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Liverpool foi legal, mas Isabel gostou da sensação de voltar a Londres

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Liverpool foi legal, mas Isabel gostou da sensação de voltar a Londres. Após tantos anos com vontade de voltar para Portugal, ela encontrou novamente a sensação de ter um lar. Quando a portuguesa abriu a porta do apartamento e viu sua cama exatamente como deixou, abriu um sorriso. Ela sentiu falta daquilo, de seja lá o que é que ela está construindo aqui.

Quando terminou de arrumar suas coisas nas gavetas e na arara, decidiu que era hora de agradar a si mesma. Por isso, ela colocou Dawson's Creek no projetor e pediu sushi, enquanto ela ficava deitada em sua cama. Esse tipo de série é seu favorito: romance e drama adolescente antigo, isso porque ela achava os novos dramas adolescentes dramáticos e idealizados demais – ou pelo menos essa é a opinião dela.

De repente, seu celular começou a tocar, porém por ser um número desconhecido, ela não atendeu. Isso aconteceu três vezes até isso começar a incomodar a mulher, que atendeu com raiva.

— Qual é a maneira mais educada de recusar uma entrevista? — Foi a primeira coisa que ouviu quando aceitou a chamada.

— João? — Perguntou abrindo um sorriso. — Hm, não sei. — Confessou confusa.

— Bom, eu sei, por isso estou ligando para você. — Ele falou e Isabel riu. — O que? Não foi uma boa ideia?

— Bom, eu não tenho nenhuma entrevista com você. — Ela falou enquanto se levantava para pegar mais pipoca. — Porque você vai recusar a entrevista de qualquer forma? — Perguntou curiosa.

— Eu não sei se você sabe, mas eu não sou muito um cara de entrevistas e esse tipo de coisa. — Ironizou o questionamento da amiga e ela riu.

Com o som da risada da mulher, um silêncio se instaurou na ligação. Isabel olhou para a sua cama e de repente estava em Lisboa, no seu quarto lilás, esperando João chegar para começar o filme. Ela sabia que, apesar de tudo, ainda havia uma parte sua desejando que tudo fosse como antes, que eles pudessem estar naquele mesmo lugar, com os mesmos sentimentos.

— João, você quer vir aqui? Assistir um filme? — Perguntou sentindo o medo de ter seu convite rejeitado – como uma verdadeira adolescente.

— Eu vou, mas apenas se assistirmos Amor, Sublime Amor. — Pediu e os dois lembraram de todas as noites assistindo Maria se apaixonar.

— Anda logo. — Mandou revirando os olhos.

Lisboa, 2016

Era o dia de formatura. Todos estavam animados, com suas becas e capelos. O de Isabel estava devidamente decorado, com strass lilás e suas iniciais em prata. Sua família inteira estava ali, reunida para ver o que seria um dos momentos mais importantes de sua vida. Além de ser uma formatura, ela faria o discurso e o juramento, então era um grande dia.

Apesar de tudo isso, ainda estava faltando algo e ela sabia exatamente o que era: João. O moreno não apareceu em sua casa para comemorarem antes, não tinha mandado mensagem para dizer onde estava e aquilo estava acabando com a garota.

Nada disso era culpa sua. Ele que a beijou, ele que segurou a mão dela depois e ele que nunca mais apareceu. Todos a perguntavam sobre o jogador nos corredores da escola, todos a olhavam curiosos, mas nem mesmo a garota que ele tinha dito ser sua alma gêmea sabia onde ele estava.

— Querida, diga a João que eu mandei parabéns! Não acredito que vocês seguraram esse segredo por tanto tempo. — Sua mãe falou, finalmente conseguindo segurar a atenção da filha por mais de 2 segundos.

— Seguramos qual segredo? — Perguntou confusa, mas dona Flor estava deslumbrada e orgulhosa demais para perceber.

— A contratação do Atlético de Madrid! — Naquele momento seu mundo parou, o que foi intensificado pela foto do moreno sorrindo em Madrid.

