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Batendo na porta de Kai, Isabel conseguia ver que ela estava sendo egoísta, ela tinha plena consciência de que estava sendo uma babaca. Apesar de tudo isso, ela bateu na porta de seu ex-namorado, porque sentia que devia uma explicação sobre tudo. O alemão sabia quem estava ali, ele sabia que ela viria, porque já conhecia muito sobre a Mendes.

— Oi. — Kai abriu a porta por vontade própria, porque ele queria uma explicação.

— Oi. — Isabel soltou um suspiro de alívio, surpresa e feliz por ele ter aberto. — Eu sinto muito por tudo, a gente pode conversar? — Ela perguntou e recebeu espaço para entrar na casa.

A jornalista repassou todo o discurso em sua cabeça um milhão de vezes, mas agora não sabia se conseguia reproduzir o que havia planejado, com o alemão na sua frente tudo se tornava mais difícil. Harvertz é uma pessoa com um coração enorme e especial, ela não conseguia entender o motivo dela não o deixar entrar por completo em seu coração. Isabel se sentia a pior pessoa do mundo.

— Eu era apaixonada por João, mas isso foi muito antes, de verdade. — Começou a explicar tudo. — Nós dois éramos melhores amigos na infância e adolescência, ele me beijou uma vez e depois foi embora, sem explicação nenhuma. Quando ele veio me procurar, todos esses sentimentos tinham ido embora. Mas... ele foi cativando esse sentimento de volta, até que chegou você. — Confessou e olhou nos olhos de Kai pela primeira vez. — Eu não sou apaixonada por João mais e eu não te traí, eu só menti porque achei que você não iria gostar de me ver com outro, mesmo que ele fosse apenas meu amigo. — Ela terminou de falar e se animou quando viu um sorriso no rosto dele.

— Não é possível que isso aconteça comigo mais de uma vez. — Colocou seu rosto em suas mãos, querendo desaparecer da face da Terra. — Primeiro com Maya, agora com você. Chega.

Kai se sentia a pessoa mais idiota do mundo, porque ele já havia percebido que Isabel amava João e ignorou o fato, pensando que poderia mudar essa realidade, mas não. Lá estava ele, sendo apenas uma ponte para que a portuguesa percebesse que ela ama outra pessoa. Como pôde ser tão ingênuo? O coração dele doía, sabendo que deveria orientá-la para o que realmente vai fazer ela feliz.

— Você não pode ser tão estúpida, Isabel. — Ele respirou fundo. — Ontem você não conseguiu falar tudo isso para mim. Você teve que planejar tudo para chegarmos aqui. Você ama João e nada vai mudar isso, nem mesmo minha vontade de ficar com você. Vai embora, por favor. E vai direto nele, é melhor do que ficar repassando isso na sua cabeça.

O alemão entrou em seu quarto, deixando a portuguesa paralisada. Kai sentia o gosto amargo na boca, ainda pensando em como ele tinha chegado nessa situação. Com lágrimas descendo pelo seu rosto, ele se arrependeu instantaneamente de ter falado com Isabel no supermercado e de ter se entregado da forma que fez. Ele amava ela, amava muito mais do que ela jamais o amaria.

Isabel se levantou do sofá e foi até seu carro, sem entender o que seu ex-namorado quis dizer. Ao mesmo tempo, ela sabia exatamente o que o alemão quis dizer. No fundo do seu coração, a jornalista sabia que João Félix e ela tinham uma conexão inigualável, especialmente depois do primeiro beijo na adolescência. Mas não queria aceitar isso, não queria ir até ele. Isabel se recusou a seguir o conselho do alemão e seguiu seu caminho até o apartamento.

A portuguesa sentia muito pelo o que tinha feito, mais do que qualquer um poderia imaginar. Às vezes, apenas depois do acontecido conseguimos olhar as coisas com mais clareza. Foi o que aconteceu nessa situação. Só agora, chegando em casa, Isabel Mendes conseguia perceber como foi uma completa idiota.

Quando viu João na coletiva, todas as memórias voltaram. O beijo, as noites juntos, a decepção ao saber que ele tinha ido embora. Tudo isso estava vívido na mente dela, as emoções afloraram novamente. A tentativa de separar o passado do presente foi falha, porque, no final, ela percebeu que estava tudo interligado. Apesar de estarem em momentos diferentes, Isabel agora entendia que eles eram as mesmas pessoas.

João Félix ainda era o mesmo menino que cresceu em Lisboa, que passava horas e horas conversando com ela, que lhe deu seu primeiro beijo, que a protegia com todos os recursos que tinha ao seu dispor. Apesar da fama, apesar do apartamento luxuoso, ele continuava sendo a mesma pessoa que sempre foi.

Enquanto ela ainda era a mesma garota que tinha medo de se envolver, focada no seu futuro e que tinha medo de se arriscar, mesmo que fosse com alguém que já conhecia. No fim, os dois eram apenas os mesmos dois melhores amigos que se amam como algo além de amizade, mas têm medo demais para admitir qualquer uma dessas coisas. Ali, naquele corredor, em um cenário totalmente diferente do que viveram a maioria de seu tempo juntos, eles finalmente entenderam isso.

— Eu terminei com ele. — Isabel informou, vendo João olhar ela com expectativa. — Na verdade, ele terminou comigo. Ele disse que eu amo você.

— Ele está certo? — Ele não pôde evitar a pergunta.

— Foi por isso que você estava me evitando? — Ela não estava disposta a responder isso agora.

— Foi sim. — Olhou para o chão. — Eu tenho medo dos meus sentimentos por você, Isabel. Desde antes, eles são... grandes, fortes e confusos. Eles podem trazer coisas incríveis e podem trazer um caos para nossa amizade. Foi por isso que fui embora sem te dizer nada, em Portugal. Depois do nosso beijo eu tive medo de não conseguir me segurar e te dizer tudo, fiquei com medo de fazer de tudo para ficar com você, fiquei com medo de desistir do meu futuro para viver o que poderia ter sido o nosso futuro.

— E o que você está fazendo aqui, João? — Isabel cruzou os braços e franziu a testa.

— Eu estou aqui porque nada disso importa mais, Isabel. — Confessou, soltando uma risada nasal. — Eu te amo, porra. E não importa o quanto eu fuja disso, eu sei que vou acabar voltando direto para você. Eu não consigo pensar em outra pessoa com a mesma intensidade que eu penso em você, eu não consigo amar outra pessoa, contar tudo a outra pessoa. Não dá. Eu estou aqui para te pedir para ficar comigo.

Os olhos castanhos da portuguesa encararam o dele com um amor inevitável. De repente, tudo na vida dela fez sentido e foi como se o destino estivesse provando a sua existência para os dois.

— Eu te amo, João.

Invisible String | João FélixOnde histórias criam vida. Descubra agora