Capítulo 02

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JENNIE

Dezesseis anos depois...

Encaro a pira funerária do meu pai, as chamas crescendo mais a cada momento. Canções se elevam na noite, meu povo cantando até as estrelas as obras de meu pai. Das muitas batalhas sangrentas que ele lutou e venceu. De como ele fez o reino ciclope ser temido. De sua conquista de Yshrem com seu rei fraco e vizinha Alassia, cujos cidadãos baixaram os braços no momento em que ouviram o rei bárbaro virou seu olhar na direção deles. Continuamente, ouço canções dos muitos feitos de Seung-ho, alguns não inteiramente verdade, mas todas gloriosas e louvando seu nome.

Este é um momento de belas palavras em sua memória. Este é um momento para beber e elogiá-lo. Na parte da manhã, haverá reinos para governar e meu povo para liderar, mas esta noite é para ele. Pelo menos, é assim que deveria ser. Seus assessores já olham para mim com perguntas nos olhos.

E sou a única que deve dar-lhes respostas.

Esfrego a cicatriz sobre meu olho, o símbolo da minha força como guerreira. O dia que sacrifiquei meu olho para o deus Aron de Cleaver para provar que eu não precisava de dois olhos para ser uma lutadora brutal. Que uma guerreira Ciclope feroz só precisa de visão parcial para matar implacavelmente seus inimigos. É uma tradição tão antiga como o tempo entre meu povo, e me submeti voluntariamente. Esse foi o dia em que me tornei adulta, mas às vezes a cicatriz coça, mesmo que o olho se foi há muito tempo nesses dez anos.

Baixo meu tapa-olho mais uma vez e cruzo os braços, deliberadamente olhando a pira funerária do meu pai. Mantenho meu olhar focado, desafiando o embaixador de Yshrem que se esconde nas bordas da celebração a vir e exigir respostas.

Darei a ele respostas na ponta da minha lança se ele vier.

Mas o homem tem algum cérebro. Ele me dá olhares preocupados, mas não me incomoda enquanto presto homenagem ao meu pai. Celebro com os outros, levantando minha voz na canção e levantando o chifre de bebidas depois de beber em seu nome. Não bebo de todos eles, mas os foliões que celebram a vida de meu pai, guerreiros e viúvas iguais, não notam. Tudo o que sei é que eles devem gritar sua alegria das ações do meu pai para os céus para que os deuses os ouçam. Amanhã será um momento de luto, mas não esta noite. 

As horas passam, vozes ficam roucas, e os fogos escurecem. Quando a última das chamas desaparece e a celebração funerária do meu pai termina, estou cansada, mas satisfeita. Meu pai foi enviado para os deuses com grande honra.

Cansada, lanço minha capa peluda sobre meus ombros e deixo para trás os fogos fúnebres, para a maior tenda no acampamento. Agora é a minha tenda.

— Uma palavra, Rainha Jennie. — Ouço uma voz gemer atrás de mim.

Cerro os dentes. Esperava até amanhã para responder isto. Sei o que ele irá perguntar. Sei minha resposta. Sempre soube minha resposta. Mas não tenho tempo ou paciência para explicar a ele ou a qualquer outra pessoa. Claro, uma rainha não deveria ter que explicar... Mas guerreiros e diplomatas são tipos muito diferentes de pessoas. Diplomatas insistem em palavras para tudo, mesmo quando eu preferiria enfiar uma lança em suas gargantas.

Meu pai riria da minha acidez. Ele me provocaria e diria que mesmo a briga de palavras ainda é uma batalha que uma rainha deve lutar, e deve ser abordada seriamente como qualquer combate de campo de batalha. Minha garganta dói e sinto uma triste saudade que ele não está aqui, que tenho de tomar o trono após a sua morte. Daria mil bons cavalos se ele pudesse governar para sempre. Sempre quis ser rainha, é claro, mas nunca à custa dele.

Viro e olho o homem de túnica que segue atrás de mim, pergaminhos enfiados debaixo de seu braço.

— As brasas da pira funerária do meu pai ainda queimam. — Aviso ao embaixador. — Você deseja que eu acenda um novo fogo para seu funeral?

The Barbarian Love - Jennie G!pOnde histórias criam vida. Descubra agora