Depois de todo aquele tempo apoiando ele, ajudando nas provas, nas atividades, faltando as próprias coisas para ver o garoto jogar, achava que merecia no mínimo uma ligação antes de ir para outro país. As lágrimas começaram a aparecer nos olhos da morena, porém engoliu o choro e saiu para se preparar para o discurso. Ela tinha uma última coisa para fazer antes de recomeçar.

Londres, 2023

Quando viu João Félix na sua porta, um sorriso cresceu em seu rosto. Ele levantou as sacolas em sua mão e os olhos dela brilharam mais ainda. O jogador a conhecia bem demais para alguém que não falava com ela há anos.

— Eu esqueci de perguntar se você queria algo, então eu só comprei o que a gente costumava comer. — Deu de ombros entrando no apartamento.

— Boa decisão. Eu não mudei tanto assim. — Sorriu colocando a pipoca para colocar no microondas, até que franziu as sobrancelhas ao ver uma tigela de frutas no meio de todo o chocolate. — E isso? — Ele olhou, tirando a atenção das fotos.

— Eu tenho um jogo essa semana. — Lembrou e ela se sentiu extremamente culpada por ter tirado o foco dele.

— Oh, você poderia ter ficado em casa para se concentrar, não precisava disso. — Falou e ele negou com a cabeça, chegando perto dela.

João chegou a esquecer como ela era preocupada com as outras pessoas, pensando sempre em todos antes de pensar nela mesma. Segundo Isabel, isso era culpa do mapa astral e ele sempre ria dela quando ouvia isso. Às vezes, no meio da noite, os dois liam o horóscopo um do outro para ver se as coisas se concretizaram no final da semana. Caso as previsões se tornassem verdade, Isabel sorria e dizia para ele que ela sempre soube. Caso as previsões não se realizassem, João sorria e dizia para ela que aquilo era baboseira. Dependia muito do dia.

— Eu não queria ficar em casa, Isa. — Deu um beijo na testa dela e pegou a tigela de frutas. — Você sabe que eu gosto de me distrair um pouco antes. Além de que o jogo é só depois de amanhã. — Se jogou na cama dela, ganhando toda a intimidade que tinham antes aos poucos.

Ela olhou para o jogador, que piscou para ela e olhou para o que estava sendo projetado. Dawson's Creek ainda estava lá, com Pacey Witter aparecendo. João olhou confuso e apertou o play no celular da jornalista, ela sabia o que isso queria dizer: não haveria Amor, Sublime Amor hoje. Quando uma série chamava a atenção de João Félix, não tinha jeito.

Foi assim que tudo mudou novamente entre eles. Os dois ficaram o resto da noite sorrindo e comentando sobre a série. João do lado direito da cama e Isabel do lado esquerdo. Apesar daquela barreira invisível incomodar um pouco o jogador, ele sabia que deveria dar tempo antes de tudo se estabelecer novamente. A consciência dele ainda estava lá, sabia que estragou a amizade deles por causa de uma ação estúpida, sabia que aquilo deveria ser consertado pelo tempo e por isso resolveu que não forçaria nada.

Ele se perdeu tanto em sua própria mente, que não tinha sequer notado que Isabel pegou no sono – como sempre fazia, desde pequena. O rosto angelical da jornalista descansava em seu próprio braço, como se nada pudesse tirar a paz dela. João sorriu de leve e pausou o episódio que estavam assistindo. Logo, ele resolveu ir para casa.

O jogador pegou as coisas que eles tinham espalhado, jogando as embalagens no lixo, os copos na pia e deixando o máximo de coisas no lugar enquanto fazia o mínimo de barulho. Quando terminou tudo, olhou para ela uma última vez antes de sair e fechou a porta do apartamento. João tinha medo de pensar demais nela novamente, porque da última vez que isso aconteceu não terminou de uma boa forma. Foi olhando para ela e aqueles olhos castanhos que ele beijou ela.

Até hoje o português não sabia dizer direito o que aconteceu na mente dele no momento em que beijou sua melhor amiga, mas sua mãe disse que aquilo era amor verdadeiro. Apesar de ser sua mãe, ele nunca acreditou nela, porque desde que eles têm 5 anos Mariana pergunta se João gosta de Isabel. Ele sempre negou e não queria ter dúvidas nisso. 

Invisible String | João FélixOnde histórias criam vida. Descubra agora