha de Anny.
— Acredite, estou surpresa e em choque por saber que quem causou todos esses assassinatos foi você. Assim que saí da casa de Verônica , eu já havia ligado metade dos pontos. Mas agora faz sentido. — Anny falava tentando manter a calma. Não iria gritar. Só pioraria a situação. — Verônica largou você pela sua loucura se agravar e quando aproximou-se de Jack , seu ódio só cresceu. — Completou observando o rosto fino não emitir nenhum sentimento. — Só não entendo o porquê de matar os Albuquerques . E o motivo de colocar a culpa na garota Valentina.
O rosto imponente pareceu fraquejar por um segundo ao ouvir o nome da caçula dos Albuquerques, mas logo voltou à expressão anterior.
— O plano não era esse. Ela deveria ir comigo. Mas eles tentaram impedir. Eles...— As mãos cobertas por luvas foram até o couro cabeludo agarrando com força aquela região. A figura de preto respirou fundo retomando a calma e a postura. — Eles mereceram.
— Ninguém merece morrer. Você não determina isso. — Anny tentava persuadir aquele ser perturbado.
Sabia que aquela pessoa era claramente louca. A sociopatia. Porém a firmeza e a certeza que aquele ser humano demonstrava seus motivos era irreal. Para essa pessoa, tudo o que ela fez contra aquelas pessoas estava certo.
— EU DETERMINO! — Esbravejou chutando um dos móveis. — EU DETERMINO QUE AQUELES SERES IMBECIS TIVERAM O QUE MERECERAM...VALENTINA É MINHA...— Parou um segundo enquanto colocava a cabeça no lugar. Passou as mãos pelos cabelos arrumando-os.
— Sua...? — Anny arqueou as sobrancelhas esperando uma resposta.
— Não interessa. — Foi aproximando-se da mulher sentada no chão frio e lhe estendeu o celular. — Ligue para alguém que conhece e diga que está bem. — Ordenou friamente. — Uma palavra sequer que não seja para comunicar isso, e a morte vai ser pouco perto do que irei fazer. — Alertou puxando uma cadeira para sentar-se.
Anny não teve escolha. Trabalhou por anos com assassinos e psicopatas. E agora estava nas mãos de uma pessoa calculista e bastante astuta. Discou o número da sua assistente e na primeira chamada, pôde ouvir a voz de Becky soando preocupada.
— Becky...Sim...estou bem...Sim, meu carro bateu em uma árvore e fui até o hospital fazer uns exames, terei que ficar ausente por um tempo...Não, querida, não foi nada demais. Não vá para minha casa, preciso descansar...Apenas comunique isso para a equipe. Tenho que desligar. — Falou o mais calma que conseguiu e finalizou a chamada, entregando o celular para o ser à sua frente.
— Ótimo. Agora preciso realmente ir. — Levantou-se e caminhou em direção à escada que levava ao andar superior.
— Espere. Antes de ir...O que irá fazer comigo? — Perguntou com certo receio.
— Não posso matar a senhorita. O cheiro ocuparia toda a casa, e preciso dela em perfeita ordem. Não se preocupe, terá alguns dias viva. Aproveite. — Sorriu secamente e subiu as escadas, trancando a porta logo em seguida.
Anny só conseguiu chorar e rezar baixinho para que consiguisse continuar viva naquele local.
...
Após o jantar, todos foram para a sala, com exceção de Valentina que sentiu uma forte dor de cabeça e uma angústia no peito e pediu licença alegando que precisava tomar um banho. Foi o mais calma possível para não preocupar os Campos , e principalmente Luiza .
Tomou uma ducha fria achando que tanto a dor, quanto a sensação ruim passariam, mas para o seu azar, só aumentou.
Após secar-se e se vestir, saiu do banheiro dando de cara com Luiza .
— Ei, você demorou. Está tudo bem? — Questionou enquanto afagava o rosto da menor.
— Eu estou bem. Só fiquei pensando durante o banho e perdi a noção do tempo. — Respirou fundo enquanto fechava os olhos sentindo o carinho da morena.
— Eu vou tomar banho agora, e acho bom você estar deitada na minha cama quando eu sair do banheiro, porque eu sei que tem algo errado. — Declarou firme dando um selinho em Valentina e entrando no seu quarto em seguida.
A garota apenas respirou fundo. Luiza a conhecia melhor que ela mesma, e isso era adorável e intrigante.
Sua cabeça latejava mais forte a cada segundo, escutou o barulho do chuveiro no quarto da maior e decidiu tomar uma água, querendo desesperadamente se livrar daquele incômodo.
Ao descer as escadas e ver que a sala estava vazia, foi para a cozinha e pegou um copo, enchendo-o com água e bebendo o líquido, pedindo para que a dor fosse se esvaindo de sua cabeça, assim como a água ia desaparecendo do copo à medida que ia bebendo.
Lavou o copo e o guardou. A dor persistia e estava decidida em ir falar com Augusto, para saber se o mesmo poderia lhe dar algum remédio, quando viu a porta dos fundos novamente entreaberta.
Seu coração deu um salto dentro do peito. Uma sensação de Déjà Vu se fez presente. Aproximou-se da porta, olhando para a rua escura. Não havia baú nem algo parecido.
Todavia quando ia fechar a porta, notou uma rosa branca com um cartão colado na mesma. Ao segurá-la nas mãos, pôde ler o que estava escrito no pequeno papel retangular amarelado.

