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Eram duas horas da tarde e Isabel estava finalizando as coisas para ir embora

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Eram duas horas da tarde e Isabel estava finalizando as coisas para ir embora. Era nessas horas que ela se perguntava o porquê de ter escolhido jornalismo para sua vida.

O chefe decidiu mudar os ares dela, afastando-a do eixo do Chelsea e a colocando para algo diferente. A Champions League estava chegando e o Liverpool estava se preparando para o confronto com o Real Madrid. Dois dos favoritos iriam se enfrentar e a tarefa de Isabel é ir até a cidade natal da equipe para acompanhar o time inteiro pelos próximos 3 dias.

O que estressa a portuguesa é que ela passou muito tempo concentrada na equipe de Londres. Ela passou a pré-temporada da Premier League e o início da Copa da Inglaterra focada em um só time, por isso teve de passar os últimos 7 dias estudando o Liverpool, tudo o que eles fizeram durante meses, ela aprendeu em 1 semana – isso sem contar com as 5 horas de carro para chegar até no CT da equipe.

— Eu vou ajeitar algumas coisas no carro para poder ir. — John é o câmera de Isabel para esses dias, além de um dos melhores colegas de trabalho que ela já teve.

O apartamento dela sempre ficava menor quando tinham mais pessoas, ainda mais com ela se ajustando e John ajustando os equipamentos. Eram muitas coisas num espaço pequeno e isso acaba incomodando um pouco a portuguesa, por isso, quando ele foi embora – mesmo que apenas por alguns minutos –, a jornalista suspirou aliviada.

— Você está se mudando ou algo do tipo? — Ela ouviu uma voz e rapidamente se virou, dando um sorriso logo em seguida.

— Oi, João. — A portuguesa sorriu e se apressou para dar um abraço no amigo. — O que te traz ao centro de Londres? — Perguntou surpresa.

— Eu estava passando para fazer compras e lembrei que você mencionou que morava por aqui. — Encolheu os ombros e sorriu, olhando o studio. Ele pensou que não é nada mal o que ela tem aqui.

Isabel sempre foi uma pessoa esforçada, esse era um fato nítido desde muito antes do ensino médio. As médias dela na escola sempre foram perfeitas, nunca deixava ninguém na mão, nunca falhava – e quando falhava, era como o fim do mundo. No final, ele sempre soube que sua amiga chegaria ali. De uma forma ou de outra, todos sabiam que ela iria ser bem sucedida, que conseguiria chegar em um lugar bom, um lugar que ela desenvolveria todo o seu potencial. Aparentemente, esse era o lugar.

A coincidência do lugar de sucesso para a portuguesa ser o mesmo lugar de sucesso para o jogador, era apenas um fato feliz. Os dois estavam gratos por terem se encontrado, depois de algumas dificuldades, a linha finalmente conseguia descansar novamente – uma ponta estava perto da outra, sem riscos de acabar com essa ligação no momento.

— Você construiu algo incrível aqui, Isa. — Félix deu um sorriso e pôde ver ela corando um pouco. — Mas você vai se mudar?

— Oh, não! De jeito nenhum! Vai demorar um pouco para isso acontecer, eu amo isso. — Ela negou com a cabeça. — Eu vou para Liverpool, tenho uma gravação de 3 dias por lá, por causa da Champions. — Explicou o pouco que podia.

— Você vai me trair assim e nem finge? — Ele se fingiu verdadeiramente indignado, sentando numa das banquetas do balcão da cozinha, que acabava servindo como uma mesa de jantar para a jornalista, já que a real mesa estava sempre ocupada com papéis.

— Me desculpe, porém eu prefiro ser sincera. — Isabel continuou guardando algumas últimas coisas, como calças e roupas para aparecer nos vídeos e nas transmissões ao vivo.

— Eu pensava que vocês jornalistas eram divididos por times. — O jogador franziu o cenho, sem entender bem como acontecia a divisão de quem cobria quem.

— Não é algo fixo, é apenas algo estimado, vamos dizer. — A morena colocou o cabelo para trás da orelha. — Eu posso ficar ou não com aquele time o ano inteiro. — Tentou esclarecer da melhor forma possível, mas claramente não tinha ido muito bem nessa tarefa.

