— Eu estou namorando Kai Havertz. — Foi o que Isabel falou quando seu chefe perguntou o que era que ela queria dizer.
A portuguesa repassou esse momento muitas vezes em sua cabeça, em nenhum dos cenários ela terminava sorrindo e isso era preocupante. Havia um rumor entre jornalistas do mundo esportivo de que namoro com jogador de futebol seria proibido, não por causa da reputação terrível dos jogadores, mas sim porque as empresas não concordavam com aquilo.
Segundo dizem, quando se inicia um relacionamento com um jogador, as jornalistas ficam com medo – ou pena – de criticar seus namorados e o time deles, o que deixa os chefes infelizes, levando elas para situação de demissão. Isso tudo vinha de muito tempo, ou pelo menos foi o que a professora de jornalismo esportivo de Oxford falou, mas ela nunca comprovou nem viu ninguém comprovar.
Era por isso que, nesse exato momento, Isabel Mendes sentia um pingo de arrependimento de ter aceitado o pedido de namoro. Quer dizer, um namoro – que ela não sabia se passaria disso – vale a pena tudo isso? Vale a pena sua independência, seu emprego dos sonhos e tudo o que ela trabalhou para conquistar? Agora que ela parou para pensar, a resposta era óbvia, mas já não havia tempo.
Além de tudo isso, é claro, havia também o lado que o chefe dela foi incrível com a portuguesa durante todo o tempo em que passou no ESPN. O nome dele é Daniel, um homem jovem, chegando na casa dos 40. Diz ele que, assim que Isabel pisou os pés na sede para fazer a entrevista de emprego, sabia que ela era a pessoa certa. Ela ainda era uma estudante de jornalismo, tinha recebido uma indicação da professora de jornalismo esportivo – a mesma que falou sobre a lenda do namoro – e estava absurdamente feliz pela oportunidade, que foi agarrada com força.
— O jogador do Arsenal? — Daniel sentou em sua cadeira, suspirando com a notícia. Isabel apenas concordou com a cabeça. — Tudo bem. — Foi tudo o que ele falou.
A portuguesa levantou a cabeça pela primeira vez desde que chegou na sala. Era só isso? Nada do que ela imaginou seria concretizado?
— Tudo bem? — Isabel perguntou para confirmar.
— Sim. — Ele confirmou confuso. — Não perca sua essência, não pare de criticar o Arsenal quando for preciso, não perca a profissionalidade quando estiverem em frente às câmeras, não reclame quando você estiver trabalhando com um time rival do Arsenal. Você não vai ser demitida por gostar de alguém. — Deu de ombros, chegando mais perto da mesa e começando a trabalhar no computador. Ela sabia o que aquilo significava: estava na hora de agradecer e sair.
— Ok. Te vejo amanhã. — A portuguesa foi se dirigindo à saída.
— Isabel? — Daniel chamou. — Não me decepcione. — Pediu, ela confirmou com a cabeça e saiu.
Assim que chegou no estacionamento, deu um dos maiores sorrisos da vida. Um sorriso de felicidade e de alívio. Entrou no carro apressada para ir embora e aproveitar suas últimas horas de férias, agora sem sua mãe lá – que já tinha voltado para Lisboa. Respirando normalmente, agora, a portuguesa queria passar o resto do dia em casa, apenas organizando suas coisas.
Apesar disso, nem sempre as coisas iam do jeito que ela queria. O que era o seu caso hoje. Quando entrou no corredor do seu apartamento, Isabel viu João Félix em frente à sua porta. A jornalista respirou fundo, pensando em voltar para o seu carro e ir dirigir pela cidade, mas no fim decidiu encarar.
— João. — Isabel chamou o jogador, que rapidamente virou para encarar sua amiga de infância.
— Oi, Isa. — Ele parecia mais tímido que o costume. — Desculpa aparecer sem aviso de novo. Eu queria conversar.
A portuguesa não respondeu, só abriu a porta e deu espaço para que ele entrasse. Parecia que todas as vezes que eles se encontravam, nada de bom saía daquilo e ela estava cansada disso. A energia dela parecia estar sendo sugada sempre que essa frase saía da boca de João Félix.
Lisboa, 2017
— Isa, eu quero conversar com você. — João falou antes de abrir a porta do quarto de sua melhor amiga.
Os dois não eram de brigar muito, eles sempre resolviam seus problemas na hora, nunca levavam nada para casa – eles achavam perda de tempo. Sempre foi assim, mas tinham algumas coisas que os dois não sabiam entre si e isso chegava a incomodar algumas vezes. Especialmente agora, pois os segredos pareciam estar mais presentes na relação dos dois.
— Desculpa. Não era a minha intenção ficar com ela. — O jogador afirmou fechando a porta e ela soltou uma risada irônica.
— Você acha que esse é o problema, João? — Perguntou incrédula. — Você fica com quem você bem entender. O problema é você não me contar. Quando paramos de contar tudo um ao outro? Quando paramos de ser melhores amigos? — Aquilo atingiu o menino de forma devastadora.
— Nunca paramos de sermos melhores amigos. Nunca vamos fazer isso. — O moreno confirmou com todas as forças. — Eu só cometi um erro.
Londres, 2023
— Eu sinto que não estamos chegando a lugar nenhum, Isa. — Félix falou e ela olhou confusa, sem saber do que ele estava falando.
— E onde deveríamos chegar? — Isabel perguntou deixando a chave no balcão da cozinha e se sentando em uma banqueta.
— Porra, Isabel. — Essa foi uma das únicas vezes que ela escutou um palavrão saindo da boca dele. — Eu sinto sua falta como ninguém, eu estou tentando recuperar nossa amizade e você não está nem ligando para o meu esforço. — Desabafou de vez.
Geralmente, falas como aquela vinham dela, mas dessa vez ela não tinha a mínima intenção de fazer isso. Em seu ponto de vista, a amizade dos dois tinha ficado no passado. Eles já haviam tentado reatar a relação, mas foi uma situação constrangedora aparecer e não se falaram mais. A pergunta interna era se aquilo valia a pena mesmo.
— Me desculpa, João. — Deu de ombros sem saber muito o que dizer. — Eu só não fazia ideia de que você estava sequer tentando. — Os dois ficaram em silêncio.
Respirando fundo, João imaginou se estava cometendo um erro. Vendo Isabel ali em sua própria casa, parecendo deslocada, ele pensou que talvez não devesse ter feito isso. Talvez fosse só apego ao passado e o jogador estivesse apenas forçando aquela relação, mas a verdade é que ele não conseguiu aceitar que uma amizade duradoura podia apenas acabar daquele jeito.
Os dois tinham sido melhores amigos por 16 anos, literalmente desde de que Isabel Mendes veio ao mundo e ele tinha acabado com aquilo por puro egoísmo. João pensou que era sua obrigação tentar voltar aos eixos.
— Vem cá. — Ele abriu os braços e ela aceitou o carinho de bom grado.
Os braços do português ao seu redor lhe davam sensação de lar. Apesar de não ser igual aos tempos em que eram melhores amigos, ela sabia que provavelmente nunca iriam voltar a ser como eram e queria apenas aproveitar que ele estava de volta.
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Invisible String | João Félix
Fanfiction[Invisible String]: Não é tão lindo pensar que durante todo esse tempo havia uma linha invisível ligando você a mim?