''Espero que tenha gostado do meu presente. Foi de coração, minha Val. Acho que chegou a hora de finalmente você saber de tudo, e finalmente viver do lado de quem te ama. Vá até a casa dos Albuquerques imediatamente. Não me faça esperar. Pelo seu próprio bem. Ou mais uma família morrerá.
Não demore.''

Suas mãos tremiam, e antes de processar qualquer informação, a dor latejante piorou imensuravelmente e suas pernas fraquejaram, fazendo a garota cair sentada no chão da cozinha.
Imagens aleatórias tomaram conta de sua cabeça. E como naquele sonho antes de todo o inferno começar, viu três corpos no chão sem vida. Mas diferente daquele sonho, ela pôde ver sangue por toda parte, e o rosto de Augusto , Sônia e Luiza perfeitamente nítidos em sua cabeça.
Voltou à consciência minutos depois. Lágrimas escorriam por sua face. A dor de ver o casal Campos e sua amada Luiza lhe partiram o coração, exatamente como anos atrás. Mas ver o rosto delicado e moreno sem vida...Deus! Valentina tiraria a própria vida se isso acontecesse. E não iria! Dessa vez nada de mal aconteceria. Não novamente.
Levantou enxugando o rosto e decidiu não fraquejar mais. Iria impedir essa tragédia. Não conseguiu salvar sua família, mas essas pessoas que lhe ajudaram e lhe fizeram conhecer o amor novamente ela salvaria.
Correu até o porão, entrando em seu quartinho e retirou o pijama de seu corpo, vestindo em seguida uma calça jeans, seguida de uma blusa branca de algodão, calçando tênis pondo um casaco com capuz.
Pegou um pedaço de papel e caneta e escreveu uma carta, indo o mais rápido possível para o quarto de Luiza e depositando o papel em sua cama. O chuveiro continuava ligado. Deu graças pelo ritual noturno da morena , isso evitaria que a ela tivesse uma síncope e com certeza impediria Valentina de sair.
Saiu do quarto sem fazer barulho e desceu novamente para a cozinha, passando pela porta e indo em direção à rua escura, fechando a porta dos fundos e caminhando para a casa que cresceu.
Sabia que seria tudo ou nada. Acabaria com esse assassino ou ele acabaria com si própria.
Colocou o capuz sobre a cabeça e caminhou sem olhar para trás.

Forever YoursOnde histórias criam vida. Descubra agora