Os dois ficaram em silêncio por um segundo, sem conseguir pensar no que dizer depois de tanto tempo. João continuou observando tudo, enquanto ela continuava arrumando tudo.

— Você tem mais alguma coisa? — John voltou pronto para ir embora, porém paralisou quando viu o jovem jogador sentado.

— Oh, só minha mochila, mas essa é a parte mais fácil. — Ela se virou e percebeu a situação. — John, esse é João Félix, jogador do Chelsea e um velho amigo. João, esse é John, meu amigo e câmera neste final de semana. — Sorriu e o português logo apertou a mão do loiro.

— É um prazer te conhecer. — O jogador falou simpático. — Eu acho que vou indo para não atrasar vocês. Te vejo depois, Isa. — Acenou rapidamente e saiu do apartamento.

Quando os dois entraram no carro para iniciar a viagem, John logo começou os questionamentos sobre João. Isabel nunca se deu o trabalho de dizer para alguém que conhecia João, até porque isso nunca traria coisas boas. Os dois não se falavam há anos e agora isso só levaria problemas para ela, algo que foi confirmado pelo homem.

— Sabe, se o chefe soubesse disso, ele iria pedir muitos favores depois de ficar chateado por você nunca ter falado do contato. — Esclareceu e ela deu de ombros, não era problema do chefe o que ela fazia fora do trabalho.

— Eu sei e é por isso que ele nunca vai saber. — Continuou focada na estrada.

Lisboa, 2016

O último ano de ensino médio de João e Isabela estava chegando ao fim. Esse fato assustava ela, o que viria pelo caminho, o que as mudanças fariam com os dois. Observando João de longe, ver ele cumprimentando seus amigos, sentado na arquibancada, rodeado de pessoas, fazia ter certeza de que ele ficaria bem. Por isso, sua preocupação nunca foi com ele, mas sim consigo mesma. Enquanto isso, a futura jornalista estava sentada na mesa, com papéis em sua volta, sozinha. Aquela não era exatamente a situação perfeita para estar no ensino médio, especialmente nos últimos meses.

Os olhos castanhos começaram a se encher de lágrimas, a ficha de exercício de física começou a ficar molhada e, de repente, todo o mundo parou de girar para a garota. Rapidamente, ela pegou suas coisas e foi embora desesperada. Quando chegou no jardim da escola, estava sozinha, mas não demorou muito para isso mudar.

— Ei. — Alguém a chamou e ela olhou para cima. Lá estava ele, sozinho, assim como ela. — O que aconteceu? — Sentou na grama.

— Eu estou entrando em pânico, João. — Explicou com a vontade de jogar tudo para o alto. — Eu não tenho muitos amigos, não tenho um futuro seguramente brilhante, não tenho para onde ir após isso tudo. Eu quero ir para outro país nessa situação? Como? Eu não sei como viver sozinha, eu não dei nem meu primeiro beijo ainda! — Isabel arregalava os olhos, tentando expressar o quanto tudo isso a afligia.

Todo aquele pensamento era típico de Isabel Mendes. Assim como todos os outros momentos da vida da garota, tudo era calculado e isso a esgotava, a chateava. Ela falou isso várias vezes para João e ele sempre falou que ela deveria deixar a vida levar ela, exatamente com essas palavras. Isabel nunca seguiu esse conselho, porque ela sabia que seria um desvio de caráter, algo que não é normal ela fazer e isso também acabava a chateando.

Assim, ele achou que era seu trabalho fazer essa mudança. Foi nessa linha de raciocínio, que João pegou o rosto de Isabel e o fez colidir com o seu. O primeiro beijo dela aconteceu ali, no último mês de aula, no jardim da escola, minutos antes de uma prova final e com seu melhor amigo. A experiência foi estranha para ela – por motivos óbvios –, mas no fim foi melhor do que teria sido se acontecesse com qualquer estranho. João cuidou bem dela nesse momento – assim como todos os outros em que estiveram juntos –, fez desse momento um dos momentos mais inesperados, fez desse momento um momento bom e que queria repetir outras vezes. 

Invisible String | João FélixOnde histórias criam vida. Descubra agora