ALPHA • Tetralogia Lupina

P R Ó L O G O

Há aproximadamente oito meses atrás, um rapaz jovem se mudou para uma pequena cidade chamada Vysotsky, na Rússia.

Cercado por vizinhos amigáveis, em uma casa discreta com um toque de um ambiente acolhedor, um garoto de sete anos brincava solitariamente no amplo jardim que pertencia à sua casa. No pátio que abrigava a residência, Harumi Saito estava ocupado se dedicando à tarefa de preparar o jantar.

Há aproximadamente oito meses atrás, ocorreu um acidente grave que fez com que Harumi perdesse a metade de sua memória, sendo esse o último encontro com Kotaro. Segundo os médicos, ele mencionava o nome de seu amado alfa todos os dias em que estava hospitalizado, mesmo estando inconsciente.

Devido à perda de parte de sua memória, Harumi foi encaminhado para uma residência localizada em uma região afastada de todos, tanto em termos de cidade quanto de país. Ele, que experimentou eventos horríveis que destruíram seu passado, necessitava reconstruir e formar novas lembranças, longe do Japão.

O lobo que era mais comunicativo, optou por se afastar temporariamente e declarou que só retornaria quando o alfa voltasse para ele.

— Já se completaram oito meses.... Quando poderei encontrá-lo novamente? - Ele estava completamente desatento, enquanto contemplava uma panela de arroz, questionando-se.

Após desligar o fogo enquanto preparava o arroz, Harumi fechou a tampa da panela e suspirou longamente. Sentindo uma leve coceira, ele tocou suavemente a pequena cicatriz próxima à sua testa.

— Bem, o jantar está pronto. - Ele sorriu satisfeito. — Vou chamara o Sorata, o clima está esfriando e ele pode adoecer mais uma vez, como aconteceu na semana passada.

Após posicionar a panela no topo da mesa feita de madeira e organizar o ambiente, Harumi retirou o avental que utilizava para preservar sua roupa limpa e, antes de sair, contemplou com alívio os carrinhos duplos onde seus filhos estavam dormindo.

Quando saiu, ele presenciou o deslumbrante pôr do sol diante de sua residência e sentiu alegria ao contemplar essa cena. Observando o garoto que não estava muito longe, ele ergueu o braço e acenou.

— Sorata!!! - Com a voz alta, Harumi o chamou.

A criança de olhos azuis que estava brincando no chão de terra olhou para trás e sorriu, soltando a pá que segurava no chão. Sorata utilizou ambas as mãos para remover a quantidade excessiva de terra e se apressou na direção do ômega. Antes que conseguisse se aproximar de Harumi, ambos voltaram a atenção para a esquerda e avistaram uma fila de automóveis pretos e monótonos transitando nas vias próximas.

Harumi, cujo coração acelerava devido à angústia existencial, cedeu ao seu instinto e dominou sua natureza ômega. Chamando por Sorata mais uma vez, ele conseguiu fazer com que o garoto segurasse suas pernas.

Quando três dos veículos estacionaram em frente à residência, Harumi recuou, levando Sorata consigo. O ômega paralisou ao presenciar o homem de cabelos platinados emergir e caminhar até a porta de trás do veículo.

— Muka? Ele voltou? - Sorata ficou surpreso ao vê-lo. Quando a porta traseira foi aberta, a criança que se soltou as pernas do rapaz, correu em direção à pessoa que saiu do carro. — TIGRE!!!!! - O garoto gritava a plenos pulmões, enquanto lágrimas incessantes escorriam dos seus olhos.

Kotaro retirou o sobretudo de pele que estava suspenso em seus ombros para que pudesse segurar seu filho no colo. A emoção de poder abraçá-lo após tantos meses de estar longe não podia ser expressa em palavras, o alfa inalou com satisfação o aroma reconfortante que emanava de seu filho, o aroma característico de seu filhote de lobo.

No meio da caminhada, Kotaro parou e, com os olhos fechados, afundou a cabeça no pescoço do filho que chorava e o chamava. Quando olhou para cima e encarou o jovem, ele caminhou em sua direção. Ao se aproximar, Kotaro colocou o filho no chão e estendeu a mão em direção ao rapaz que tinha olhos de duas cores diferentes.

Parado no mesmo local, Harumi experimentou uma sensação de arrepios em seu corpo, sua voz desapareceu e seu coração acelerou tanto que ele acreditou que poderia saltar de sua boca.

— Estou em casa. - Kotaro falou com sua voz áspera.

Harumi, sem emitir palavras, utilizou suas últimas energias para descer os últimos degraus da casa. Ao se aproximar do alfa e acariciar seu rosto, finalmente pôde acreditar que o homem diante dele era de fato real e não apenas uma ilusão.

— Você... - A voz sussurrante de Harumi fizeram o alfa sorrir e, ao mesmo tempo, derramar lágrimas.

Kotaro, que havia mudado consideravelmente desde a última vez que Harumi o conheceu, fechou os olhos e apreciou intensamente o aroma que ele tanto adorava e que lhe proporcionava uma sensação de paz.

Ao sentir a cicatriz de Kotaro em seu olho esquerdo, Harumi não contém suas lágrimas. Ele não estava triste, mas sim feliz e aliviado por saber que seu alfa continuava vivo.

— Estou de volta para vocês! Honrei minha promessa e retornei para estar com minha família.

— C-como...

— Você prometeu amar-me até o meu último minuto, e eu farei o mesmo por ti meu alfa. - Kotaro repetiu as palavras que foram proferidas pelo lobo ômega oito meses atrás, antes do ocorrido. — Segundo os médicos, sua memória teria um desempenho melhor se eu não estivesse presente.

Ao ouvir tais palavras, Harumi permitiu que suas lágrimas inúmeras tocassem suavemente seu rosto enquanto sorria.

— O tigre ensinou o Haru a ser uma pessoa forte, por isso ele achou as memórias. - A criança teve sua atenção. — Eu protegi o meu papai e os meus irmãos, como o senhor me pediu, por isso também sou forte. - Sorata mostrou um sorriso enorme para o alfa.

Harumi não conseguia acreditar que aquele homem estava diante dele, mas quando sentiu seu instinto lupino se manifestar e o lobo uivar em sua mente, seu coração disparou. Instintivamente, ele segurou a mão do alfa e o conduziu até o interior da residência junto de Sorata. Avançando em direção aos carrinhos, ele secou as lágrimas e chamou Sorata, que prontamente veio em sua direção com um sorriso.

— Bem-vindo de volta, Kotaro.

O Saitō, perdendo suas forças, se ajoelhou e desabou em lágrimas. Ele jamais cogitou a possibilidade de, em algum momento, ter a oportunidade de desfrutar de uma convivência tranquila ao lado de sua família, de voltar a ver o ômega e seus filhos, e de presenciar um desfecho definitivo para a guerra entre as máfias. [...]